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Vidas suspensas no Coração do Ribatejo

Pedem-nos agora para parar. Pedem-nos agora para suspender as nossas vidas. Mas, já não estariam suspensas há muito tempo neste lado da ponte, nesta margem do rio, nesta vila branca há muito plantada à beira Tejo?
Não estariam as nossas vidas já suspensas quando encarávamos as filas incansáveis de camiões, diariamente, à passagem na ponte da Chamusca, para chegar ao nosso local de trabalho? Quando implorávamos por semáforos na Rua Direita de S. Pedro para fazer menorizar as consequências do aumento de tráfego, causado pela abertura da Resitejo, Associação de Gestão e Tratamento dos Lixos do Médio Tejo?
Não estariam as nossas vidas já suspensas quando assistíamos ao fecho, interminável, das lojas de comércio local da nossa infância? Por cá ainda ficam a loja do Fortes, a ourivesaria do Pinhal, mas até quando?
Não estarão as nossas vidas já suspensas, quando vemos os campos da Lezíria vazios de trabalhadores, de mulheres do campo, de agricultores, de vinhas? Quando vemos o mono da encerrada Adega Cooperativa que parece implodir a qualquer momento? Quando amigos nossos, que aqui nasceram e que depois de estudar, regressaram para fazer vida por cá, vendem as suas casas de sonho para ir para outro lugar, porque aqui não se passa nada?
O meu pai dizia-me há uns bons anos atrás, “filha, o grande problema de futuro da civilização será o lixo”. E agora constato que pode ser bem verdade ao sentir o cheiro nauseabundo e ao ver a velocidade dos camiões que passam perto da casa onde ele viveu desde que nasceu e onde eu agora vivo. Não estarão já as nossas vidas suspensas?
Sim, podem dizer – e os espectáculos culturais que têm vindo a ser apresentados? É verdade, e que venham muitos mais, para dar trabalho aos artistas, companhias de teatro e outros tantos saberes que floresceram por este país fora, mas agora, por via desta situação, que teimo em não chamar pelo nome, estão suspensos.
Sim, é verdade, estamos parados, mas não é de agora!
Helena Duarte Ferreira

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