Com tanta gente amontoada em Fátima os carteiristas ficaram em casa?
Distanciador Serafim das Neves
Por causa de um encontro de cidadãos destinado a debater as suas ideias avançadas sobre os mais diversos problemas que nos afligem, descobri o Quebra a Corrente – Movimento de Libertação de Cães Acorrentados.
O encontro foi num jardim e havia muito espaço, mas não me lembro de ter visto por lá nenhum cão. Nem sequer aqueles que habitualmente ali vão defecar na companhia dos seus donos, livres de correntes e de outras prisões, nomeadamente de prisões de ventre, pelo menos a avaliar pela dimensão do que deixam semeado pelo relvado onde se sentaram os participantes.
No Santuário de Fátima houve enchente no 13 de Setembro e quase ninguém conseguiu manter a distância regulamentar de dois metros, recomendada pela Direcção-Geral de Saúde.
A GNR esteve lá para dar uma ajuda e lembrei-me dos carteiristas. Fui ler os comunicados e não há nenhuma referência à sua actividade. E, no entanto, com tanta gente ao molho, era natural que tivessem retomado a actividade, como se diz agora. Será que quem ficou sem carteira pensou que tinha sido um sinal divino de que o fim da pandemia está próximo e não fez queixa?
O que será feito das dezenas de carteiristas que eram detidos em Fátima e que, em alguns casos até eram detidos antes das peregrinações e mantidos em confinamento nas esquadras da PSP e em postos da GNR? Houve pedidos de ajuda de tantos e tantos profissionais liberais por causa da suspensão de actividade, mas dos carteiristas não se falou e nem sequer houve iniciativas online, no YouTube ou no zoom para mostrar a arte de bem sacar carteiras. Nem sequer demonstrações na varanda para os vizinhos.
Mas não é só em Fátima que isso acontece. Eu próprio não consigo distanciar-me, nem sequer uns centímetros, de certos grupos de adolescentes que à noite voltam do café para casa, ou dos pelotões de famílias vizinhas que bloqueiam ruas a toda a largura e não se desviam.
A necessidade de uma maior proximidade e de algum contacto físico, mesmo que seja apenas um encontrão ou um ligeiro roçagar, está a dar cabo da cabeça de muita gente. Eu próprio, confesso, já dei por mim a pensar que devia chegar-me mais perto de certas belezas naturais com quem me cruzo. Sim, arrisco muito mas, caramba, é compreensível ou não é. A dois metros é possível identificar um aroma de um creme, de um perfume ou mesmo de um gel de banho ou champô?
A administração do Centro Hospitalar do Médio Tejo, proibiu fumar nas zonas exteriores dos hospitais de Abrantes, Tomar e Torres Novas. Já era proibido fumar lá dentro e agora é também proibido fumar cá fora.
Já tinha lido muita coisa sobre métodos para ajudar fumadores a deixarem o vício, desde pastilhas, adesivos e os famosos exorcismos do Padre Gama, mas este método é imbatível. Resta agora saber se não vai ter efeitos secundários. Fumadores a faltar ao trabalho para fumarem à vontade. Sindicalistas a reclamar o transporte dos fumadores para zonas afastadas do local de trabalho para que possam chaparrar à vontade. Grupos de médicos, enfermeiros e auxiliares, envoltos em nuvens de fumo, a tossir bronquites de palavras de ordem contra o autoritarismo opressor.
Saudações fumegantes
Manuel Serra d’Aire