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“Quando apareci com o negócio dos ‘papa-reformas’ toda a gente se ria”
Rui Caniço trabalha com automóveis desde os 13 anos, em 2015 abriu a Rulimov em Almeirim

“Quando apareci com o negócio dos ‘papa-reformas’ toda a gente se ria”

Rui Caniço, 44 anos, proprietário do stand Rulimov, na zona industrial de Almeirim.

Rui Caniço foi pioneiro na venda de microcarros na região e diz que os ‘papa-reformas’, veículos que se popularizaram entre os mais idosos, estão a tornar-se ‘cool’ entre os jovens a partir dos 16 anos. Mas a moda está difícil de chegar ao distrito de Santarém, onde o poder de compra dos pais não chega para adquirir uma viatura que pode custar entre os 11 e os 18 mil euros e onde não há uma única escola de condução que invista na formação para a carta B1.

O gosto pelos automóveis e pela mecânica foi o rastilho que aos 13 anos afastou Rui Caniço da escola e o fez começar a trabalhar nesta área. Ainda gaiato pegou nas ferramentas numa oficina em Almeirim e depois passou para as Fazendas de Almeirim, onde trabalhou para o mesmo patrão até aos 20 anos, idade com que cumpriu o serviço militar em Santa Margarida. Esteve ali seis meses e quando saiu decidiu que não queria voltar a trabalhar por conta de outrem. “Queria ser independente e ter o meu próprio negócio, se fosse agora chamavam-me empreendedor, na altura talvez pensassem que era loucura” (risos). “Era um miúdo, nunca tinha saído de Almeirim e das Fazendas. Aos 20 anos entrei numa carrinha e fui para Itália. Fiz seis mil quilómetros em seis dias. Dormi e comi dentro do carro. Fui com o meu ex-patrão, que gostava de mim e quis ajudar-me. A viagem serviu para adquirir material para a oficina que queria abrir”, recorda Rui Caniço. Pesquisou e percebeu que em Itália os elevadores e os macacos eram muito mais baratos e fez-se ao caminho. Ali adquiriu as ferramentas para abrir o seu próprio negócio. Montou a oficina nas Fazendas, onde participou na construção do espaço, como servente de pedreiro, juntamente com a namorada da altura. Confessa que trabalhava de dia e de noite. Era pintor, mecânico e electricista.

Mercado jovem começa a ter expressão nas cidades
Pouco tempo depois um amigo propôs-lhe uma sociedade para a venda de microcarros. “Uma sociedade só de boca, quase uma brincadeira”, conta Rui. Inicialmente, em 1998, vendiam carros usados que chegavam de França, porque ainda não havia um importador em Portugal. “Não havia ninguém com carrinhos destes. Quando apareci com este negócio toda a gente se ria, os carros já tinham alguma idade, só tinham um cilindro e faziam muito barulho”, lembra. Empreendedor por natureza, começou a fazer publicidade e as vendas foram acontecendo, sobretudo a reformados sem carta de condução. Quando o negócio avançou dedicou-se aos ‘papa-reformas’ a 100%, incluindo a oficina. A sociedade acabou e em 2000 tornou-se concessionário oficial da Microcar. As instalações na zona industrial de Almeirim abriram em 2015 e é ali que tem em exibição os vários modelos das marcas com que trabalha: Microcar e Ligier.
Actualmente não são apenas os mais velhos a adquirir estes carros. O mercado jovem começa a ter expressão. Aos 16 anos os jovens podem tirar a carta de condução B1, obrigatória desde 2005 para guiar um quadriciclo. Aos mais velhos é exigida a carta da categoria AM (ciclomotor). Contudo, Rui reforça que o sucesso que os microcarros têm entre os jovens citadinos de Lisboa, Cascais, Coimbra ou Porto, não se reflecte na região. No Ribatejo não são tão populares entre os jovens porque os pais não têm poder económico para adquirir uma viatura que pode custar entre os 11 e os 18 mil euros. Além disso, não existe no distrito nenhuma escola de condução que dê formação para a carta B1. “Só em Óbidos, Lisboa ou Leiria. É triste. Para poderem ensinar os jovens, as escolas têm que investir num carro destes e não o querem fazer. Consideram que não há mercado e nenhuma arrisca”, lamenta Rui.
Ainda assim, o negócio corre sobre rodas e nem a pandemia trouxe uma quebra de vendas. No ano de 2020 Rui confessa que houve apenas um mês em que a empresa não facturou, mas o motivo não se prende com a crise económica, mas sim com uma “crise” interna relacionada com o falecimento de um funcionário. Flávio Dias da Silva, o jovem de 27 anos desaparecido em Almeirim a 7 de Julho e encontrado carbonizado dois dias depois, vítima de um acidente na rotunda do CNEMA, em Santarém, trabalhava como recepcionista na Rulimov há quatro anos. Os colegas foram apanhados de surpresa e as férias que estavam programadas para a segunda quinzena de Julho acabaram por incluir todo o mês. A maior quebra de vendas está relacionada com as feiras e mercados. Tinham representação em todos os eventos do Alentejo e Ribatejo que, com a pandemia foram sendo cancelados. O vendedor que corria esses mercados foi a única “baixa” da empresa.
Os carros continuam a ser a paixão de Rui Caniço, e embora não conduza um microcarro no dia-a-dia, organiza viagens por todo o país nestas viaturas, como a que fez o ano passado com uma dezena de amigos em Ligier pela Nacional 2, carimbando o passaporte entre Chaves e Faro. Este ano planeia outra “viagem de charme” percorrendo o país de lés a lés, desta vez entre Valença e Sagres, sempre por estradas secundárias. Partem a 14 e regressam a 21 de Setembro.

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