Virgínia Teles tem 78 anos, reside em Vila Chã de Ourique, Cartaxo. Tem cumprido a quarentena com o marido em casa mas diz que tem tido muito com que se entreter. “Tenho levado tudo isto com boa disposição e quando é preciso qualquer coisa sei a quem recorrer”. Os filhos residem longe mas o casal conta com a ajuda das voluntárias do movimento “Vizinhos lá da rua”.
Este grupo foi criado na rede social Facebook dias depois de ser decretado pelo Governo o Estado de Emergência devido à pandemia da Covid-19. O objectivo era simples: atenuar as consequências do isolamento entre os mais idosos. A ideia foi de Leonor Novais, 45 anos, e teve boa adesão. O grupo no Facebook tem já mais de 1.200 membros, mas nem todos são activos.
A maioria dos voluntários está em teletrabalho ou é estudante. Andam pelas ruas da vila, batem à porta dos moradores para saber se está tudo bem e se precisam de alguma coisa. Em muitos casos, pessoas com mais idade vêm até à janela e gostam mesmo é de dar dois dedos de conversa. Mas há também entregas ao domicílio. Compras de mercearia, nomeadamente legumes e pão, ou medicamentos da farmácia são os bens mais solicitados. Os voluntários levam a lista das compras, fazem o avio e entregam em mão.
A reportagem de O MIRANTE acompanhou duas voluntárias na tarde de 27 de Março. De máscaras na cara e luvas nas mãos, tinham alguns pedidos para atender, principalmente na farmácia. As ruas de Vila Chã de Ourique estão praticamente vazias. Leonor Novais explica que a grande preocupação é que ninguém se sinta excluído.
Jéssica Silvério tem 25 anos e é uma das voluntárias que tem percorrido as ruas da vila. Quase todos os dias vai buscar medicamentos e acaba por verificar que todos estão a cumprir a quarentena. “Sinto que os idosos estão sensibilizados e a população está unida para combater esta doença”, refere.
Além da ajuda de rua, o grupo “Vizinhos lá da rua” coloca diariamente na página online avisos, conselhos, notícias, contactos úteis e até vídeos com trocas de receitas e partilha de momentos para animar a população. “Foi uma ideia muito boa. Leio as coisas que publicam no Facebook, até aprendi algumas receitas e ajuda a passar o tempo”, refere Olívia Ferreira enquanto recebe à janela o pão que Jéssica tinha acabado de ir buscar.