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Um crime sem castigo há nove anos 
Zulmira Ganhão perdeu o filho há nove anos e não esquece a dor de o ter visto partir aos 32 anos

Um crime sem castigo há nove anos 

Jorge Ganhão morreu dias depois de ter sido violentamente agredido por um grupo na via pública, em Benavente. Deu entrada no hospital com um traumatismo craniano e já não saiu de lá com vida. Mãe lamenta o arquivamento do caso por falta de provas, sem que tenham sido encontrados e culpabilizados os autores das agressões.

Jorge Ganhão, 32 anos, natural de Benavente, morreu numa cama de hospital depois de ter sido violentamente agredido na rua junto à Fonte de Santo António, em pleno dia. Não resistiu ao traumatismo craniano e às várias lesões pelo corpo. O caso vai fazer nove anos no dia 21 de Dezembro. Os autores das agressões ficaram, até hoje, sem castigo depois de o Ministério Público arquivar o processo por falta de provas.
A mãe da vítima, Zulmira Ganhão, não esconde a mágoa por nunca ter sido feita justiça. No dia anterior à morte do filho, prometeu-lhe, enquanto lhe segurava nas mãos e as beijava, que iria lutar “até ao último dos [seus] dias” para que aqueles que o agrediram fossem encontrados e julgados, mas não conseguiu. “Não fui capaz, não tive forças nem dinheiro. Não tive quem me ajudasse. Tenho-lhe pedido perdão por isso, mas não sei mais o que fazer”, lamenta a O MIRANTE.
Foi já após a morte do filho que Zulmira Ganhão apresentou queixa no posto da GNR local contra um dos homens que terá estado envolvido nas violentas agressões. Soube o nome pela boca do filho, segundos antes de lhe ter feito a promessa. “Diz à mãe quem te bateu, perguntei-lhe tantas vezes. Nunca disse, até ao dia 20 de Dezembro”.
Zulmira chegou a conseguir uma testemunha que lhe falou no mesmo nome. Contou-lhe que no dia da agressão um homem entrou num café em Benavente, próximo do local do crime e disse: “Este já não rouba mais ninguém, pisei-lhe a cabeça toda”. Quando foi chamada pelo Ministério Público, a mesma testemunha negou tudo, “disse que não ouviu nada”.
Um dia antes da agressão que o levou a correr para as urgências, “a gritar com dores horríveis na cabeça”, Jorge Ganhão tinha sido chamado ao posto da GNR, por causa de um casaco que levava vestido e que teria sido furtado ao dono duas semanas antes. Nessa altura, assegura a mãe, Jorge Ganhão estava em França consigo. Foi este furto, explica a mãe da vítima, que acabou por dar origem às agressões no dia seguinte. “O meu filho morreu por aquilo que não fez e a culpa morreu solteira”, diz.
Jorge Ganhão era o filho mais velho entre oito irmãos. Deixou uma filha com nove anos, agora com 17. A menina foi criada pela família paterna, já que a sua mãe emigrou após a perda do companheiro.

“Depois desse dia nunca mais foi o mesmo”
Jorge Ganhão esteve internado 12 dias até à sua morte e durante esse tempo “nunca mais foi o mesmo”. Deixou de andar, quase não falava e a comida era-lhe dada à boca pelas auxiliares do hospital. Zulmira Ganhão recorda a última vez que o viu fora de uma cama de hospital. “Apareceu junto de mim e do pai a cambalear e disse que lhe tinham batido”, conta a mãe que lhe pediu para que fosse ao hospital.

Passado marcado pela toxicodependência
O relatório médico é inconclusivo quanto à causa da morte. Nele vem descrita a lesão por traumatismo craniano, hematomas em várias partes do corpo e síndrome de abstinência. Jorge Ganhão tinha um passado marcado pela droga. Começou a consumir aos 13 anos e foram várias as tentativas para se livrar do vício. As recaídas aconteceram sempre. Na altura da sua morte há semanas que não consumia, tal como demonstra o relatório médico.
A família sabe que a ausência de droga num toxicodependente pode levar a várias complicações de saúde, mas não acredita que fosse essa a causa da morte de Jorge Ganhão. Por ter morrido no hospital, a autopsia não se realizou. “É como se tivesse morrido porque era drogado, mas houve um crime. O meu filho levou tareia, partiram-lhe a cabeça e foi para o hospital por causa disso”, diz Zulmira Ganhão.

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