“Governantes ainda não estão sensibilizados para os direitos dos animais”
Vanda Domingos tem 39 anos, é veterinária e desde 2013 que é proprietária da clínica We Care, localizada perto da entrada principal do W Shopping, em Santarém. Natural da cidade, o contacto com o campo foi sempre uma realidade e o gosto pelos animais surge como consequência. Os gatos são os seus preferidos. A veterinária tem uma pós-graduação em cirurgia e anestesia e está, neste momento, a tirar um curso de Medicina Felina através da Universidade de Sydney, Austrália.
A minha infância foi passada entre Santarém e Secorio. Os meus avós moravam na aldeia do Secorio e eu passava muito tempo com eles. O contacto com o campo esteve sempre presente na minha vida, assim como os animais.
Em criança admirava todos os animais mas foi por um gato que me perdi de amores. Um dia estabeleci contacto com um gato que veio ao meu encontro. Dava-lhe de comer e aos poucos foi-se aproximando até ficar a morar em minha casa. Sempre tive cães mas este gato foi especial.
Os nossos governantes ainda não estão sensibilizados para a importância de um animal na família e na sociedade. Sinto que muitos até nem gostam de animais porque não os compreendem na sua essência. Não reconhecem o seu grande potencial ou nunca viveram uma relação com nenhum.
É urgente criar uma rede organizada no encaminhamento de animais de rua ou perdidos. O que há em Santarém é um conjunto de pessoas que encontram um animal perdido ou abandonado na rua e assumem individualmente essa função, muitas vezes sem apoio do município. Isto porque quando ligam para os canis estes, muitas vezes, estão lotados e não têm vaga para os receber. E há fundos para melhorar as condições dos canis que não estão a ser aproveitados pelo município. Têm sido feitas esterilizações de errantes o que é muito bom. Mas deveriam ser alvo de multas os responsáveis por animais que não estão esterilizados mas têm livre acesso à rua sem supervisão.
Um veterinário paga o IVA a 23 enquanto que a medicina humana está isenta deste imposto. Esta é uma das grandes dificuldades da medicina veterinária. E é a justificação para que alguns procedimentos sejam caros. Um aparelho actual de Raios X custa 15 mil euros. Não temos ajudas como os médicos. É também o cliente que está a ajudar a pagar todo o investimento que fazemos nas clínicas e sobre o qual pagamos o Imposto de Valor Acrescentado (IVA) a 23%. Numa consulta de uma especialidade na medicina humana os 75 euros da consulta vão para o médico. Na veterinária dos 25 a 30 euros que chegam ao médico, 5 ou 6 euros vão para o Estado. A medicina animal ainda não é vista como essencial.
Os animais são muito terapêuticos e poderiam ser mais explorados no tratamento de algumas doenças do foro psicológico. Mais do que uma companhia os animais têm uma sensibilidade terapêutica. Eles sentem tudo o que transmitimos. Podem ajudar-nos a lidar com alguns problemas de stress, por exemplo, e são frequentemente recomendados por psicólogos. Basta investir algum tempo a interagir com eles.
Uma das maiores qualidades que um veterinário deve ter é ser sensível. É impossível ser-se veterinário sem se gostar e respeitar a natureza e ter uma grande ternura e até encantamento pelos animais. Aprender sobre eles deve ser sempre uma constante, daí a necessidade de termos também especializações. No meu caso, além da licenciatura em Medicina Veterinária, tenho uma pós-graduação em cirurgia e anestesia, pela Faculdade de Barcelona e estou a fazer um curso de Medicina Felina através da Universidade de Sydney.
Não me vejo a fazer outra coisa a não ser trabalhar com animais. Sou muito feliz a cuidar deles. E cuidando deles cuido também da família da qual fazem parte.