Quando havia o poço da morte e se vendiam brinquedos de lata e penicos de loiça
“Os palhaços andavam pelas ruas, a distribuir panfletos do circo. Nas barracas de comes e bebes havia mesas com bancos corridos e os pipos de vinho com os copos alinhados em prateleiras. As louceiras desembrulhavam cuidadosamente as loiças, os bonecos, os santinhos, os belos penicos, decorados com paisagens bucólicas, flores e até imagens piedosas”.
Foi assim que, em Outubro de 2009, Maria Águeda Costa, na altura com 64 anos, recordou para O MIRANTE a Feira de Santa Iria da sua meninice. Uma feira iluminada “com uma luz fraquinha” e na qual eram penduradas, nas bancas de roupa, samarras com golas de raposa e safões de pele. Uma feira em que os brinquedos de madeira e de lata e as bonecas, de papelão ou celulóide, enchiam de sonhos as cabecinhas miúdas, de grandes olhos arregalados pela cobiça de tais tesouros.
A feira de Santa Iria realiza-se em Tomar há mais de 300 anos e foi-se modificando de ano para ano. Os mais velhos lembram-se da sardinha assada que se vendia nos terrenos localizados em frente da Rodoviária, junto à Várzea Grande. O frango assado era petisco ainda desconhecido e só viria posteriormente.
Maria Águeda Costa conta que o dia 19 de Outubro era o dia da Feira das Passas. Munidas de ceiras de palha ou, cabazes de verga, numa época em que os sacos de plástico não existiam, as senhoras rumavam à feira para comprar os frutos secos que no feriado de Todos-os-Santos, a 1 de Novembro, iriam dar às crianças que pediam “O pão por Deus”, de porta em porta.
A memória mais remota que José Antunes, com 87 anos em 2009, reteve da Feira de Santa Iria era a do “Poço da Morte”, divertimento que o levava à feira todos os anos. Já tinha mais de 20 anos quando viu, pela primeira vez, as acrobacias de mota que tinham lugar dentro de um poço de madeira. “Era um espectáculo grandioso que deixava toda a gente de boca aberta”, recorda.