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A confissão da ministra da Agricultura enquanto esperamos por mais um milagre de Fátima

Inexcedível Manuel Serra d’Aire
O tempo dos milagres já lá vai e esta pandemia veio colocar a nu a fragilidade de todos nós, dos mais poderosos aos mais vulneráveis. O coronavírus é democrático nas suas convicções e não escolhe idades, estatuto social, cores ou credos. Vai tudo a eito! Vê lá tu que até o Santuário de Fátima está a viver dificuldades nunca experienciadas, ao ponto de colocar a hipótese de dispensar cerca de 50 dos seus 300 funcionários. É um despedimento colectivo de alguma dimensão, motivado pela fraca afluência de peregrinos à Cova de Iria e pela queda abrupta de receitas. Já nem em Fátima há milagres, meu caro. E esta era uma boa altura para Nossa Senhora mostrar de que fibra é feita. Até eu me convertia se acabasse com este maldito vírus...
Desde o dia 3 de Setembro que atirar uma beata para o chão vai passar a envolver o risco de pagamento de uma multa. Uma beata é a ponta do cigarro, também chamada pirisca, não vá haver confusões com o beatério que povoa as igrejas. Os valores das multas oscilam entre 25 e 250 euros, de acordo com a legislação que entrou em vigor. Se esta medida não fosse para rir, estava resolvido o défice das contas públicas. Porque se há coisa que a maior parte da malta fumadora gosta é de arremessar a beata em voo picado para o pavimento e esborrachá-la com a sola do sapato. Quem nunca pecou que atire a primeira beata...
Seria tão fácil às autoridades apanhar os fumadores infractores como caçar condutores ao telemóvel ou cãezinhos pastoreados pelos donos a fazerem as necessidades na via pública: bastaria ter os olhos abertos e sacar do bloco e da caneta. Mas isso dá uma trabalheira do caraças. E chatices, muitas chatices, em terras pequenas em que toda a gente se conhece. Mais vale seguir a máxima que reza que, de vez em quando, é preciso mudar alguma coisa para que tudo fique na mesma. Sossega as consciências com a sensação de que pelo menos se tentou fazer algo. Mesmo sabendo-se à priori o resultado.
Soube pelo nosso jornal que a ministra da Agricultura, Maria do Céu Antunes, ganhou o primeiro ordenado aos 15 anos nas vindimas. Sorte a dela que isso já foi há uns anos valentes - sem querer com isto estar a chamar anciã à ainda enxuta governante. Se fosse hoje, não se trataria de um meritório exemplo de iniciativa juvenil, sujeitando-se a ser classificado como um repulsivo caso de trabalho infantil.
De qualquer forma fica bem esta confissão da ministra de Abrantes que me traz à memória os tempos em que a esmagadora maioria dos jovens, se queria ir acampar com os amigos ou comprar uns ténis da moda - não havia iphones, não havia computadores, não havia playstations nem outra quinquilharia tecnológica que nos consumisse as poupanças e os neurónios -, tinha que vergar a mola, fosse nas vindimas, no tomate, na pera ou nas obras, entre outras actividades laborais que sujavam as mãos e faziam calos. Porque o dinheiro não caía do céu nem das carteiras dos paizinhos e, nesse campo, a Nossa Senhora também não fazia milagres e não havia ACT nem CPCJ...
Saudações laborais do
Serafim das Neves

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