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“Foste entregue ao infinito do universo como um poema”
foto DR Elogio fúnebre de Pedro Barroso foi feito pelo filho Nuno Barroso

“Foste entregue ao infinito do universo como um poema”

Elogio fúnebre de Pedro Barroso feito pelo filho Nuno numa cerimónia reservada

O cantor e compositor Pedro Barroso, falecido a 17 de Março, foi cremado na manhã de sexta-feira, dia 20, numa cerimónia reservada a membros da família devido à restrições impostas pela Covid-19.
O elogio fúnebre foi feito pelo filho Nuno Barroso, também ele cantor e compositor, e divulgado através da sua página do Facebook, juntamente com uma fotografia do seu último adeus ao pai, da autoria do fotógrafo Joaquim Galante.
“O maior cantautor português de sempre foi entregue ao eterno! Não merecia estes tempos... nem este adeus. Os palcos vão sentir a tua falta, as pessoas também e eu vou sentir falta de ti, pai. Amo-te muito e agradeço a honra de ter sido teu filho. Os aplausos da despedida talvez mais tarde se ouçam... talvez mais tarde...”, pode ler-se numa passagem do texto.
Em data a anunciar, uma parte das cinzas de Pedro Barroso será lançada ao Tejo na zona de Almourol e outra parte depositada no Casal da Raposa, casa onde residia, em Riachos, Torres Novas.
Na parte final do texto, apresentado como um longo poema, é referida a deposição das cinzas como uma oportunidade para os seus inúmeros admiradores se poderem despedir.
“Eras um homem que preferias a lezíria à loucura desenfreada da cidade de Lisboa que te viu nascer. Riachos e o Ribatejo nossa pátria. (...) Levas, simbolicamente, as cordas da guitarra contigo e um cachecol do nosso Belenenses, para o qual fizeste hino e eu a marcha. Esta altura foi a pior para cerimónias. O nosso querido Ribatejo terá, mais tarde, a oportunidade de se despedir. (...)Portugal está mais pobre. Muito mais pobre...
De facto o processo de vida foi concluído com distinção e por isso estás de parabéns! Enriqueceste quem te conheceu com a tua voz doce, forte e melodiosa que continuará certamente a ecoar em muitos lugares. Obrigado pai. Até sempre, saudade. Do teu filho, Nuno Barroso”.
No elogio fúnebre, Nuno Barroso promete manter vivos os valores de seu pai e promete ainda cantar as suas canções. “Sempre irei honrar a tua obra e o teu legado, teus valores de humanidade, de nobreza e altivez. (...) “Viva quem canta; Cantarei; Menina dos Olhos d’Água... de agora em diante, sempre que possa irei cantá-los e relembrar!”
E foi isso mesmo que aconteceu, logo no dia seguinte. Durante a iniciativa “#ficaemcasa”, do mediotejo.net, com a participação de artistas da região, Nuno Barroso, ao piano, cantou o tema “Cantarei”. Na mesma iniciativa, o vocalista dos Quinta do Bill, Carlos Moisés, também cantou, acompanhado à viola, dois temas de Pedro Barroso: “Lutas Velhas Canto Novo”, do primeiro álbum do cantor, editado em 1976, e “Viva quem Canta”.

Textos que fizeram história

Quando Pedro Barroso cantou a Avé Maria de Shubert na igreja da Golegã

Foi há mais de vinte anos. Numa manhã de eclipse do sol Pedro Barroso cantou a Avé Maria, de Shubert, durante a cerimónia fúnebre do escultor Martins Correia. A reportagem de O MIRANTE, que aqui resumimos, saiu na edição de 18 de Agosto de 1999, com o título “O último adeus a um sonhador”.

“Com as cinzas do Mestre escultor Martins Correia numa pequena urna em frente ao altar-mor da Igreja Matriz da Golegã o cantor Pedro Barroso interpretou a Avé Maria, de Shubert, cumprindo assim um desejo expresso pelo seu amigo, falecido a 30 de Julho. Foi o momento mais emocionante do acto religioso que antecedeu, quarta-feira de manhã, dia 11, a cerimónia de deposição das cinzas do artista plástico junto à entrada do Museu com o seu nome.
À hora em que Pedro Barroso cantava, acompanhado pela pianista Mercedes Cabanach, o eclipse do sol chegava ao fim e as cores vivas da vida, de que o Mestre tanto gostava, voltavam a estar perfeitamente iluminadas.
Uma canção de Pedro Barroso com poema de Martins Correia - Paixão de apaixonados - passou no equipamento de som depois da leitura de um texto do Génesis. “No princípio Deus criou o céu e a terra...”. As palavras escritas pelo Mestre escultor também ficaram a pairar no silêncio como um desafio: “Eternos sonhadores/Renovadores/Dizei que sim/Dizei”. Na lapela do casaco do cantor uma medalha da autoria do escultor, presa num tecido vermelho vivo. Um grito de vida numa cerimónia fúnebre.
Findo o serviço religioso, do outro lado da rua, na entrada do Museu Municipal Martins Correia, Elsa Correia, filha do escultor, ajoelhou-se junto à pequena câmara subterrânea, aberta em frente à porta, e ali colocou a urna com as cinzas. A viúva, Eduarda Correia, e outros elementos da família assistiram emocionados.
Quatro trabalhadores içaram uma pesada pedra de mármore branco e aprisionaram o que restava do corpo do artista, que passou a viver eternamente, na cabeça e no coração de todos os amantes da arte e da vida. Daqueles que continuarão a trilhar os arrojados caminhos da liberdade e da paz”.

“Foste entregue ao infinito do universo como um poema”

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