Bombeiros improvisam protecções para enfrentar a pandemia
As corporações de bombeiros da região preparam-se como podem para lutar contra o coronavírus. Usam máscaras respiratórias de combate a incêndio e improvisam fatos de protecção individual enquanto não lhes chegam equipamentos completos e em número suficiente.
A Autoridade Nacional de Emergência e Protecção Civil (ANEPC) começou no dia 30 de Março a distribuir 30 mil máscaras às corporações de bombeiros. Uma medida que chegou atrasada depois de terem sido distribuídos kits incompletos, sem máscaras ou luvas, obrigando as corporações a improvisar meios de protecção para os seus elementos e todos aqueles a quem prestam socorro.
Na corporação de Samora Correia, os operacionais tentam proteger-se independentemente da emergência para a qual são chamados. Para isso, adaptaram as máscaras respiratórias usadas no combate a incêndios rurais, usam as luvas que armazenavam em stock e fatos de protecção individual cedidos por uma empresa privada, explica o adjunto de comando Bruno Pereira. Nenhum deste equipamento, sublinha, veio da ANEPC.
Em algumas corporações, nomeadamente na de Azambuja, adensam-se as queixas da falta de equipamento de protecção individual. De acordo com o presidente da associação, André Salema, a ANEPC entregou-lhes seis kits de protecção, que considera serem manifestamente insuficientes. Neste sentido, a direcção decidiu e informou a ANEPC que “não assumirá qualquer responsabilidade na decisão de permitir que os seus operacionais continuem a prestar serviço sem que para isso estejam devidamente protegidos”.
Nos Bombeiros Voluntários de Vila Franca de Xira, revela o comandante Elviro Passarinho, foram adaptados fatos impermeáveis usados por pintores, para se protegerem durante o transporte de casos suspeitos de infecção pelo novo coronavírus em situação de emergência.
Nos Voluntários de Santarém o equipamento de protecção individual disponível deve durar para 90 dias, estima o presidente da associação, Diamantino Duarte. “Temos contado com o apoio da câmara municipal, Comunidade Intermunicipal da Lezíria do Tejo e empresas privadas, mas é preciso que as entidades da tutela cumpram com as suas obrigações ou não teremos material para proteger os operacionais durante os próximos meses de pandemia”, salienta.
Bombeiros municipais sem apoio da ANEPC
Em Tomar o corpo de bombeiros recebeu uma comunicação da ANEPC a dizer que os bombeiros municipais não têm direito a receber equipamentos de protecção individual. Uma posição criticável, na opinião do comandante Carlos Gonçalves. “Estamos todos na mesma missão e é preciso salvaguardar os profissionais que estão na linha da frente”, diz, explicando que tem sido sobretudo a câmara e empresas privadas a fornecerem equipamentos de protecção, alguns improvisados.
Além disso, refere Carlos Gonçalves, tem sido a corporação a substituir-se ao Ministério da Saúde e a fornecer máscaras aos doentes que transportam para hemodiálise - único transporte não urgente assegurado desde que rebentou a pandemia. “Tiramos das poucas que temos para nós, para que os doentes possam ir protegidos”, afirma.
Cuidados extra com as ambulâncias
Para já são o Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) e a Cruz Vermelha a assegurar o transporte de casos confirmados de Covid-19, mas Bruno Pereira espera que os bombeiros sejam “chamados a intervir quando a escala da pandemia for maior” em Portugal. “Actualmente estas entidades já não têm capacidade de resposta e vão ter de ser os bombeiros a chegar-se à frente”, diz convicto.
Os Voluntários de Samora Correia transportaram, até à data de fecho desta edição, sete casos suspeitos de Covid-19, todos na mesma ambulância, especialmente adaptada para os proteger de um possível contágio. “A carga foi reduzida e todo o material revestido com plástico. O que se pretende é que a vítima não toque em nada”, além da maca onde é transportada, explica.