Poluição no Alviela é também um problema político
José Gabriel está a tentar recolocar a Comissão de Luta Anti Poluição do Alviela na ribalta, depois do desinteresse que contaminou os ambientalistas, provocado pela falta de resultados na luta pelo rio. A propósito do Dia Mundial dos Rios, que se assinada a 25 de Setembro, falámos com o dirigente da CLAPA, que considera que uma solução para este pequeno rio, que atravessa os concelhos de Alcanena e Santarém, depende do entendimento entre entidades, autarquias e empresários.
A poluição no rio Alviela é também um problema político e a situação só poderá ter melhorias se houver um esforço de várias partes interessadas. Esta é a perspectiva do presidente da Comissão de Luta Anti Poluição do Alviela (CLAPA), José Gabriel, porque a Agência Portuguesa do Ambiente “tem tido um papel passivo” perante as queixas que vão sendo feitas por várias entidades. O dirigente defende que os problemas do Alviela, que nasce no concelho de Alcanena e desagua no Tejo perto de Vale de Figueira, concelho de Santarém, têm que ser estudados e exigem a intervenção das câmaras, dos industriais de curtumes e das agropecuárias, apontadas como poluidoras.
José Gabriel considera que as várias entidades não têm actuado de forma concertada e, por isso, o problema prolonga-se ao longo de várias décadas. O presidente da comissão não atribuiu culpas à generalidade dos empresários porque, ressalva, “alguns cumprem as normas estipuladas para preservação do ambiente”. Mas reconhece que há outros que além de não cumprirem as regras “nem sequer estão certificados para poderem laborar”.
Quando diz que este é um assunto político fala também dos deputados eleitos pelo distrito, que deveriam olhar para o problema do rio e desafia-os, bem como à Comissão Parlamentar da Defesa do Ambiente, a visitarem o rio e inteirarem-se das situações. Desafia ainda os políticos a juntarem-se à CLAPA na luta pela defesa do Alviela.
Desmotivação pela falta de resultados na defesa do ambiente
A CLAPA é uma organização não-governamental fundada em 1976 e é uma das mais antigas associações ambientalistas do país. Nos últimos anos esteve sem actividade porque a falta de resultados na luta pela defesa do Alviela criou o desânimo nos ambientalistas. Sem se conseguir solucionar o problema da poluição, “as pessoas cansaram-se”, lamenta o dirigente. A CLAPA foi reactivada há um ano e pretende continuar a lutar pela completa despoluição do Alviela e pela defesa dos problemas ambientais em geral.
José Gabriel, defensor do ambiente desde os anos 70, conta que já foram detectados despejos de produtos químicos no rio. Relata que há descargas e deposição de resíduos pela calada da noite e há casos de mortes de animais junto ao rio. Suspeita-se, realça, que algumas pessoas tenham sofrido cancro por causa da poluição. Mas apesar de a situação afectar e revoltar muita gente, há quem se cale. Porque, diz o ambientalista, “a população afectada tem receio de dar a cara por ter sofrido represálias, incluindo ameaças”, acrescenta.
Pequenas acções dos municípios não chegam
O presidente da CLAPA admite que os autarcas mostram-se receptivos à colaboração e têm feito pequenas acções para contribuírem para a resolução do problema, mas estas são insuficientes. E dá como exemplo o facto de até já ter havido situações com origem na Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) de Alcanena. “No fundo, o rio é um esgoto a céu aberto que aqui passa”, lamenta. José Gabriel considera que é necessário fazer análises à água, aos solos e à qualidade do ar e que os resultados devem ser divulgados. Fundamental também é a vigilância regular do rio, pedindo que sejam colocados na zona guarda-rios.
CLAPA quer fazer museu e organizar caminhadas
A Comissão de Luta Anti Poluição do Alviela pretende organizar eventos em defesa do Alviela, que possam contribuir para a limpeza do rio. A CLAPA prevê organizar caminhadas junto ao rio, para que as pessoas tomem conhecimento da ameaça que a contaminação apresenta para a saúde pública. A comissão integrou recentemente o Observatório Ambiental, criado pela Câmara Municipal de Alcanena e quer também ser membro proactivo no Departamento do Ambiente do concelho de Santarém, de modo a colaborar no estudo de soluções para o rio.
Outra das ideias da renascida associação é a criação do museu da CLAPA, visto que existe um arquivo documental e fotográfico que, segundo o presidente, servirá de centro de saber e de testemunho da luta contra a poluição. Espera-se que o museu seja instalado na antiga casa do fundador e ex-presidente da CLAPA, Joaquim Jorge, mais conhecido por “Diabo”. Mas para concretizar este projecto é preciso encontrar financiamento comunitário.
A associação ambientalista desafia as câmaras de Alcanena e de Santarém a criarem eventos e a mobilizarem voluntários em acções de cidadania ambiental. Para que Pernes e as restantes localidades afectadas recuperem a flora, a fauna e principalmente o bem-estar das comunidades “que lhes foi roubado”, conclui José Gabriel.