Políticos que chamam juízes para darem tau-tau aos críticos e os emergentes eruditos
Jovial Serafim das Neves
A Câmara do Cartaxo anda desesperada para fechar durante a noite algumas estradas do campo, mas os agricultores daquelas bandas, talvez porque já foram jovens e sentem nostalgia dos tempos em que namoraram no carro ao luar ouvindo grilos por entre suspiros de prazer, não têm alinhado.
Bem lhes dizem que é para bem deles; para prevenir roubos, mas eles são gente da velha guarda não se deixam indróminar. Quem quer prevenir roubos manda a guarda vigiar. Também há assaltos nas aldeias, vilas e na cidade e ninguém proíbe o trânsito nocturno.
Aqui na região já não se pode dar um passeio de carro pelos campos em quase lado nenhum. Às sete da noite, quando ainda é de dia, já nos arriscamos a ser incomodados, ou pela GNR ou pela milícia municipal se for na Golegã, por exemplo E o carro até tem holofote montado no tejadilho e tudo.
A tentativa de transferência das competências políticas para os tribunais acentua-se. Em Abrantes o vereador do Bloco de Esquerda, Armindo Silveira recusou dar a identidade de um munícipe que, há dois anos, terá despejado uma fossa séptica para lugar menos apropriado e o vereador do PSD disse logo que ia fazer queixa ao Ministério Público.
No Sardoal, o presidente Miguel Borges e os vereadores do PSD apresentaram queixa no Ministério Público contra um munícipe que andou a dizer que eles tinham aldrabado um concurso para dar emprego a alguém. Um dia destes vais ver que em vez de irmos pedir licenças de obra aos serviços municipais, passamos a ir ao tribunal e as reuniões dos executivos passam a ser nas salas de audiência.
Antes, quando éramos trogloditas, dizíamos às crianças que chamávamos o papão ou o velho do saco se não comessem a sopa. Agora os políticos que não gostam da liberdade de expressão, dizem a quem os critica, justa ou injustamente, que vão chamar um juiz para lhes dar tau-tau.
Hoje está-me a dar para a política e sempre é mais divertido que falar de coronavírus e de ajuntamentos populares sem máscara nem distanciamento social. Em Tomar, na reunião de câmara, que ainda não foi feita numa sala de audiências do tribunal, esteve uma lâmpada de néon a tremelicar o tempo todo. Foi um momento de puro divertimento que serviu par matar saudades do piscar das luzes das discotecas. Se na próxima meterem música e uns filtros de cores na lâmpada piscalhona, aquilo fica mais animado.
Aqui há dias li uma notícia que falava de doentes emergentes e fiquei a pensar que estamos cada vez mais cultos e sofisticados. Se há tantos sinónimos porque é que havemos de estar a usar sempre as mesmas palavras. Abaixo a mentira, viva a inverdade. Fora com o inestético empregado e promovamo-lo a colaborador. O raio da esmola já passou a solidariedade há muito tempo. E, felizmente, já não morremos, mas falecemos. Vamos para os anjinhos mas com mais erudição!!!
Um amplexo fraterno
Manuel Serra d’Aire