A pandemia que não foi a banhos e a agricultura que faz rir muita gente
Judicioso Manuel Serra d’Aire
Tenho-me dedicado a tentar encontrar diferenças, aqui pela praia que habitualmente frequento, entre este ano 1 pós-Covid e a era anterior e confesso que não encontro grandes contrastes. Continua a haver esplanadas abertas, imperial fresquinha e biquínis arrojados no areal, coisas que transmitem aquela sensação de normalidade que conforta as almas simples como eu em tempos tão estranhos. Felizmente, o distanciamento social recomendável não é tão grande que nos obrigue a usar binóculos para apreciar essas dádivas da natureza esparramadas no areal. E o uso de máscara é apenas uma pequena contrariedade. Grave seria obrigar as nossas sereias a usarem burka por causa da Covid-19.
Claro que uma moeda tem sempre duas faces e o coronavírus também não erradicou aqueles comportamentos que qualquer banhista civilizado abomina. Os irritantes adolescentes e jovens adultos ululantes continuam a fazer do areal autênticos campos de voleibol, de ténis ou de futebol, ainda por cima mal jogados. E o que me irrita superlativamente é que fazem questão de demonstrar os seus miseráveis dotes desportivos praticamente em cima dos involuntários e desinteressados espectadores, em vez de irem exercitar-se para as zonas desertas do areal, onde pelo menos evitavam que alguém testemunhasse as suas tristes figuras. Este é um autêntico caso de estudo que tem passado de geração em geração e que confirma que a idiotice tem uma forte componente genética.
Nos arredores de Abrantes, uma família que andava a passear pelo campo deparou-se com uma insólita descoberta: montes de cartas que estavam por entregar pelos Correios nessa zona. Como é que essa correspondência à guarda dos Correios foi cair num local ermo ainda não se sabe muito bem. Mas desta vez os CTT têm uma desculpa aceitável para os atrasos na entrega: o correio foi pura e simplesmente transviado. Pena é que essa justificação não deixe ninguém mais descansado.
Nas últimas semanas foram publicadas várias notícias sobre detenções de jovens por cultivarem plantas de canábis para ganharem a vida. Houve registo de casos pelo menos em Almeirim, Ferreira do Zêzere, Ourém e Alcanena, o que indica que esse tipo de cultura é hoje tão popular no Ribatejo como a do milho ou a do tomate.
O Governo farta-se de apregoar que é necessário fomentar entre os jovens o espírito do empreendedorismo, exorta-os a sair da sua zona de conforto, defende que é preciso apostar na agricultura, na sua modernização e diferenciação e o que é que acontece? Corta-se as pernas a quem quer contribuir para o desenvolvimento do país e tornar a vida dos portugueses um pouco mais risonha e desenfastiada. E, atenção, esta malta trabalha sem subsídios do Ministério da Agricultura e da União Europeia, ao contrário do que acontece com muitos outros agricultores...
Um bacalhau salgado do
Serafim das Neves