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Mafalda Santos é médica e não vê os filhos há mais de 3 semanas
foto DR Mafalda Santos trabalha em turnos de 24 horas no Hospital de Santarém na primeira linha de combate à Covid-19

Mafalda Santos é médica e não vê os filhos há mais de 3 semanas

Mafalda Santos é médica e integra a equipa que trata doentes infectados com Covid-19 no Hospital Distrital de Santarém. Não vê a família desde dia 12 de Março. Faz turnos de 24 horas, dia sim, dia não. Há mais de uma dezena de profissionais de saúde no Hospital de Santarém infectados com o novo coronavírus.


Mafalda Santos é médica de Medicina Interna e Intensiva no Hospital Distrital de Santarém (HDS) e integra uma das duas equipas que tratam apenas doentes infectados com Covid-19. Tem feito turnos de 24 horas, dia sim, dia não. Um dia no hospital, um dia em casa de folga. O cansaço já se nota no seu olhar mas a médica garante que a situação no HDS está controlada. Admite no entanto que as próximas semanas podem ser muito complicadas.
A médica, de 40 anos, não vê a família desde 12 de Março. Confessa que é duro estar longe de todos, sobretudo dos dois filhos. “Na semana passada tinha planos para ver os meus filhos mas quando entrei ao serviço fui surpreendida com o primeiro doente infectado e ventilado”. Mafalda conta a O MIRANTE, em entrevista realizada através de videochamada, que tenta explicar aos filhos, de 13 e 9 anos, porque não os pode ver mas nem sempre é fácil. Os filhos estão neste momento a viver em casa dos pais.
“Até agora tenho conseguido respostas para todas as perguntas deles mas sei que há momentos em que preferiam que não fosse médica e estivesse ao pé deles. Essa sensação angustia-me mas faz parte do meu trabalho e temos que continuar a lutar”, afirma.
Desde o início do Plano de Contingência do HDS foi montada uma nova unidade com seis camas para doentes infectados com ventiladores e seis camas para doentes não Covid com necessidades de cuidados intensivos. A médica explica que estes ventiladores não vão ser suficientes e que já foram pedidos mais dez, mas não sabem quando vão ser entregues.
Mafalda Santos garante que os profissionais de saúde não se vêem como heróis e aponta o facto de nesta altura já haver muitos profissionais infectados. A 1 de Abril, dia em que decorreu esta entrevista, havia mais de dez doentes internados e três ventilados nos Cuidados Intensivos. Estes doentes com necessidade de respiração assistida têm entre 47 e 71 anos.
A médica explica ainda que fazer turnos de 24 horas num ambiente confinado e usando fatos com tantas protecções durante horas é uma prova de resistência que nunca pensou viver. “Por isso temos que nos manter em forma fisicamente e saudáveis”, realça. Ainda não faltou equipamento médico mas Mafalda Santos teme que possam estar ainda por vir os momentos mais críticos, de maior número de doentes.
“Vamos vencer a guerra contra o vírus mas não vai ficar tudo bem”
A médica decidiu cortar o cabelo rente quando foi chamada para lidar com doentes infectados com o novo coronavírus. Questionada por O MIRANTE se se sente numa guerra, Mafalda responde que é uma guerra biológica contra um vírus. Diz que vamos vencer a luta mas que não vai ficar tudo bem. “Há muitas pessoas que vão perder familiares, outras que vão ficar sem emprego e, certamente, psicologicamente esta pandemia vai afectar muita gente. Depois de vencermos o vírus os tempos vão ser muito complicados”, alerta.
Mafalda Santos refere ser muito importante que a população perceba que eles é que são os heróis ao ficarem em casa. “Quem se protege está também a salvar vidas”, sublinha. A médica afirma ainda que não tem previsões para o fim da pandemia, que os testes não são confiáveis e que os portugueses têm que continuar a seguir as notícias dos outros países onde a situação é catastrófica, como Itália e Espanha.
Quem tem sintomas não deve sair de casa. Se esses sintomas persistirem devem accionar os mecanismos normais para irem para o hospital. Pessoas com doenças respiratórias crónicas como asma, bronquite e apneia do sono devem ir às urgências se os sintomas se agravarem. Mafalda Santos confirma que se nota uma menor afluência à urgência do hospital.

“Quando decidi ser médica nunca pensei passar por uma situação destas”

Mafalda Santos tem uma irmã que é enfermeira na Suécia e também ela está na linha da frente na luta contra a Covid-19. Uma dupla preocupação para os pais de Mafalda que ficam com o coração nas mãos por não poderem ver as filhas e sabê-las em perigo. “Quando decidi ser médica nunca pensei passar por uma situação destas”, confessa, embora mantenha um discurso optimista nomeadamente quando fala com a família e com os filhos.
Adepta de exercício físico e de corridas aproveita os tempos livres para fazer desporto. Sempre que pode vai correr para o campo. Quando o tempo não o permite segue um plano de treinos dado por um amigo e faz exercícios em casa. Mafalda Santos alerta para a necessidade do corpo estar saudável, quer a nível físico quer mental. “O vírus tem mais dificuldade em fazer estragos nas pessoas saudáveis e que se alimentam de comida boa”, diz em jeito de conselho para os leitores de O MIRANTE.

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