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Um associativista ferrenho que nem aos 79 anos pensa deixar de ser cobrador de quotas 
Teófilo Moreira leva o seu trabalho a sério porque sabe a importância que o pagamento das quotas tem para a sobrevivência das colectividades

Um associativista ferrenho que nem aos 79 anos pensa deixar de ser cobrador de quotas 

Teófilo Moreira é um apaixonado pela sua terra, o Tramagal, e pelo associativismo. É por isso que, aos 79 anos, continua a cobrar as quotas dos sócios da Associação de Melhoramentos do Tramagal e do Tramagal Sport União. Lamenta que o associativismo esteja a perder fulgor e tem o sonho de, em 2022, quando o seu clube de futebol comemorar o centésimo aniversário ainda andar a percorrer as ruas da vila a cobrar quotas.

Faça sol ou faça chuva Teófilo Moreira, 79 anos, não deixa de cumprir a sua missão de cobrar as quotas dos sócios da Associação de Melhoramentos do Tramagal e do Tramagal Sport União. Nos dias em que há jogos lá está ele à porta do campo de futebol, com a sua pasta debaixo do braço, para acertar contas com os sócios. Nos outros dias calcorreia as ruas da terra para receber o dinheiro dos associados. É um dos dois únicos cobradores de quotas no Tramagal, concelho de Abrantes. Reformado, diz que continua a desempenhar esta tarefa, que começou há 25 anos, por amor à terra e ao associativismo. “As colectividades vivem muito das quotas que os sócios pagam por isso é tão importante receber o dinheiro”, afirma a O MIRANTE.
Na pasta de Teófilo está tudo organizado. O nome de cada sócio, o seu número de associado, a morada e número de telefone. Sempre que alguém paga a quota assenta no papel mas a sua memória também é uma grande ajuda pois normalmente sabe quem ainda não pagou. “Quando vejo a pessoa recordo-a que tem que pagar as quotas. A maioria agradece que eu o faça, porque senão nunca iriam à sede das associações pagar”, conta.
O reformado adora o contacto com as pessoas por isso continua nesta função que nem sempre é bem-vinda. “Às vezes oiço barulho dentro de casa e quando toco à campainha ninguém me abre a porta. Temos que perceber que nem sempre há dinheiro para tudo”, refere.
Teófilo Moreira começou a trabalhar aos 11 anos a vender botões numa loja na Avenida da República, em Lisboa. Vivia com os tios na capital mas não gostou da experiência e regressou ao Tramagal. Trabalhou na Metalúrgica Duarte Ferreira, como operador de posto de dados, durante 35 anos, até ao encerramento da fábrica em 1985. Nessa altura foi cobrador de quotas do Sindicato dos Metalúrgicos e já então ia às terras onde moravam os associados fazer a cobrança. O gosto ficou-lhe e há cerca de 25 anos ofereceu-se para ajudar o clube da terra. Mais tarde começou a ajudar a Associação de Melhoramentos. Garante que vai continuar a fazê-lo enquanto tiver saúde.
O reformado, que também trabalhou nos Correios, admite que este é um trabalho em vias de extinção e receia que o associativismo morra definitivamente quando não tiver quem cobre as quotas. “Há 20 anos os sócios mais idosos sentiam mais o associativismo do que hoje os mais novos. O associativismo vive momentos difíceis e a tendência é para piorar”, opina.
Teófilo não se esquece do dia em que um senhor lhe disse que não queria continuar a pagar quotas do Tramagal Sport União mas que dias depois voltou com a palavra atrás. “Eu sabia que ele ia ser homenageado pelos 25 anos de sócio na festa que o clube organiza todos os anos no dia 1 de Maio. Ele ainda não tinha recebido a carta a informar que ia receber o emblema de prata. Quando ele me disse que não queria ser mais sócio vim-me embora sem dizer nada mas sabia que ele ia voltar com a palavra atrás. Foi o que aconteceu. Assim que soube que ia ser homenageado veio logo ter comigo para pagar as quotas”, recorda com um sorriso bem-disposto. Teófilo tem o sonho de ainda ser o cobrador de quotas do Tramagal Sport União quando o clube comemorar 100 anos em 2022.
O antigo funcionário da Metalúrgica lamenta que o Tramagal tenha morrido depois do encerramento da Duarte Ferreira, que empregava três mil pessoas. “Nessa época era uma vila-cidade, hoje é uma vila-aldeia. É uma tristeza muito grande assistir às pessoas a saírem de cá porque não há casas nem emprego para os mais novos. Tenho duas filhas que vivem no Entroncamento porque aqui não há nada”, lamenta.

Um associativista ferrenho que nem aos 79 anos pensa deixar de ser cobrador de quotas 

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