A tourada e os nossos rituais de desafiar o perigo
O antigo presidente da Câmara de Azambuja, Joaquim Ramos, escreveu há dias um excelente texto sobre tauromaquia no jornal Valor Local. Deixo a sugestão para a sua leitura e transcrevo uma pequena parte para incentivar tal leitura. Diz ele:
“É verdade que o toiro é a nossa fera nacional, a única que resta depois de termos chacinado há dois séculos o último urso lusitano, no Gerês. É natural que seja o toiro a materializar a nossa ideia de perigo, de vida em risco. Ninguém se lembra, quando se passeia pela Lezíria à borda do Tejo ou dorme a sesta na charneca, à sombra dum sobreiro, que lhe vai saltar em cima um leopardo ou é trucidado por um rinoceronte! Não são esses animais a nossa mitologia de perigo, é o toiro.
Por isso mesmo, nos nossos rituais de desafiar o perigo – rituais que todas as comunidades, em qualquer época e lugar, tiveram – o toiro está sempre presente. Nas esperas, nas largadas, nas vacadas que se organizam por esse país fora e nas corridas de toiros, a matriz é sempre a mesma: aquela natural tendência do homem para desafiar o perigo apenas para ver até onde é capaz de ir. É também uma característica exclusiva da espécie humana: não conheço outra que não se exponha apenas para satisfazer os seus instintos básicos”.
Não sou aficionado mas recuso alinhar do lado dos que querem o fim das touradas a todo o custo. Sou um desses homens de que fala o articulista. Não ando permanentemente a desafiar o risco mas quando me sinto em perigo sinto-me mais homem.
Jorge Mário Ferreira Cortes