Toiros de lide vão directamente para o matadouro
Algumas ganadarias já não podem vender toiros para espectáculos porque atingiram a idade máxima para serem lidados. Com o cancelamento das touradas há ganadarias em risco.
Nas ganadarias portuguesas há cerca de 2.500 toiros que não vão ser lidados devido ao cancelamento dos espectáculos tauromáquicos. Os ganadeiros vão ter que abdicar da venda dos animais para os espectáculos taurinos e enviá-los directamente para o matadouro. O regulamento tauromáquico não permite que sejam lidados toiros com mais de cinco anos. O presidente da Associação Portuguesa de Criadores de Toiros de Lide, João Santos Andrade, de Almeirim, refere que estavam previstos 45 espectáculos até final de Maio e 32 durante o mês de Junho. Estão em causa 230 espectáculos durante o ano inteiro. Se se fizer a conta a seis toiros por corrida são 1.380 animais, a que se juntam 1.200 das touradas à corda, forcão, largadas e picarias.
O ganadeiro Joaquim Grave, que foi investigador da Estação Zootécnica Nacional no Vale de Santarém, está a sentir “um murro no estômago” com consequências inimagináveis a todos os níveis. Só no caso da ganadaria Murteira Grave são 40 a 45 toiros que já não poderão ser lidados. “Custa-me horrores mandar matar toiros no matadouro sem os ver lidar. O fim para que os crio não é esse. Se os puder lidar à porta fechada no campo é isso que farei”, admite ao nosso jornal.
A situação é preocupante em termos económicos já que há ganadarias em risco de desaparecerem, como realça João Folque, da Ganadaria Palha, de Vila Franca de Xira. “As ganadarias não estão mal. O que está mal é o mercado porque não se consegue vender os toiros”, revela o ganadeiro que actualmente tem 800 reses bravas. Com 758 toiros no campo, Joaquim Grave acrescenta que se os ganadeiros não tiverem proveitos de outras produções não vão conseguir manter-se.
O cancelamento dos espectáculos por causa da pandemia está a custar dezenas de milhar de euros às empresas. No caso da ganadaria Palha a contabilização dos prejuízos vai nos 50 mil euros em custos com a alimentação dos animais e falta de proveitos com a sua venda. Com 53 toiros que não serão lidados este ano, João Folque diz que o fim destes animais vai ser o abate. “Tenho alguma esperança que as coisas melhorem e que, pelo menos se realizem os dois espectáculos marcados para Outubro, em Vila Franca de Xira”, afirma.
João Santos Andrade estima que a crise nas ganadarias vai ter consequências drásticas, com prejuízos de muitos milhões de euros. O presidente da Associação Portuguesa de Criadores de Toiros de Lide esclarece que há pelo menos 250 toiros que não podem ser lidados na próxima temporada por atingirem a idade limite. João Santos Andrade está reticente quanto ao futuro da tauromaquia depois da pandemia de Covid-19, sobretudo porque considera que o Governo não simpatiza com esta arte. João Santos Andrade está, juntamente com os outros sectores agrícolas e pecuários, a tentar obter formas de apoio do Estado.
PSD questiona ministra da Agricultura
Os deputados do PSD apresentaram um requerimento na Assembleia da República, dirigido à ministra da Agricultura, Maria do Céu Albuquerque, para que esta esclareça que apoios terão os produtores da raça brava de lide, como também de todas as raças autóctones. Os social-democratas lembram que o cancelamento dos espectáculos tauromáquicos e o excesso de oferta de carne bovina face à procura e consequente desvalorização podem levar a prejuízos muito superiores a sete milhões de euros.