“O teatro continua a ser a arte do mendigar”
Fernando Oliveira é o presidente da Associação Equilíbrio Verbal Projectos Culturais, de Alverca, uma associação sem fins lucrativos, pequena, discreta e que não precisa de subsídios para sobreviver. O grupo tem feito um percurso interessante nos palcos lisboetas e no concelho de Vila Franca de Xira.
Com tantas salas modernas de espectáculos e programação activa por todo o concelho de Vila Franca de Xira já não há desculpa para que a população não vá ao teatro. A opinião é de Fernando Oliveira, 47 anos, presidente da associação Equilíbrio Verbal Projectos Culturais, de Alverca. Cabe a cada morador ter um papel activo e determinado em querer sair de casa e retomar as rotinas, descobrir peças novas e abraçar novos palcos, defende o dirigente.
A Equilíbrio Verbal é uma associação sem fins lucrativos de Alverca que nasceu há nove anos pelas mãos de um grupo de apaixonados por teatro. É uma associação pequena mas que tem feito um trabalho interessante de promoção do teatro quer no concelho de Vila Franca de Xira quer em alguns palcos de Lisboa, como o teatro Turim ou a Comuna. Orgulham-se de não serem subsídio-dependentes e todas as peças que levam a palco são financiadas por acções de animação que produzem para empresas. Os dirigentes não ganham um cêntimo.
“O teatro continua a ser a arte do mendigar, quando muitas estruturas não se conseguem auto-financiar precisam de subsídios para sobreviver. Não concordo com a subsídio-dependência. Temos de saber sobreviver por nós próprios”, defende o dirigente a O MIRANTE. Cada vez mais há novas perspectivas e propostas que cativam o público, basta haver autonomia de decisão. “Gostamos de ter a nossa autonomia e não estarmos dependentes dos subsídios e das contrapartidas que nos são exigidas”, nota.
Além de Fernando Oliveira, a associação integra também no seu núcleo duro Ivania Frausto, Tânia Ribeiro, Paulo Rodrigues e Cristina Lopes. Os actores são contratados ou a convite, por casting, sempre que a associação leva uma nova peça a palco.
“No futuro vai ser complicado voltarem a surgir tantos grupos de teatro por causa da pandemia. O arranque vai ser complicado mas depois a perseverança e a resiliência do pessoal do teatro vai prevalecer. Quando as coisas estiverem mais controladas o teatro vai sair por cima. Este tempo todo em casa também fez nascer novas ideias aos criativos”, destaca.
“Já reunimos e preparámos peças em restaurantes”
Fernando Oliveira é de Alverca e vive em Vila Franca de Xira. Trabalha nos escritórios de uma multinacional de transportes aéreos. Tal como os restantes membros da associação não vive do teatro como principal ocupação. O grupo tinha uma pequena sede onde ensaiava, mas a senhoria quis o espaço de volta para fazer escritórios. Agora reúne-se na rua, nas casas uns dos outros ou em estabelecimentos de restauração. “Já reunimos e preparámos peças em restaurantes”, conta com um sorriso.
Já estrearam peças na Casa da Juventude de Alverca e no Ateneu Vilafranquense. “Estamos espalhados pela região. Fazemos as peças de teatro e só avançamos para as novas peças quando garantimos o financiamento. Somos um grupo de teatro amador em que a grande virtude é termos pessoas que gostam de pensar fora da caixa”, conta.
Só fazem um espectáculo por ano, o que dá exclusividade a quem consegue o bilhete, excepto em 2020, por causa da pandemia. “Não criámos a associação para sermos melhores ou ultrapassarmos um ou outro grupo do concelho. A única coisa que nos move é a paixão pelo teatro e temos muitos amigos do concelho que vão ver as nossas peças e vice-versa”, destaca.
Fernando Oliveira iniciou-se no teatro aos 17 anos impulsionado por uma professora. Começou no Cegada de Alverca com Ildefonso Valério, ainda o grupo estava onde hoje funciona o refeitório da junta de freguesia. Foi quando Fernando se tornou presidente do Cegada que lutou para que o grupo tivesse uma nova sede, onde hoje se encontra. Fez formações como actor e produtor.
“Cativar as pessoas para o teatro passa muito pela proactividade de cada um. Não podem ser apenas as pessoas do teatro a trazer as pessoas, é preciso que elas tenham interesse em descobrir coisas novas, saírem de casa e envolverem-se na comunidade. Quererem conhecer melhor esta parte cultural”, explica.
A Equilíbrio Verbal está já a preparar a próxima peça que pretende levar a palco no próximo ano, logo que desça a cortina sobre a pandemia.