uma parceria com o Jornal Expresso

Edição Diária >

Edição Semanal >

Assine O Mirante e receba o jornal em casa
31 anos do jornal o Mirante
Assembleia de freguesia não pode funcionar num ambiente de taberna
Rui Valadas Marques diz que a gestão CDU perdeu a oportunidade de fazer mais e melhor por Alverca

Assembleia de freguesia não pode funcionar num ambiente de taberna

Rui Valadas Marques, 39 anos, cumpre o seu primeiro mandato enquanto eleito do CDS na Assembleia de Freguesia de Alverca do Ribatejo e Sobralinho. É um homem que leva a representação a sério e que estuda a fundo os dossiês. Isso já lhe valeu algumas irritações da maioria CDU nomeadamente quando a acusou de montar “um circo soviético de propaganda pura”.

Marcámos encontro com Rui Valadas Marques no único grande jardim de Alverca, onde se falou ao ritmo do vento do novo aeroporto, dos apoios à população, dos acessos rodoviários e do trabalho dos comunistas na junta. Certezas? Que a cidade vai de mal a pior, que o cluster aeronáutico foi um falhanço e que o concelho não pode ser o quintal das traseiras da Área Metropolitana de Lisboa. Vive em Alverca e gosta dos pequenos prazeres da vida, como comprar o jornal, tomar um café e conviver com os moradores.

Quem assiste às assembleias percebe que é dos poucos que lê e domina a maior parte dos dossiês a votação. É entusiasmo de novato?

Não. Ou se faz com brio ou mais vale ficar em casa. Os eleitos devem pautar a sua postura por fazer bem e com dedicação o seu trabalho. Devem conhecer os problemas para proporem as melhores soluções. Alverca e Sobralinho estão estagnadas há muito tempo e correm o sério risco de começarem a retroceder e serem ultrapassadas pelos seus vizinhos. Perderam-se várias oportunidades nas últimas décadas, nomeadamente na aeronáutica. Falar de aeronáutica não é só lembrar a história e colocar aviões nas rotundas. O cluster falhou completamente e a câmara tem uma grande responsabilidade nisso. As OGMA podiam ser potenciadas com a parte académica, com um pólo universitário na vertente de engenharias, que agregasse outras indústrias como a agricultura e ambiente.

Criar um aeroporto na cidade resolvia o problema?

Acreditamos que um aeroporto em Alverca é uma potencialidade economicamente viável e que faz sentido. Os aviões não iam passar sobre a cidade mas sim na vertente do rio. Temos há anos aviões a passar ao lado da cidade. Podíamos aproveitar os voos domésticos, low cost e de carga. Temos toda a estrutura logística da Área Metropolitana de Lisboa (AML) nesta zona a norte, incluindo a plataforma da Castanheira do Ribatejo e os armazéns do Carregado. Precisamos desta visão abrangente e não nos fecharmos sobre nós próprios.

Alverca está doente?

Perdemos muita indústria que provavelmente já não volta. Alverca e o concelho deviam deixar de ser o quintal das traseiras da AML. Para muitos somos um quintal de servidões mas as potencialidades do nosso concelho são enormes, só temos de as saber explorar. O executivo CDU que gere a junta tem falhado em várias áreas. Não há uma estratégia nem uma política para a cultura que aproxime as pessoas das associações. É preciso dinamizar os espaços públicos, culturais e desportivos. A junta tem de melhorar a sua comunicação e anunciar melhor as suas actividades. Carlos Gonçalves perdeu uma oportunidade de fazer a diferença e mudar Alverca. Não podemos basear a gestão da junta na varrição de uma rua, cortar a relva e meter uma foto nas redes sociais. E não se pode acusar as pessoas e a câmara de todos os males. Alverca é um dormitório e tem tendência a ficar pior se as pessoas se fecharem sobre si próprias. Já percebemos que as receitas de Afonso Costa e Carlos Gonçalves não resultaram.

Revê-se na forma como muitas bancadas lutam nas assembleias?

De forma alguma. O pingue-pongue e a discussão que baixa o nível não me suscita interesse. O duelo entre as bancadas é positivo desde que construa alguma coisa. Senão é apenas a política dos decibéis de quem não tem argumentos. Não vale a pena gritar para defender uma opinião. Uma assembleia não pode funcionar num ambiente de taberna. Os partidos têm de trabalhar com seriedade, deixar o que é acessório e focarem-se no essencial. E os eleitores devem procurar estar informados. Dizer mal e destruir é muito fácil. Temos de ter esse princípio: criticar e dizer como se resolve. Quando se fala só para o soundbite, como às vezes muitos falam, a tendência é sair disparate.

Surpreendeu-o a forma como foi tratada a embrulhada do último relatório de gestão?

A CDU montou um circo soviético de propaganda pura e fora da realidade. O relatório foi apresentado com erros gritantes que deturpavam o que lá estava. Um caso flagrante foi apresentar rúbricas em que o aumento da despesa foi de 1,098 por cento quando o relatório dizia 90 por cento. O executivo depois reformulou e corrigiu. Mas, na globalidade, o investimento foi completamente negligenciado.

Como avalia a forma como a junta apoiou famílias e empresários na pandemia?

Não houve um rasgo de criatividade nos apoios. Copiaram o que estava a ser feito noutros locais. Perdeu-se uma oportunidade de estender a isenção e redução de taxas por mais tempo. Agora que as coisas vão doer a sério é que os apoios vão ser mais necessários.

Quais as prioridades a resolver nesta união de freguesias?

Três eixos. Um passa pela inovação e tecnologia, criando melhores condições para o trabalho da junta, com mais meios que automatizem tarefas e permitam ganhos de eficiência e um balcão virtual, do qual continuamos à espera. O segundo eixo é a degradação do espaço público que precisa de atenção e o terceiro a urgência de interligar associações com a população. Há populações periféricas onde nada lhes chega e que vivem longe do centro urbano e precisam de atenção, como A-dos-Potes ou A-dos-Melros. Tem-se visto muita navegação à vista na junta, gerir o mealheiro diariamente e tentar manter a fotografia o mais focada possível para não se ver os problemas que estão nas pontas…

Como é viver junto ao troço de estrada mais poluído do concelho?

A junta e a câmara devem insistir numa solução. Achamos que o nó de acesso à A1 no Sobralinho é essencial e prioritário. A proposta discutida na Assembleia da República pedia os dois novos nós de acesso à auto-estrada e isenção de portagens. Não temos nada e agora queremos tudo. Não pode ser assim. Temos de ser racionais e definir prioridades. Primeiro o nó do Sobralinho, depois o nó dos Caniços e então deve-se pensar na isenção de portagens.

Alverca a sede de concelho?

Há coisas mais importantes. Com tantos problemas sérios que as pessoas têm ninguém iria compreender se agora perdêssemos tempo a falar disso. O bairrismo das nossas gentes é uma virtude quando se está a defender o que é nosso. Mas quando se passa dos limites e se entra na agressividade aí passa a ser um defeito.

Um taurino apaixonado por andebol

Rui Valadas Marques nasceu em Évora mas desde pequeno que veio para Vialonga com os pais, onde viveu até aos 25 anos. Fez todo o seu percurso escolar em Alverca e logo que constituiu família mudou-se para a cidade, que considera ter qualidade de vida. É casado e tem um filho. É coordenador de segurança numa instituição bancária. Faz compras na cidade e gosta de ir ao centro com frequência comprar o jornal, beber um café e conviver com os moradores. Gosta de ir ao jardim com o filho mas lamenta que não haja mais parques infantis. A desonestidade tira-o do sério.
A sua modalidade favorita é o andebol, que chegou a praticar na juventude. É aficionado das corridas de toiros e teve forcados na família. O pai é militante socialista e o gosto pela política apareceu na juventude. “Lá em casa habituei-me às noites eleitorais, festival da Eurovisão e as corridas de toiros na TV”, diz com um sorriso. Diz que se alinhou ao CDS depois de muita leitura. É filiado no partido há onze anos.

Assembleia de freguesia não pode funcionar num ambiente de taberna

Mais Notícias

    A carregar...

    Capas

    Assine O MIRANTE e receba o Jornal em casa
    Clique para fazer o pedido