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“Hoje qualquer um agarra num instrumento  e grava vídeos para a Internet”
foto DR Tiago Silvestre sonha poder voltar a pisar os palcos de Samora Correia

“Hoje qualquer um agarra num instrumento  e grava vídeos para a Internet”

Tiago Silvestre cria muitas das suas canções nas deslocações entre Samora Correia e Lisboa, onde trabalha como consultor informático, porque viver da música em Portugal é uma missão arriscada e a concorrência muita. Em entrevista a O MIRANTE, o jovem músico fala do seu novo disco, das inspirações e do seu percurso. Sonha com o regresso aos palcos e com o dia em que as pessoas valorizem mais os músicos da sua terra.

A pista surge logo em ‘Pela Estrada Fora’, o título do segundo registo de originais de Tiago Silvestre, o jovem músico de Samora Correia que escreve as suas canções entre conversas alheias daqueles com quem partilha as viagens de comboio até Lisboa. Tudo lhe serve de inspiração: os livros que leu, as músicas que ouviu, as frases soltas que saem da boca de desconhecidos. Neste disco conceptual que acaba de lançar retrata a vida de um jovem que decide trocar o certo pelo incerto e sai da sua zona de conforto para se lançar no mundo da música. É um disco cantado em português, com sonoridade pop-rock, onde não falta uma faixa com o nome da cidade onde vive.
A história que conta em doze canções não é a sua, mas não é difícil encontrar semelhanças. Tiago Silvestre não é filho de músicos mas lutou para sê-lo. O seu percurso musical começou, em 2009, como baixista dos Arcanis, uma banda de rock formada em Samora Correia. “Não sabia tocar. Um primo emprestou-me um baixo e comecei a aprender sozinho, a ouvir discos e a ver DVDs”, conta a O MIRANTE, revelando que só com a independência financeira foi estudar música, primeiro numa escola em Benavente e mais tarde na JBJazz Clube, em Lisboa.
Tiago Silvestre nasceu no Hospital de Santarém há 30 anos e os primeiros anos foram passados em Benavente, até se mudar para Samora Correia, cidade onde criou as suas memórias e onde ainda vive mesmo trabalhando em Lisboa. “Mudar-me para a capital? Não vejo porquê. Assim consigo ter o melhor de dois mundos. O tempo entre viagens é um bónus para a inspiração”, diz, acrescentando que já perdeu a conta às músicas que começa e acaba a escrever numa viagem de comboio.

Música como plano “A”
neste país é arriscado
Se o seu personagem cantado larga tudo para se fazer músico - a história até era para ser contada em livro antes de virar disco - Tiago Silvestre é mais prudente. “É difícil a música ser um plano A em Portugal”, diz, explicando que o pão que põe na mesa é comprado com o ordenado de consultor informático.
“Nos tempos em que vivemos seria demasiado arriscado”, continua, referindo-se à pandemia que fechou as portas das salas de espectáculos, mas não só. É que há outras notas desafinadas a estragar o sonho de viver de canções e melodias. Como o facto de “hoje qualquer um agarrar num instrumento e começar a gravar vídeos para pôr na Internet, o que dificulta o processo de filtrar e apostar naqueles que realmente querem fazer da música a sua vida”.

“Falta apoio aos músicos
nas suas terras”
Tiago Silvestre cresceu entre as ruas mais movimentadas da cidade ribatejana, da qual se orgulha. Foi a festas e chegou a pisar os palcos de algumas delas. E, defende, é isso que é preciso: “As terras apostarem mais na prata da casa”, para que os músicos tenham oportunidade de dar a conhecer o seu trabalho. Mas não é fácil, bastando para isso observar que há cada vez menos bandas de jovens a aparecer.
“Os músicos têm muita dificuldade em se mostrar na terra de onde são. Porque o público toma por garantido que pode ver aquele músico em qualquer lado, sem ter que pagar bilhete, ou porque simplesmente acham que aquilo que vem da terra ao lado ou de Lisboa é que é bom”, critica. Depois deixa o alerta: “E isso deita abaixo a confiança de um artista”.
O músico e cantor que não bebe álcool nem come chocolates antes dos concertos, valorizou mais as opiniões dos outros enquanto compunha ‘Stª Apolónia’, o seu primeiro disco. Quatro anos depois, não se deixa absorver em elogios, nem perde o norte depois de ouvir uma crítica negativa. O importante, vinca, “é saber ouvir, filtrar e acreditar”.

“Hoje qualquer um agarra num instrumento  e grava vídeos para a Internet”

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