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Oliveira do Mouchão em Abrantes tem mais de 3.350 anos
Orlandina Abreu e José Francisco junto à Oliveira do Mouchão

Oliveira do Mouchão em Abrantes tem mais de 3.350 anos

No Dia Mundial da Árvore O MIRANTE foi às Mouriscas, Abrantes, visitar a oliveira mais antiga do país e uma das árvores mais velhas do mundo. Orlandina Abreu e José Francisco têm casa de habitação a três dezenas de metros da árvore e contam um pouco da sua história.

Em Cascalhos, freguesia de Mouriscas, concelho de Abrantes, existe uma oliveira que tem mais de 3350 anos. É a oliveira mais antiga de Portugal e uma das árvores mais velhas do mundo. A Oliveira do Mouchão, assim designada por ter sido local onde os pescadores reuniam antes de irem pescar para a pesqueira do Mouchão, no rio Tejo, mede mais de três metros de altura e tem um perímetro de base de cerca de onze metros.
O MIRANTE chegou ao local depois de se informar no único café de Cascalhos, onde o atendimento é familiar e merece sempre dois dedos de conversa. A oliveira milenar fica a menos de cinco minutos de caminho a pé pela estrada de alcatrão.
Mesmo numa altura em que se vive o estado de emergência por causa da pandemia do coronavírus, não houve dificuldade em mobilizar Orlandina Abreu, que fomos encontrar a estender roupa no quintal da sua casa a cerca de três dezenas de metros da árvore, e que logo se mostrou muito solícita. Momentos depois juntou-se à conversa José Francisco, genro de Orlandina Abreu, que contou um pouco da história mais recente da oliveira que foi contemporânea das ocupações romana e árabe, da instauração da monarquia, da implantação da República e de muitas épocas marcantes da nossa História.
São eles os proprietários dos terrenos onde a árvore está plantada mas a árvore já é propriedade da Junta de Freguesia das Mouriscas. José Francisco explica que a Oliveira do Mouchão foi entregue, há muitas gerações, à igreja como forma de pagamento de promessa. A igreja, entretanto, ofereceu-a ou vendeu-a, não se sabe ao certo, a duas irmãs que viviam em Cascalhos. “Durante muitos anos via-as passar de burra para ir apanhar azeitonas”, conta Orlandina Abreu.
Quando a junta tomou conta da árvore fez dela um ponto turístico e de visita obrigatória. Ao longo dos últimos anos, centenas de alunos e turistas, portugueses e estrangeiros, chegam de carro ou em excursão e vão em romaria contemplar a velha árvore. Um exemplar que é um verdadeiro monumento natural e valoriza a aldeia e a sua população, embora esta seja cada vez mais reduzida.
Recentemente construíram um muro à volta da oliveira, que realça a sua beleza e permite mantê-la em boas condições. “As memórias desta oliveira são muitas”, sublinha Orlandina Abreu. “A gruta natural que se forma no tronco já serviu para todo o tipo de actividades: manjedoura para os bois, abrigo para fugir ao mau tempo, lugar para os jovens brincarem, para os amantes namorarem às escondidas e até lugar para os homens da aldeia se reunirem a jogaram as cartas”, conta José Francisco.
Mas nem sempre nos últimos anos a Oliveira do Mouchão foi estimada e valorizada como se justifica. Orlandina Abreu conta que ainda não há muitos anos esteve muito perto de ser abatida quando servia de urinol e era frequentemente alvo de actos de vandalismo. Actualmente, a população está mais atenta e a presença de turistas e de crianças em visita de estudo deu-lhe outro estatuto que tem afastado os vândalos e as pessoas que não dão valor ao património da sua terra, quando de verdade não há mais nada de interesse na aldeia, que é uma das muitas que sofre o problema da desertificação do interior.

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