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O primeiro mês do resto das nossas vidas

Barricado Manuel Serra d’Aire

Sei que o título desta crónica resulta de uma ideia batida e muitas vezes repetida ao longo das nossas vidas. Só que desta vez é mesmo a sério. O mundo mudou muito em quinze dias. Mas mesmo muito. Confinados às nossas casas, com restaurantes, bares, lupanares e outros espaços de convívio fechados resta-nos conviver com aqueles que nos são mais próximos. O que pode ser bom ou ser péssimo, dependendo da perspectiva, da criatividade ou do grau de afecto.
Imaginar o convívio entre quatro paredes com a sogra durante um ou dois meses, praticamente todo o dia, é um exercício sado-masoquista a que nem sequer me atrevo, nem desejo ao pior dos crápulas. Passar o dia a ouvir os responsos da esposa também não é agradável, mas talvez seja a forma de muitos de nós aprendermos que a roupa suja é para pôr no cesto ou que a tampa da sanita é para se levantar quando se vai fazer uma mijinha. E há a vantagem de, agora, estarmos sempre em casa a horas para o jantar…
Enfim, em cada crise há uma janela de oportunidades, como gostam de dizer os gurus da Gestão e da Economia, alguns deles especialistas em falir bancos ou em desvalorizar grandes empresas, mas sempre pagos a peso de ouro. E em alturas de crise temos de ser criativos e empreendedores. Há serviços que actualmente valem muito dinheiro. Como fornecer comida e bebida ao domicílio ou serviços sexuais a pessoas mais lúbricas.
Quando a actualidade fica capturada por um acontecimento tão brutal e omnipresente como esta pandemia a restante realidade tende a diluir-se na espuma dos dias. E problemas graves passam a parecer uma picadela de mosquito comparada com uma pisadela de elefante. É o caso da questão do aterro de Azambuja. Como o pessoal não sai à rua já nem dá pelos maus cheiros. Estamos todos à espera da nova época.
É também nestes momentos de ruptura que costumam emergir personagens marcantes, seja na política, nas artes ou até no humor. E parece-me que por cá há um forte candidato a fazer concorrência ao Ricardo Araújo Pereira. Falo do vigário de Ourém que foi para o Facebook criticar a Igreja Católica por ter suspenso as missas à porta aberta, com argumentação digna do melhor dos lendários Monty Phyton.
E não resisto a citar: “Se Jesus Cristo (…) tem poder para perdoar pecados (por mais graves que sejam), para libertar possessos, curar doentes, ressuscitar mortos, etc., será que não tem poder para nos libertar de uma pequena criatura, o coronavírus?”, perguntava o hilariante sacerdote de Ourém.
Obviamente, Jesus Cristo não o terá levado a sério. Nem tão pouco lhe respondeu, até porque não é certo que tenha conta de Facebook. Mas mais atento aos desabafos histriónicos do vigário estava o bispo da sua diocese. O prelado não apreciou a paródia e deu uma rabecada no subordinado ao ponto de lhe explicar que Jesus não é propriamente um médico ou curandeiro, embora nesta altura desse jeito que fosse.
E por aí se ficou essa divina comédia. Espero que o vigário Manuel Pedro continue a escrever o que o seu espírito criativo lhe dita (mas fechado em casa) e que não se deixe tolher pelas críticas de quem não tem espírito de humor. Porque, como diz o povo, rir é o melhor remédio…
Um abraço virtual do
Serafim das Neves

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