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Maria do Castelo nunca casou e dedica a vida à padroeira de Coruche 
Maria do Castelo é um rosto conhecido em Coruche

Maria do Castelo nunca casou e dedica a vida à padroeira de Coruche 

A aia de Nossa Senhora do Castelo diz que não é de fazer pedidos nem promessas à santa mas acredita em milagres.


Há quase 40 anos que se dedica à igreja e entregou o coração a Nossa Senhora do Castelo, padroeira de Coruche. Aliás, o seu nome, atribuído com simbolismo pelos pais, já prenunciava isso mesmo. Maria do Castelo não é nome único em Coruche, muitas raparigas da sua geração o receberam no baptismo. Mais tarde seria proibido pelo registo civil. Tem 72 anos e desde o ano passado que foi nomeada aia de Nossa Senhora do Castelo, sucedendo a Margarida Correia Gomes, que exerceu estas funções durante 37 anos.
Maria do Castelo Lamarosa foi o braço direito da anterior aia e sempre ambicionou chegar a este posto. Para ela é uma honra ser a pessoa que tem por missão pegar na imagem de Nossa Senhora do Castelo, mudar-lhe as vestes, fazer toda a manutenção necessária, bem como do altar e do andor que ocupa quando sai em procissão. Sempre que toca na imagem da santa é como se sentisse uma bênção ao ponto do coração acelerar e muitas vezes emocionar-se.
Maria do Castelo nunca casou. A dedicação à profissão, primeiro como costureira e depois como funcionária pública numa escola de Coruche durante largos anos, e a dedicação à santa padroeira do concelho fez com que seja peremptória ao garantir que nunca sentiu necessidade de ter uma companhia masculina a seu lado. Não ter tido filhos é a única parte que lamenta.
“Tenho pena de não ter tido filhos, mas sempre vivi rodeada de crianças na escola que me preencheram este vazio. Não casei porque nunca aconteceu. Nunca me apaixonei ao ponto de despertar em mim essa vontade por isso vivi e vivo a vida à minha maneira”, conta entre risos à nossa reportagem no miradouro da Igreja de Nossa Senhora do Castelo enquanto olha para os campos de Coruche.
Além de solteira foi filha única. Os pais tiveram um filho, que nasceu morto e prometeram a Nossa Senhora do Castelo que se conseguissem ter mais filhos, nomeadamente uma rapariga, lhe colocariam o nome de Maria do Castelo. O que acabou por acontecer traçando, misticamente, a vida de Maria do Castelo Lamarosa.

Não faz promessas mas acredita em milagres
Maria do Castelo diz que não é de fazer pedidos e muito menos promessas à santa padroeira. Gosta mais de agradecer todos os dias pela vida que tem. Sem qualquer promessa, durante um ano inteiro ia a pé, de sua casa, na vila de Coruche, até à igreja apenas para mostrar essa gratidão. Diz que já viu vários acontecimentos que defende terem sido milagres de Nossa Senhora do Castelo. Recorda o caso de uma mulher, natural de Almeirim, que se terá curado de uma doença oncológica depois de ter feito uma promessa à santa padroeira de Coruche. Desde há muitos anos é presença assídua na procissão que faz de joelhos.
Apesar de não pedir milagres à santa Maria do Castelo diz que foram várias as vezes que sentiu a sua presença. “Sinto logo quando ela me quer transmitir alguma coisa. Uma vez tinha uma viagem de avião para fazer e como tenho pânico a voar ainda ponderei não ir. Pedi à santa que me desse um sinal. Nesse dia vim ao depósito das velas para ajudar uma senhora e caiu-me uma vela em cima que me incendiou a blusa e o cabelo, mas não sofri queimaduras. Senti logo que tinha sido uma resposta dela”, conta. Outro episódio em que se lembra de sentir a presença de Nossa Senhora do Castelo foi quando teve um acidente de viação de onde saiu sem um arranhão.
Maria do Castelo vive sozinha. Todos os dias pelas 06h00 está levantada e pronta para fazer a caminhada diária. De tanto lidar com jovens diz ter uma mente aberta, com alguns limites, claro está.
Não é de passar os dias na igreja. Vai à missa aos sábados, faz as suas orações e pouco mais. Como aia de Nossa Senhora do Castelo tem como obrigação estar presente em todas as movimentações que se fazem da imagem da santa. E, nestes casos, há uma particularidade: os homens não podem estar presentes. Além desta função de guarda da imagem da santa, a aia tem ainda como missão lavar todas as toalhas e vestes do padre e acólitos, bem como de enfeitar o altar e o andor. Nem sempre é fácil ter imaginação para decorar um andor, mas quando se chega ao fim sente um enorme orgulho e até vaidade.

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