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Ir à missa de carrinho e com direito a buzinar
Cerca de uma centena de crentes assistiu à missa de Pentecostes, em Alcanede, em modo 'drive in'

Ir à missa de carrinho e com direito a buzinar

A missa de Pentecostes em Alcanede decorreu em modo ‘drive in’ e contou com a presença de mais de uma centena de automóveis e respectivos ocupantes. Uma nova experiência para os fiéis em tempos de pandemia.

O altar improvisado está montado na traseira de um camião. Não faltam os candelabros com as velas, o púlpito com microfone e a aparelhagem sonora que difundirá a mensagem do padre António Vicente Gaspar. No Largo da Feira, em Alcanede, concelho de Santarém, os fiéis vão participar na primeira missa ‘drive in’ nessa paróquia, dentro dos automóveis ou junto a eles, muitos com máscaras nos rostos, porque em tempos de pandemia convém não arriscar.
A missa de Pentecostes realizada no domingo, 31 de Maio, vai seguramente ficar na história local. E por isso nada pode falhar. O padre António Vicente Gaspar, ainda sem batina, anda numa roda viva nos últimos preparativos. As irmãs Joana e Catarina Costa, que asseguram o acompanhamento musical, vão aproveitando para ensaiar. Organizam-se os jovens que vão fazer o peditório e os que têm a missão de filmar.
A paróquia de Alcanede não tem parado apesar da pandemia da Covid-19. Além da reza do terço transmitida online, no Domingo de Páscoa, em pleno período de confinamento, colocaram a imagem de Nossa Senhora em cima de uma carrinha e percorreram toda a extensa freguesia. Foram quase 200 quilómetros. “As pessoas vinham às portas e às varandas e percebi logo quanto estavam carentes”, recorda o padre. Uma acção que tocou de tal forma António Vicente Gaspar que o fez pensar em ir mais além. E foi assim que surgiu a ideia da missa ‘drive-in’.
“Isto serve para chamar a atenção para algo novo e para que não tenham medo de vir nem que seja para buzinarem um pouco, para se verem e dizerem adeus à distância e seguirem para suas casas mais reconfortados”, diz o pároco ansioso que a cerimónia comece. O profissional do som vai fazendo pequenas afinações. Mesmo sem as festas e romarias que sustentam o seu negócio não quis aceitar dinheiro pela cedência da aparelhagem que permitiu a realização da celebração.
Os carros vão chegando e estacionando à medida que os Bombeiros Voluntários de Alcanede vão dando as indicações. Todos querem ficar o mais perto possível do altar improvisado no camião emprestado pela junta de freguesia. “Posso sentar-me aqui neste banquinho da praia?”, perguntava Manuel Lopes, de 88 anos, que decidiu sair de casa para assistir à missa.

Buzinas de despedida a Nossa Senhora
Mais de uma centena de viaturas já se encontram no espaço. Enquanto uns se cumprimentam à distância, outros vão trocando dois dedos de conversa dentro dos carros. Cláudia Rodrigues está acompanhada da mãe, de 69 anos, e do filho, de oito anos. A residente em Alcanede, de 47 anos, conta que é frequentadora da igreja. Sem poder, para já, dizer se é melhor assistir a uma missa no carro do que na igreja, Cláudia garante que durante a cerimónia ninguém vai mexer no rádio nem no telemóvel.
O céu está meio encoberto e o calor da tarde já não aperta tanto. Começa a tocar a sirene da carrinha dos bombeiros. Vem aí a Nossa Senhora no tejadilho, rodeada de flores. Ouvem-se as buzinas dos carros que ocuparam praticamente todo o largo. Muitos não escondem a emoção. Carmen Pereira, de 43 anos, desfruta o momento. Acompanhada do filho de 10 anos, a residente em Alcanede confessa que não é muito assídua da igreja, mas quando pode vai. Diz que é uma iniciativa engraçada, mas também segura, já que as pessoas podem estar protegidas dentro do carro. Garantindo que o filho só trouxe o telemóvel para tirar uma fotografia para recordar admite que numa igreja a missa é diferente. “Ali tem outro sentido. Mas, atendendo ao que estamos a passar, é o que se pode arranjar”, refere.
A missa vai decorrendo ao mesmo tempo que os fiéis vão tirando fotografias ou filmando a partir dos carros. As leituras são feitas pela mãe e o pai das jovens que cantam e tocam. O ofertório é feito com todos os cuidados, com quem assiste a dar a sua oferta e a desinfectar-se logo de seguida. Para não quebrar as regras a comunhão é espiritual. Poucos foram aqueles que se ajoelharam ou trouxeram o terço. As buzinas de despedida a Nossa Senhora ouvem-se. Há quem acene com a mão, outros com lenços e com máscaras.
César Martins, de 71 anos, é acólito da paróquia. Nesse dia não está em funções porque só é possível estar um acólito no altar. Diz que prefere assistir à missa na igreja do que no carro, por ser o local mais apropriado para se estar mais concentrado.

Missas em Junho no campo de jogos
A homilia termina, mas não sem antes o padre lembrar que as missas em Junho vão realizar-se aos domingos, pelas 19h00, no campo de jogos, seguindo as recomendações da Direcção-Geral da Saúde. Pede, por isso, aos fiéis que tragam cadeiras e que respeitem o distanciamento social, sendo obrigatória a desinfecção das mãos e o uso de máscara. Se chover a missa será na igreja matriz, aí com regras mais apertadas.

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