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“Quinta-feira de Ascensão era um dia especial para mim porque não havia escola”
Joaquim dos Santos, 67 anos, natural de Benavente é campino na Ganadaria Palha

“Quinta-feira de Ascensão era um dia especial para mim porque não havia escola”

Joaquim dos Santos ia apanhar a espiga só para agradar à mãe

Acordar com o nascer do sol e ajudar a mãe a apanhar a espiga na Quinta-feira de Ascensão nos campos em Benavente. Eram três espigas de trigo, malmequeres, papoilas e um ramo de oliveira em flor para trazer sorte e fartura na mesa. O ritual, recordado aos 67 anos por Joaquim dos Santos, hoje já não se repete. Mas, confessa, nunca foi grande apreciador daquela ida ao campo. “A minha mãe pedia-me para a ajudar e eu ia, mas contrariado”, conta o campino que, já na infância, ajudava o pai a tratar do gado bravo.
O feriado municipal tinha para Joaquim dos Santos um outro significado que lhe agradava mais: não ir à escola. Afinal, admite, nunca foi grande estudante. A mala onde transportava os livros, nesse dia, não lhe pesava nas costas. “Era um alívio. Podia aproveitar o dia todo no campo”, lembra.
E é no campo onde decorreu esta conversa com O MIRANTE que se sente em casa. “Esta altura do ano é bonita de ser ver. Está tudo florido, os pássaros cantam e os animais estão gordos”, atira apontando para uns quantos bezerros, o Maioral Real da Ganadaria Palha, responsável pelo trabalho de outros três campinos, com os quais trata de 800 cabeças de gado bravo.
É das peripécias com o gado e com o cavalo que traz pela mão, o Pataludo que gosta de falar e, pela quantidade de vezes que as revive e conta, não se esquece de nenhuma. Da Ascensão não pode dizer o mesmo. “Nesta zona já não é habitual comemorar a apanha da espiga. Perdeu-se essa tradição”, diz antes de partilhar uma última vivência do feriado de Maio, ou como gosta de lhe chamar, do feriado da Primavera.
“Havia festa de São Brás, na Barrosa. Eu ia descalço por caminhos de terra batida. Os calos não me faziam diferença na altura. Tocava lá uma orquestra de música e havia comes e bebes, mas com oito anos ainda não tocava no vinho”. No lugar de São Brás continua a assinalar-se a Quinta-feira da Ascensão com a festa que Joaquim dos Santos frequentava, só que este ano, não se vai realizar devido à pandemia.

“Quinta-feira de Ascensão era um dia especial para mim porque não havia escola”

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