Nelson Carvalho foi o coveiro do centro histórico de Abrantes e Maria do Céu esqueceu freguesias
Rui André é presidente da Junta de Rio de Moinhos eleito por movimento independente.
Depois de vários anos a concorrer e a ganhar eleições com o apoio do PSD em 2017 decidiu concorrer por um movimento independente e voltou à presidência da Junta de Freguesia de Rio de Moinhos, concelho de Abrantes. Rui André considera que os políticos estão amarrados aos seus partidos e isso faz com que não pensem nem votem de acordo com a sua consciência. O presidente de junta não tem dúvidas que foi o ex-presidente da câmara, Nelson Carvalho, que matou o centro histórico de Abrantes. O primeiro erro que levou à decadência da zona nobre da cidade foi retirar os serviços públicos para fora do centro. Rui André nasceu em França e não foi fácil adaptar-se a Rio de Moinhos quando chegou à terra com 15 anos. Hoje é um apaixonado pela sua freguesia. É técnico de Reinserção Social acompanhando os condenados depois de saírem da prisão. Gosta de fotografia e adora assistir a um pôr-do-sol junto ao rio Tejo.
O autarca também tem opiniões desfavoráveis sobre Maria do Céu Antunes, actual ministra da Agricultura, acusando-a de se ter esquecido das freguesias e de só pensar na sede de concelho. Uma estratégia diferente do actual presidente, Manuel Valamatos, que assumiu o comando da câmara com a saída da presidente para o Governo. “Apesar de não gostar de ser contrariado tem outra visão e olha para as freguesias com mais atenção”, diz referindo-se ao presidente socialista. E acrescenta que os cidadãos que vivem nas aldeias há muito são tratados como pessoas de segunda. “É assim em todo o país. Temos mais qualidade de vida porque não há tanta confusão, mas não temos tantas condições como nas cidades”.
O caso do cine-teatro é o paradigma da falta de defesa dos interesses do concelho na presidência de Maria do Céu Antunes. Para o autarca, a ex-presidente da câmara cometeu um erro crasso e não teve uma visão estratégica ao deixar arrastar a situação que agora foi resolvida por Manuel Valamatos ao comprar o imóvel. Este pode muito bem ser um dos exemplos que leva o autarca do Movimento Independente da Freguesia de Rio de Moinhos (MIFRM) a defender que os políticos não se devem eternizar nos cargos, porque se acomodam e a política precisa de ideias novas.
A freguesia de Rio de Moinhos tem cerca de um milhar de habitantes e as principais necessidades são a construção de um centro de noite ou lar para idosos que vivem sozinhos ou precisam de apoio. A freguesia já tem um centro de dia. Há também o problema das casas devolutas que poderiam ser recuperadas pelos proprietários e assim captar mais habitantes. Outros problemas são a degradação da rede de abastecimento de água, que têm mais de 40 anos assim como as estradas por alcatroar. Rui André explica que a Rua da Feia e a Estrada da Casinha são prioritárias, já que são alternativas importantes à protecção civil quando há cheias ou incêndios. Mas nem tudo é mau. Rui André realça como mais-valia para a freguesia o centro escolar construído em 2012 e a recuperação do cais.
A junta de freguesia assinou um protocolo com a Câmara de Abrantes, que apoia no transporte de doentes de Aldeia do Mato para a extensão de saúde de Rio de Moinhos. Para Rui André o associativismo é muito importante em qualquer freguesia e em Rio de Moinhos continua vivo. O autarca lamenta, contudo, que sejam sempre os mesmos nos corpos sociais. “Os mais jovens têm de perceber que depende deles manter, no futuro, o associativismo vivo”, alerta.
Um autarca que acredita no destino e gosta de ver o pôr-do-sol
Rui André nasceu a 29 de Maio de 1971 em Aurillac, França, onde viveu até aos 15 anos. Os pais emigraram à procura de uma vida melhor, mas decidiram regressar à terra natal. Uma decisão que, inicialmente, não agradou a Rui André, o quarto de seis irmãos. O facto de viver numa grande cidade e ter que se adaptar a uma aldeia do interior de Portugal, nos anos 80 do século passado, não foi fácil. Actualmente, não trocaria o local onde vive por França e é um apaixonado pela história da sua freguesia. Nos tempos livres gosta de se dedicar à fotografia de paisagem e natureza. Sempre que pode vai ver o pôr-do-sol junto ao Tejo.
Assume-se crente em Deus e no destino. Aos 18 meses, quando a sua mãe estava a passar roupa a ferro, tirou a ficha da tomada e pô-la na boca, tendo sido electrocutado. Os momentos de aflição foram muitos e Rui André teve que fazer várias operações à boca (que ficou colada) até à idade adulta. Além disso, o acidente afectou o seu olho esquerdo. “Acredito que tudo o que acontece é por uma razão e também acredito que se fizermos o bem aos outros, o bem também há-de aparecer para nós”, afirma.
Foi presidente da Assembleia-Geral da Sociedade Filarmónica de Rio de Moinhos e integrou os corpos sociais da Casa do Povo da freguesia. Dançou dois anos no rancho folclórico “Os Moleiros” da Casa do Povo de Rio de Moinhos, entre 1986 e 1988. A sua irmã era o seu par. Jogou futebol e mais tarde foi árbitro. Confessa que a arbitragem foi muito importante para a sua vida política, que abraçou em 2001 quando foi eleito presidente da Assembleia de Freguesia de Rio de Moinhos. Foi sempre independente apoiado pelo PSD, até 2017, quando decidiu criar o Movimento Independente da Freguesia de Rio de Moinhos (MIFRM).
Entre 2005 e 2009 foi presidente da Junta de Rio de Moinhos. De 2009 a 2013 foi vereador da oposição na Câmara de Abrantes, em substituição de Santana-Maia Leonardo. Em 2013 volta a ser presidente da Junta de Rio de Moinhos. Em 2017 vence novamente as eleições à junta, desta vez como independente. “Rui Santos, que era o presidente da concelhia do PSD nas últimas eleições autárquicas, assumiu que eu era o candidato do PSD à junta sem ter falado comigo. Já andava indeciso e com essa atitude desvinculei-me do partido”, conta a O MIRANTE.
Rui André afirma que os políticos estão amarrados aos partidos e sujeitam-se a votar segundo a estratégia partidária e não tendo em conta a sua opinião pessoal. “Política para mim é fazer o que posso para melhorar a vida das pessoas, independentemente dos partidos”, sublinha. Ainda não tomou uma decisão, mas diz que estão reunidas as condições para continuar a trabalhar em prol das pessoas da sua freguesia. E admite vir a candidatar-se à presidência da Câmara de Abrantes.
“Os presos também merecem uma segunda oportunidade”
Rui André de 49 anos, licenciou-se em Educação Visual e Tecnológica na Escola Superior de Educação de Santarém, tendo dado aulas entre 1996 e 2014, ano em que passou para a área de Reinserção Social. Um técnico de Reinserção Social trabalha para o Ministério Público e Tribunal. São eles os olhos dos agentes da justiça. Antes do julgamento conhecem os arguidos e fazem um relatório com as suas condições sociais e informações que ajudam a perceber o que o levou a cometer crime. Quando a pessoa é presa o técnico começa a acompanhar o recluso algum tempo antes de sair da prisão, para a ajudar a inserir-se na sociedade.
O técnico diz que não é tarefa fácil reinserir uma pessoa na sociedade, porque existe um estigma grande por parte da sociedade. Algumas situações estão relacionadas com problemas de álcool, droga ou até problemas mentais. Os motivos que levaram a pessoa à prisão podem ser variados. “A minha função é conhecer a pessoa e tentar encontrar uma solução para o seu problema. Se o tribunal diz que o arguido tem que cumprir trabalho comunitário ou fazer um tratamento para se libertar do vício do álcool, nós acompanhamos todo o processo. No final fazemos relatório para o tribunal do seu comportamento durante o tratamento. O objectivo é que a pessoa não volte a reincidir”, realça.
Há sempre pessoas que se arrependem e choram, outros que acham que foram injustiçados. E há até aqueles que consideram que não fizeram nada errado como, por exemplo, quem vende roupa contrafeita. Existem casos de pessoas que foram multadas e como não tinham dinheiro para pagar tiveram que fazer trabalho comunitário. “O que me apaixona neste trabalho é perceber porque é que as pessoas cometem os crimes, o que as levou a fazerem-no”, diz.
Quando saem da prisão têm o apoio destes técnicos que os ajudam a voltar à dita vida normal. “Quem esteve preso carrega um grande estigma porque as pessoas olham sempre de lado. Temos que fazer com que essa ideia mude. Todas as pessoas erram e têm direito a uma segunda oportunidade. Nós, técnicos, ajudamos a encontrar soluções mas também é preciso que a sociedade não feche as portas, porque estas pessoas precisam de trabalhar para, muitas vezes, não voltarem a incorrer no mesmo crime”, conclui.