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“As mulheres deviam abandonar os preconceitos e fazer mais desporto”
Asseiceira é um dos locais onde a triatleta gosta de treinar ciclismo

“As mulheres deviam abandonar os preconceitos e fazer mais desporto”

Decidiu praticar triatlo depois dos 30 anos e lamenta que não haja mais mulheres a fazer o mesmo. Madalena Fontinhas, triatleta e fundadora do 3B - Clube de Triatlo de Benavente, tem somado vários títulos em campeonatos nacionais no seu escalão e deu nas vistas quando correu a São Silvestre a saltar à corda. Nos treinos de bicicleta recusa usar as ciclovias e explica porquê.

Madalena Fontinhas despega do trabalho, mete a bicicleta no carro, os óculos e o capacete. Por baixo da roupa formal já tem vestida a de treino. É nesse momento que começa a desligar das preocupações do quotidiano. Tem 38 anos, começou a praticar triatlo há cinco e é uma das fundadoras do 3B - Clube de Triatlo de Benavente.
Treina entre 14 a 15 horas por semana bicicleta, atletismo, natação e faz reforço muscular. “Nem sempre é fácil arranjar vontade”, admite, mas no final de um treino a sensação de bem-estar é compensadora. É como se gastar energia lhe desse mais energia para começar o dia de trabalho, além de “ajudar a manter o foco e concentração nas tarefas”.
A triatleta que já foi várias vezes campeã e vice-campeã nacional no seu escalão etário, a última em 2018, lamenta que o desporto continue a ser um mundo dominado por homens, o que faz com que raramente consiga competir em equipa. Dos 30 atletas federados do 3B, apenas três são mulheres. Para Madalena ainda se trata de uma questão cultural: “As mulheres começam a constituir família e ficam em casa com os filhos, ao passo que os homens continuam a praticar desporto. As mulheres deviam abandonar todos os preconceitos, alguns impostos pela sociedade, e fazer mais desporto, seja ele competitivo ou não”, diz. Depois ressalva que além de não ter filhos, nem querer ter, tem a sorte de o seu companheiro - co-fundador do 3B - praticar a mesma modalidade.
Raramente conseguem treinar juntos. Além de os treinos serem diferentes os horários de trabalho também o são. E no triatlo é preciso treinar três modalidades diferentes, o que faz deste “um desporto muito solitário” por ser difícil a conjugação de horários entre triatletas. O que também não é nada fácil, diz, é treinar natação no concelho de Benavente. “As piscinas abrem muito tarde e fecham cedo. Com toda a logística que praticar natação exige torna-se difícil conseguir fazer um treino completo antes ou depois do trabalho”.
Com a pandemia, nadar tornou-se mesmo missão impossível, uma vez que as obras a decorrer em simultâneo nas duas piscinas municipais do concelho atrasaram, adiando a sua reabertura. Mesmo sem treinar natação há vários meses, Madalena Fontinhas participou no sábado, 5 de Setembro, no campeonato nacional de triatlo em Lisboa. “É pelo desafio e pela vontade de regressar às provas”, justifica. O resultado foi um 5º lugar.
Foi também pelo desafio que lançou a si própria que correu a 44ª São Silvestre da Amadora a saltar à corda. Fê-lo sem parar durante os 10 quilómetros da corrida que concluiu em 53 minutos. “Chamaram-me maluca e nem eu sei bem o que me passou pela cabeça. Como filha única, em criança saltava muito à corda e além disso gosto de intensidade no desporto e experimentar o novo”, explica.

“As ciclovias não foram feitas para os ciclistas”
As recém-construídas ciclovias de Benavente e Samora Correia não agradam nem são escolha para os treinos de bicicleta de Madalena Fontinhas, que opta por estradas pouco movimentadas nas freguesias da Barrosa e Santo Estêvão. O motivo? “As ciclovias não foram feitas para os ciclistas, ponto”, diz imperativamente.
Num treino, um ciclista atinge velocidades entre os 30 e os 40 quilómetros/hora, podendo pôr em risco quem circula a andar na mesma via. “É um problema que está relacionado com a sua utilização por toda a gente. Se à nossa frente estiver um idoso com mobilidade reduzida ou uma pessoa com um carrinho de bebé, por exemplo, à velocidade que vamos não temos tempo de travar”, explica.
Quando vai na estrada, com uma ciclovia mesmo ao lado, é como se treinasse ao som de buzinadelas. “São constantes e já houve quem me insultasse”, diz, acrescentando que a vontade é de parar a bicicleta e explicar o porquê de circular pela estrada. A sorte, diz, é ter nas lezírias ribatejanas muito caminho de estrada com “pouco movimento e bonitas paisagens” que estão a ser cada vez mais procuradas por triatletas e ciclistas da grande Lisboa. “Aqui em Benavente somos uns privilegiados”, diz.

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