“Não podemos ter o município de Abrantes como o maior empregador do concelho”
Rui Santos é vereador do PSD no município abrantino e oficial de justiça no tribunal da cidade. Nesta entrevista critica a anterior presidente da câmara, Maria do Céu Albuquerque, mas elogia o seu sucessor, Manuel Valamatos. Diz que é fundamental atrair empresas que criem muitos postos de trabalho e censura tanto investimento municipal em museus. Um depoimento em que não deixa de criticar a desunião no PSD de Abrantes, que quer liderar.
O Tribunal de Abrantes é o único do actual círculo da comarca de Santarém que não tem ar condicionado e o edifício, que na sua opinião está mal aproveitado, precisa de obras de fundo que estão prometidas há vários anos. As críticas são do vereador do PSD na Câmara de Abrantes, Rui Santos, que é oficial de justiça no Tribunal de Abrantes há duas décadas. Em entrevista a O MIRANTE, considera que Abrantes perdeu força com as secções perdidas aquando da reforma da justiça em 2014.
“Essa reforma foi feita durante um Governo PSD mas o PSD de Abrantes esteve sempre contra a proposta. Abrantes deixou de ser sede de círculo e ficou com processos cíveis e crime de menor importância. Entretanto, já recuperou, em 2017, o Juízo de Família e Menores. Reuni com diversos dirigentes nacionais do PSD e marquei a posição da concelhia de Abrantes. Quando estamos na política devemos defender primeiro os interesses locais e da região”, afirma.
Se fosse presidente de câmara, a sua prioridade seria a criação de mais empregos e investimento. Rui Santos diz que o actual presidente, Manuel Valamatos (PS), deveria tentar captar novas empresas e novos investimentos para o concelho, nomeadamente estrangeiros. Só desta forma, sublinha, o concelho pode crescer como têm crescido outras cidades do Médio Tejo. “Não podemos ter o município como o maior empregador do concelho, como acontece. Deveriam ser as empresas, porque são elas que geram dinheiro e riqueza e é isso que faz as pessoas fixarem-se cá”, adianta.
Rui Santos é um defensor de uma nova ponte sobre o Tejo, na zona para onde está projectada há vários anos, entre Abrantes e Tramagal, mas admite que não seja prioridade do Governo para os próximos anos. Concorda com a ideia de transformar o antigo mercado municipal num pavilhão multiusos. O vereador diz que as negociações do Cine-Teatro São Pedro, que está fechado há mais de dois anos, foram mal conduzidas e que Valamatos teve um papel fundamental na sua resolução.
Críticas a Céu Albuquerque e elogios a Valamatos
Rui Santos, que está no primeiro mandato como vereador na Câmara de Abrantes, sempre foi um crítico da anterior presidente do município, a socialista Maria do Céu Albuquerque, actual ministra da Agricultura, por considerar que tinha uma postura muito exibicionista. Diz que monopolizava as reuniões de câmara e os vereadores da oposição era como se não existissem. Também critica as suas opções para o concelho. “Abrantes vai ter, num curto espaço de tempo, vários museus. Não faz sentido, não somos a Capital do Museu”, crítica. O autarca defende que o município poderia ter apostado num pavilhão multiusos ou num pavilhão desportivo coberto, que fazem falta.
Na sua opinião, o campo de baseball foi uma obra megalómana que é utilizada apenas duas ou três vezes por ano, com equipas de fora de Abrantes. O autarca defende que a construção de um segundo campo de futebol sintético seria muito mais vantajosa. Considera também que o açude insuflável no rio Tejo foi um erro estratégico e foi mal construído. “Podíamos ter aproveitado o açude para fazer um mini hídrica, que é o que se está a pensar fazer agora. Teríamos poupado dinheiro”, lamenta.
Rui Santos defende que Abrantes ganhou com a entrada de Manuel Valamatos (PS) para presidente do município. Diz que a postura é totalmente diferente da sua antecessora e que este ouve os vereadores da oposição e coloca-os a par do que se vai passando. Além disso, refere que as freguesias vão ganhar com o actual presidente. “Com Maria do Céu Albuquerque as freguesias foram esquecidas. Valamatos preocupa-se com todo o concelho e já se nota que começam a arranjar-se estradas nas freguesias, o que não acontecia anteriormente”, garante.
No entanto, crítica Manuel Valamatos em relação à política fiscal. Não concorda que com as finanças da câmara estáveis não possa ser atenuada a carga de impostos sobre os munícipes. E garante que, apesar de ter uma boa relação com Manuel Valamatos, nunca aceitaria integrar a sua lista à câmara municipal. “Não estamos na política para arranjar inimigos e podem arranjar-se amigos. Com a presidência de Valamatos estreitamos relações mas isso não me leva a equacionar entrar na sua lista”, realça.
“Tentei cortar a ligação com a política mas não consegui”
Rui Santos nasceu a 1 de Junho de 1972 em Castelo Branco, onde viveu até 2005 quando se mudou definitivamente para Abrantes. Oficial de justiça, foi colocado no Tribunal de Abrantes em Setembro de 2000. A sua ligação à política começou cedo. Aos 14 anos já era militante da Juventude Social-Democrata em Castelo Branco e teve vários cargos no partido.
A sua ligação ao PSD de Abrantes começa com a candidatura de Santana-Maia Leonardo à presidência da câmara municipal, quando é convidado para integrar a lista para a assembleia municipal. Há uns anos tentou cortar com a política mas não conseguiu. “É uma paixão muito grande que nasceu comigo. É aquele prazer de poder ajudar a fazer algo pelos outros e pela comunidade onde vivemos”, reforça.
Actualmente está a tirar um curso de Solicitadoria e pondera fazer uma experiência para decidir o rumo da sua actividade profissional. Tem dois filhos, com 23 e 20 anos, e uma enteada, com 19 anos, filha da actual companheira. O neto de oito meses é o menino dos seus olhos. Nos tempos livres gosta de visitar monumentos pelo país. Vai com frequência ver o mar e é lá que recupera energias. Na juventude jogou futebol como guarda-redes e chegou a ser atleta do Benfica de Castelo Branco em juvenis. Nunca pensou se um dia voltará a viver em Castelo Branco. O que sabe é que nunca irá cortar o cordão umbilical com as cidades do seu coração.
Candidato à presidência da concelhia de um PSD desunido
Rui Santos vai ser candidato às eleições para a presidência da concelhia do PSD, quer existam mais listas ou não. As eleições devem decorrer no final de Fevereiro ou início de Março. Continua a criticar o PSD de Abrantes dizendo que não se consegue unir. “As guerras internas deveriam fazer parte do passado. O partido tem que estar acima de qualquer guerrilha interna”, lamenta. Em relação ao que se diz por Abrantes, de que a comissão política do PSD não confia no seu vereador, Rui Santos afirma que até agora não lhe foi retirada a confiança política.
O autarca diz que o seu trabalho enquanto vereador poderia ser mais activo e facilitado se houvesse uma retaguarda por parte da comissão política, apesar de salvaguardar que ambos não têm que pensar da mesma maneira. Confrontado várias vezes sobre o seu futuro político nunca confirmou se será candidato à presidência da Câmara de Abrantes em 2021.