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“Se perdermos a calma facilmente passamos de uma pandemia a um pandemónio”
Para João Roque Dias cabe a cada um tomar medidas preventivas

“Se perdermos a calma facilmente passamos de uma pandemia a um pandemónio”

O mundo vive a primeira epidemia conjugada com as redes sociais e o alarmismo injustificado e a desinformação podem agravar uma crise que exige sentido de responsabilidade e cabeça fria a todos. A opinião é do pneumologista João Roque Dias, aposentado mas disponível para combater o Covid-19 se para tal for chamado.

João Roque Dias, pneumologista, é um dos médicos aposentados que voltará ao activo se para tal for chamado. O Governo anunciou na sexta-feira, 13 de Março, a contratação de médicos aposentados, sem sujeição aos limites de idade, como forma de garantir o estado de prontidão do Serviço Nacional da Saúde (SNS) para combater a pandemia de Covid-19.
O clínico, de 72 anos, reformado do SNS mas a dar consultas uma vez por semana no Hospital da CUF, mostra-se disponível para voltar a integrar a equipa do Hospital Distrital de Santarém. “Estão actualmente quatro pneumologistas nesse hospital, um número que pode parecer elevado mas que é insuficiente face às tarefas que têm que desempenhar diariamente como exames, consultas externas, apoio às urgências… numa área de abrangência enorme”, afirma João Dias.
Sobre a crise que se vive, potenciada pela disseminação das redes sociais e da desinformação que por lá circula, o especialista é taxativo: “Se perdermos a calma e o discernimento facilmente passamos de uma pandemia a um pandemónio”, diz-nos o clínico citando Filipe Froes, coordenador da secção de infecção da Sociedade Portuguesa de Pneumologia e conselheiro do Conselho Nacional de Saúde Pública.
Tal como nos incêndios, diz o pneumologista, cabe a cada um tomar medidas para evitar o fogo. “Cada um tem que se precaver, fazer a sua parte e ter cuidado. O que para nós, latinos, tal como os italianos, é difícil porque gostamos muito de abraços e beijos”, conta João Dias que não consegue explicar o porquê da loucura da corrida ao papel higiénico, adiantando no entanto uma possível solução: “estarão a reservá-lo para usar como lenços de assoar em caso de doença”?

A primeira epidemia online
As redes sociais dão palco a uma opinião pública mais interventiva, onde cada um pode exprimir-se livremente e onde “depois do incêndio toda a gente resolve”. A expressão surge depois de O MIRANTE questionar o pneumologista acerca da demora na tomada de decisões em Coruche, local confirmado de início do foco no distrito de Santarém, onde a escola em que uma aluna esteve infectada encerrou a 16 de Março e a fábrica de arroz que esteve na origem de vários casos continuou a laborar.
João Dias responde-nos que é fácil opinar depois dos acontecimentos, mas não é assim tão fácil avaliar a situação enquanto decorre. “Deve imperar o bom senso”, enfatiza, lembrando que esta é também a medida a tomar em caso de suspeita de infecção.
Entre 2002 e 2004, quando se deu o surto de SARS (Síndrome Respiratória Aguda Grave), uma doença respiratória viral, de origem zoonótica tal como o novo coronavírus, João Dias trabalhava no Hospital Distrital de Santarém e recorda que também na altura foram tempos complicados que exigiram cuidados semelhantes aos que agora se recomendam aos profissionais de saúde, como usar máscara e desinfectar as mãos com regularidade.
A grande diferença entre a SARS e o novo coronavírus, diz-nos o clínico, é que pela primeira vez temos uma “epidemia online”. No início dos anos 2000 já existiam computadores e Internet, mas não havia redes sociais e a doença não era motivo de notícia a cada minuto.

Os conselhos de quem sabe
Os sintomas a ter em atenção são simples: febre, dores de cabeça, dores musculares, tosse e falta de ar. Este último conjugado com a febre é um sinal de alerta e pode justificar uma ida ao hospital (depois de seguidas as indicações da DGS, como o telefonema para a linha SNS24).
Quem tiver apenas febre deve ficar em casa, tomar paracetamol e ficar atento à evolução dos sintomas. Não deve ir ao hospital ou centros de saúde aumentando o risco de contrair a doença, se não estiver infectado, ou de contagiar outras pessoas, caso esteja realmente infectado.

A medicina como exclusão de partes

João Roque Dias, natural de Santarém, formou-se em medicina, em 1974, na Universidade de Coimbra. Diz que optou por medicina por exclusão de partes, por não ter jeito para matemática nem para a área de letras. Fez a especialidade de pneumologia no Hospital dos Covões, ainda em Coimbra, e em 1983 foi colocado no Centro de Diagnóstico Pneumológico, antigo serviço de luta anti-tuberculose, em Santarém. Cerca de dois anos mais tarde integrou a equipa do Hospital Distrital de Santarém, onde permaneceu até 2018. Já reformado, dá actualmente uma consulta semanal no Hospital da CUF “para se entreter”, como gosta de dizer.

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