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“Não temos de ser todos doutores ou engenheiros para sermos bem sucedidos”
José Serafim quis ser engenheiro mecânico mas acabou por estudar na escola da vida

“Não temos de ser todos doutores ou engenheiros para sermos bem sucedidos”

José Serafim, 61 anos, é gerente e vendedor na Bastos Silva, Lda., empresa de venda e assistência de automóveis da marca Renault, em Benavente. As dificuldades económicas fizeram-no saltar cedo para o mundo do trabalho, esforço que viu recompensado quando abriu a sua empresa em 1982. Hoje dá trabalho a mais de uma dezena de técnicos. Diz que falta aos políticos valorizar os que fazem crescer a economia e não pensa que seja imprescindível uma licenciatura para se ser bem sucedido na vida.

Ter subido na vida não alterou a minha maneira de ser. Considero-me uma pessoa humilde e sem manias de patrão. Arregaço as mangas e trabalho ao lado dos funcionários. Mas há quem tenha a mania que para se ser patrão basta mandar os outros trabalhar.
Não temos de ser todos doutores ou engenheiros para sermos profissionalmente bem sucedidos. Quis ser engenheiro mecânico, mas a minha universidade acabou por ser a vida. Se fosse engenheiro, se calhar hoje não estava tão bem.
Nasci em Alvaiázere mas vivo em Benavente há 40 anos. Sinto esta terra como se fosse minha. Além de ser uma zona segura agrada-me a tranquilidade da vila, apesar de ter mais movimento do que quando me mudei para cá. Vivo no campo e já não era capaz de voltar a morar num apartamento. Já diz o ditado que galinha de campo não quer capoeira. Só de imaginar sinto-me estrangulado.
Pensar na minha infância deixa-me comovido. Venho de uma família de sete irmãos e de muito parcos recursos. Faltou-me tempo para ser criança e jogar à bola. Fiz tudo precoce na vida e isso obrigou-me a amadurecer muito cedo. Comecei a trabalhar aos 10 anos, aos 14 saí de casa dos pais e fui viver para Alverca, onde consegui emprego numa oficina. O que ganhava nem dava para lavar o fato-macaco.
Sou conhecido como o Zé da Renault. Inicialmente não gostava, mas agora acho que a alcunha faz jus ao meu trabalho. São 46 anos a vestir a camisola pela marca. O meu passatempo é estar na quinta a tratar dos animais e colher os frutos das árvores que plantei. Também faço ciclismo e acho uma vergonha algumas ciclovias que se vêem por aí. Constroem-nas aos bocados para gastar os dinheiros públicos e às vezes nem cumprem com as condições mínimas de segurança.
Dar meia dúzia de passos incomoda muita gente. As pessoas só não entram com os carros para dentro dos estabelecimentos porque não podem. Mesmo aqui no stand verifico isso.
Sou benfiquista mas não discuto futebol. Sou sócio com as quotas em dia mas raramente vou ao estádio ver um jogo. Prefiro o recanto da minha casa e ficar longe de confusões. Se fosse presidente de câmara estaria mais atento ao movimento empresarial no meu concelho. Infelizmente os políticos desprezam quem impulsiona a economia do seu território e valorizam o arranjo de passeios e jardins, porque lhes interessa deixar obra feita que seja visível aos olhos das pessoas.
Tira-me do sério as pessoas que mentem com quantos dentes têm na boca. Preocupa-me como constroem mentiras para tirar benefício de situações. Mas que ninguém se esqueça que a mentira tem perna curta. A humildade é o que mais valorizo quando conheço uma pessoa. Prefiro fazer negócio com gente de poucos recursos do que com tubarões que acham que podem tudo.
Há pessoas que se puderem endividam-se até ficar com 10 por cento do rendimento do mês. Vive-se na Era do consumismo e das prestações. Hoje é mais fácil comprar um automóvel, porque é mais fácil conseguir-se financiamento. Felizmente nós, vendedores, estamos salvaguardados, mas quando comecei recebi muitos cheques pré-datados sem cobertura.
Não há melhor gastronomia do que a portuguesa. Sou um bom garfo, mas cozinheiro nem tanto. A primeira coisa que faço ao acordar é beber um copo de água morna. Geralmente acordo de bom humor apesar de dormir poucas horas.
A paixão pelos automóveis já nasceu comigo. Quando era criança metia-me dentro de carros abandonados e imaginava a viagem sem sair do lugar. Como os meus pais só tinham uma carroça puxada por um burro aqueles carros eram os únicos onde entrava.

“Não temos de ser todos doutores ou engenheiros para sermos bem sucedidos”

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