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Promessa de uma vacina para a Covid em meses é ilusória
Miguel Castanho lembra que uma vacina leva em média 15 anos a ser desenvolvida

Promessa de uma vacina para a Covid em meses é ilusória

A suspensão do ensaio clínico da vacina para a Covid-19, da farmacêutica AstraZeneca, é para Miguel Castanho um bom sinal. O investigador, natural de Santarém, afirma que a obsessão pela vacina é perigosa porque faz divergir a atenção e os recursos da investigação de um medicamento e pode descredibilizar a ciência.

Na semana em que os ensaios da nova vacina da AstraZeneca/Universidade de Oxford foram suspensos, o investigador Miguel Castanho, natural e residente em Santarém, pôs mais uma vez o dedo na ferida e diz que uma vacina dentro de alguns meses é uma “promessa irrealista”. Em entrevista ao DN, o investigador, lembra que o recorde de produção de uma vacina é de quatro anos.
Apesar de considerar a suspensão dos ensaios clínicos um acontecimento comum no desenvolvimento de vacinas, Miguel Castanho, investigador principal do Instituto de Medicina Molecular, reforça que este facto vem mostrar que os prazos apontados para a disponibilização de uma vacina já no final deste ano são “irrealistas”.
“Uma vacina, em média, demora 15 anos a ser desenvolvida. Não é porque os cientistas sejam todos incompetentes ou todos preguiçosos, é porque estes casos [reacções adversas graves durante os ensaios clínicos e suspensão dos mesmos] acontecem, é preciso repensar, reanalisar os dados, voltar atrás. Eventualmente é preciso reformular”, diz o investigador.
Em entrevista a O MIRANTE, em Julho deste ano, Miguel Castanho referia que há uma grande pressão sobre a comunidade científica para encontrar uma vacina e que é preciso “manter a cabeça fria” porque o primeiro valor é o da segurança das pessoas. “O risco maior é desenvolver uma solução que agrave o problema. Isto já aconteceu antes na história do desenvolvimento de vacinas e de medicamentos. É preciso ter confiança nas soluções, ainda que elas não apareçam rapidamente e sob a forma de certezas”, rematava.

Questão política afunilou para a vacina
O professor catedrático de Bioquímica dizia que não seria comportável uma vacina com problemas de segurança, uma vez que não será aplicada a doentes, mas sim em pessoas saudáveis, e mostrava-se mais confiante no aparecimento de medicamentos para a Covid-19. Ideia que voltou a defender em entrevista ao DN falando de uma “obsessão pela vacina”, como se não houvesse mais nada para fazer, o que considera “extremamente perigoso porque faz divergir atenção, e consequentemente os recursos, da investigação nos medicamentos”.
De acordo com o investigador, o discurso político sobrepôs-se ao discurso científico, e a questão política afunilou para a vacina, com os chefes de Estado a falar dela como quem fala da salvação. Miguel Castanho realça como bom sinal a suspensão do ensaio clínico da AstraZeneca e a importância de não se queimarem etapas no desenvolvimento de uma vacina, porque, defende, com uma vacina desenvolvida à pressa o mundo científico corre o risco de perder a credibilidade.

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