O Enterro do Galo de Alpiarça está a definhar porque os autarcas e ex-autarcas da terra são intolerantes às verrinosas críticas expostas nas quadras. Esta é a razão apontada pelo responsável pela organização do evento, João Serrano, para a cada vez menor adesão da população que acompanha o popular cortejo que se realiza anualmente na Quarta-Feira de Cinzas.
“Os políticos só pensam nas eleições e em gastar balúrdios nas festas anuais e em destruir a tradição. Tudo porque não sabem brincar e rir-se deles próprios”, diz João Serrano a O MIRANTE. O professor reformado alerta ainda que as tradições têm os dias contados se as pessoas não se preocuparem e não defenderem a sua cultura. A única nota positiva que a organização registou este ano, revelou João Serrano, foi a da participação da população a escrever quadras, com cinco munícipes a entregarem as suas quadras num envelope selado na sede d’Os Águias. “As quadras, inspiradas em situações do dia-a-dia do concelho e a nível nacional, são de maldizer, mas nós nunca queremos ofender ninguém”, afirma o ex-docente da área de economia, que organiza a iniciativa desde 2006.
Para João Serrano, o Enterro do Galo de Alpiarça é mais do que um simples evento anual, é uma tradição de décadas que todos devem agarrar com unhas e dentes, especialmente os jovens, que são o futuro do concelho. “Como podem eles participar se são ‘convidados’ a não ir ao Enterro do Galo e a preferir ir a eventos como as festas anuais de Alpiarça?”, questiona, lembrando que o evento carnavalesco remonta à época medieval e que sofre influências do teatro grego.