A solidão pode ser causa de problemas mentais
Joana Mendes, psicóloga clínica, falou com O MIRANTE sobre o estado de pandemia em que vivemos e as incertezas que tomaram conta da nossa vida.
Joana Mendes, psicóloga clínica, diz que a pandemia aumentou as sensações de medo e ansiedade nas pessoas e que a solidão, a que muita gente está sujeita nestes tempos, pode originar ataques de pânico que depois levam a problemas mentais graves.
A conversa com Joana Mendes, 32 anos, decorreu no jardim das Portas-do-Sol, em Santarém, o lugar onde a psicóloga esteve no dia antes de ser decretado o Estado de Emergência. “É aqui que venho quando preciso de tempo para pensar só em mim”, confessou, para realçar a importância de cuidar da sua mente.
A maioria dos clientes que recebe actualmente em consultório apresentam sinais de desorganização, dificuldades em tomar decisões e graves alterações de humor. Comportamentos que têm um impacto muito negativo nas relações. “As pessoas não estão habituadas a passar tanto tempo juntas. Durante estes meses saltaram à vista traços de personalidade que estavam escondidos”, explica, referindo que esta condição pode levar a sensações de arrependimento ou a originar episódios de violência verbal ou física.
No caso das relações entre pais e filhos, a psicóloga assume que já esteve em consulta com progenitores que se revelaram desesperados e com falta de paciência para estarem com os seus filhos. Uma realidade que, reconhece, tem vindo a ser atenuada pelo desconfinamento.
Joana Mendes tem uma carreira curta como psicóloga mas já trabalhou o tempo suficiente para deixar aos leitores de O MIRANTE um conjunto de conselhos para quando se sentirem ansiosos ou em estado de pânico: “Usem técnicas de relaxamento muscular e de respiração. Utilizem a mente para se libertarem do medo. Escrevam em cartões frases positivas para irem lendo ao longo do dia e terão bons resultados se o problema não estiver numa fase muito adiantada”.
Casos da região analisados por Joana Mendes
Joana Mendes aceitou o desafio de O MIRANTE para analisar dois casos que têm sido notícia no nosso jornal. O pânico que a população do Arripiado tem vivido com a onda de assaltos e o ataque de cães perigosos junto do Hospital CUF Santarém cujo dono ainda não foi identificado.
“Não se pode pedir que as pessoas do Arripiado enfrentem sozinhas a situação que O MIRANTE tem noticiado. É preciso protegê-las. As forças de segurança e a autarquia são responsáveis pela segurança daquela comunidade”, afirma. Sobre o caso do ataque de dois cães de raça perigosa a duas funcionárias da CUF de Santarém, Joana Mandes admite que há aqui um processo de cura muito complicado porque as duas vítimas vão ficar marcadas para o resto da vida, ainda mais se nunca forem encontrados os cães e os donos dos animais. Ver um assunto destes resolvido na justiça ajuda a desmontar o trauma e a combater o medo, reconhece a psicóloga.
“Somos melhores psicólogos dos outros do que de nós próprios”
Joana Mendes tem um consultório privado, em Santarém, e trabalha na Câmara Municipal de Almeirim, inserida no gabinete de promoção do sucesso escolar. A psicologia sempre a fascinou. Gosta da complexidade da mente humana e de perceber o que perturba emocionalmente as pessoas. A psicoterapeuta não tem problemas em admitir que os psicólogos funcionam melhor quando analisam os outros do que quando se analisam a si próprios.
A carga emocional que recebe diariamente dos seus clientes é muito elevada. Em jeito de desabafo conta a O MIRANTE o processo terapêutico mais difícil com que teve de lidar. “Estava a acompanhar uma criança que tinha o pai com um cancro em fase terminal. Tinha perdido o meu pai uns anos antes, vítima da mesma doença. Revi-me muito naquela criança, mas consegui ajudá-la e de certa forma ela também me ajudou, porque na altura eu ainda não tinha sarado essa ferida. Tornei-me mais forte”.