Se não reduzirmos a área florestal não acabamos com os incêndios
António Louro, responsável da Protecção Civil de Mação, diz que um território repleto de árvores como o eucalipto e pinheiro representa risco acrescido, por muita prevenção e infra-estruturas que existam.
O problema dos grandes incêndios, como os que aconteceram no concelho de Mação em 2017 e 2019, só se resolve quando for possível alterar a paisagem reduzindo a área florestal. A opinião é do vice-presidente da Câmara de Mação, que é também o responsável municipal da Protecção Civil. António Louro, que está na autarquia desde 2001, considera que uma paisagem repleta de árvores, onde predominam o eucalipto e o pinheiro, não é sustentável devido ao clima mediterrânico do nosso país. O ideal, defende António Louro, é diminuir a área florestal e, de forma inteligente, saber utilizar a floresta para produzir riqueza.
“Mação nunca foi considerado exemplo pelo que fazia na floresta mas sim por aquilo que queria fazer e também pelo empenho com as coisas que fez”, afirma António Louro. O autarca recorda que em 1998 o município já tinha sapadores florestais quando nenhum concelho do país tinha. Colocaram carrinhas de vigia em pontos estratégicos. Abriram estradões para os bombeiros poderem entrar na floresta. No anos 90 do século passado, Mação criou infra-estruturas como a construção de tanques de água na floresta e de caminhos. Apesar disso não conseguiram evitar os fogos de grande magnitude em 2003. “Percebemos que tínhamos tudo o que era importante para controlar as coisas mas não resolviam nada”, recorda.
O vice-presidente afirma que o concelho levou uma grande lição com os incêndios de 2003, onde ardeu metade da área florestal do concelho. Apostaram na inovação. Desenvolveram o sistema informático com localizadores nas viaturas, o chamado Macfire, que acabou por ser alargado às regiões do Médio Tejo e Lezíria do Tejo. Começaram a limpar linhas eléctricas, actualmente uma obrigação da EDP. Perceberam que as populações precisavam de protecção e deram a 80 aldeias equipamento de auto-defesa. “Basta colocarem o equipamento em cima de uma carrinha ou tractor que ficam com um mini carro de bombeiros. Como estas pessoas estão muito isoladas precisam de estar preparadas para se defenderem quando surge um incêndio”, explica.
Mação foi sendo visto pelo resto do país como um exemplo na área florestal mas António Louro diz que o município nunca disse que tinha a solução para evitar os grandes incêndios. O exemplo dos fogos de 2017 e 2019, que devastaram 90% da área florestal do concelho, é prova disso. O autarca considera que esta é uma luta de David contra Golias que se vence através da inteligência. Por isso defende a alteração da paisagem. O que não é fácil de resolver uma vez que 75% do território de Mação pertence a pessoas que vivem na cidade e não se interessam pela limpeza dos terrenos nem pela mudança da paisagem.
“Onde há sessenta anos havia pessoas que cultivavam a terra e cabras que comiam a vegetação agora está tudo abandonado. A vegetação vai crescendo e é combustível quando vem um incêndio. E quando os fogos aparecem surgem com uma intensidade que é impossível detê-los”, admite António Louro, confessando que chegou a correr perigo de vida durante os últimos incêndios. “Na altura não se pensa nisso. Só queremos é salvar as pessoas e que se queime o mínimo de floresta possível”, sublinha.
Municípios com mais poderes
Há poucos meses o Governo tomou uma medida reivindicada há muito tempo pelos municípios. Até aqui as autarquias apenas davam parecer consultivo sobre a rearborização do território. A decisão final era do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF). Os municípios agora já podem indeferir ou não o tipo de arborização a plantar. “Agora vai ser possível conseguir controlar, aos poucos, a reflorestação do concelho. Temos mais hipóteses de alterar a paisagem de modo a torná-la sustentável e com menos probabilidades de ocorrerem grandes incêndios”, conclui.