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Mercearias da região prosperam à conta da Covid-19
Ana Marques, de bata branca, com a equipa da Loja da Ana

Mercearias da região prosperam à conta da Covid-19

Enquanto outros negócios lutam contra a crise causada pelo novo coronavírus as mercearias de bairro mantêm-se à tona e, em algumas, o negócio até cresceu. O MIRANTE fez o avio em cinco lojas da região.

Nestes tempos de confinamento social as mercearias de bairro têm sido a escolha para muitos numa fuga às filas e aglomerados de pessoas nos hipermercados. “Aqui cruzam-se com menos pessoas enquanto fazem as suas compras, há menos risco de contágio”, refere Ilda Pereira, proprietária do Mercado da Fruta, em Castanheira do Ribatejo, antes de dar ordem de entrada a mais um cliente. “Noto que há muitos jovens a fazer compras para os avós que moram cá. Têm também vindo pessoas de Vila Franca de Xira, o que não era comum antes da pandemia”, afirma. Fazendo um balanço à facturação desde que foi decretado o primeiro estado de emergência nacional, em 18 de Março, não houve uma quebra de receitas, pelo contrário.
Na mercearia Manuel dos Calções, em Ponte Nova, Casével, concelho de Santarém, Maria Júlia Faria não tem mãos a medir para tantos clientes. Desde o início deste estado de coisas viu a clientela triplicar. Além dos clientes habituais chegam agora outros que, por viverem perto ou por quererem evitar deslocações aos hipermercados, acabam por fazer aqui o avio semanal.
Maria, de 71 anos, está à frente da mercearia sozinha desde que ficou viúva há oito anos. A loja existe desde que voltou de Moçambique com o marido depois do 25 de Abril de 1974. Eram outros tempos e não era habitual ver ali na localidade um homem de calções. Manuel trazia esse hábito de África e rapidamente ficou conhecido como Manuel dos Calções. O aumento de clientela tem para Maria um sabor agridoce. Se por um lado é bom para o negócio, por outro obriga-a a mais horas de trabalho e a uma maior exposição ao risco de contágio.
Para Ana Marques, proprietária da Loja da Ana, na Carregueira, concelho da Chamusca, os efeitos negativos da pandemia não chegaram ao seu estabelecimento. Pelo contrário, nas primeiras semanas de estado de emergência o mais difícil foi conseguir ter disponíveis produtos suficientes para a procura que existiu. Uma realidade que estabilizou, embora note diferenças no volume de vendas de alguns produtos, como o leite, a cerveja ou o vinho, que aumentaram substancialmente.

Movimento diminui no centro histórico
Se nas zonas mais rurais o cenário parece ter melhorado, quando olhamos para a capital do distrito os números são menos animadores na proporção directa com a centralidade do estabelecimento. Na mercearia Pérola do Ribatejo, no centro histórico de Santarém, os clientes vão aparecendo a conta-gotas para fazer as compras do dia.
Apesar de muita gente estar a afastar-se dos hipermercados nessa loja as quebras já ascendem aos 50 por cento. A culpa, diz o proprietário, José Wenceslau, 72 anos, é da localização no centro histórico. Com o comércio local e serviços fechados, e sem pessoas a circular nesta zona, os clientes são cada vez menos e mal compensa ter portas abertas. “Estamos abertos para apoiar a cidade e as pessoas idosas nossas clientes que aqui moram e não têm hipótese de se deslocar para lojas mais longe”, explica José Wenceslau olhando desanimado para a entrada do seu estabelecimento com 70 anos de história. 
Já mais afastada do centro histórico da cidade, a Mercearia do Sacapeito, perto do Instituto Politécnico de Santarém, tem aumentado as vendas com nova clientela que se juntou aos clientes habituais. Manuel João, proprietário do estabelecimento há três anos, anda numa roda-viva. Munido de máscara e luvas, tal como a funcionária, vai aviando compras para entregar no domicílio e recebendo alguns clientes no interior da mercearia. Só podem entrar quatro pessoas de cada vez, mas podem escolher o que pretendem levar.
Na Pérola do Ribatejo também se fazem entregas ao domicílio, mas é das poucas mercearias em que os clientes não podem entrar no estabelecimento e escolher o que levar. José Wenceslau preferiu seguir as recomendações e colocar um balcão à entrada. São as funcionárias, de máscara ou viseira e luvas, que aviam as compras e colocam nos sacos. Os clientes apenas pedem e pagam. “Até sei que há pessoas que gostam de entrar, ver e levar e que muitas acabam por só levar o essencial, mas não estou preocupado com isso. Neste momento penso num dia de cada vez”, admite.

Farinha e fermento saem cada vez mais, álcool nem vê-lo
No geral aumentou a venda dos produtos diários em todas as mercearias. Vende-se mais fruta, hortícolas e lacticínios. Houve também um aumento de venda na farinha e fermento de padeiro com cada vez mais consumidores a aventurarem-se no fabrico do próprio pão. Álcool e álcool gel estão esgotados. Manuel João promete que irá ter stock em breve na Mercearia do Sacapeito, mas é o proprietário mais optimista que encontrámos.
Maria Júlia Faria já se conformou que na Manuel dos Calções esses são artigos que não devem voltar a estar disponíveis nos próximos tempos. “Desde que isto começou talvez tenha voltado a haver no ‘Recheio’, de Torres Novas, onde me abasteço uma vez por semana, mas nunca mais o apanhei”, diz a O MIRANTE.
Ana Marques conta que da última vez que tentou comprar álcool para a Loja da Ana o fornecedor pediu-lhe mais de seis euros por frasco: “A quanto é que o ia vender?” questiona, indignada com o comportamento das empresas fornecedoras que se aproveitam da pandemia para lucrar.

José Wenceslau, proprietário da Pérola do Ribatejo
Maria Júlia Faria, dona da Manuel dos Calções
Ilda Pereira, proprietária do Mercado da Fruta
Manuel João, da Mercearia do Sacapeito
Mercearias da região prosperam à conta da Covid-19

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