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Fabrióleo não paga salários nem rescinde contratos e deixa trabalhadores desesperados
Fábrica, mandada encerrar pelo tribunal em Junho, continua a receber camiões. Vasyl Shevelyq

Fabrióleo não paga salários nem rescinde contratos e deixa trabalhadores desesperados

Dezenas de trabalhadores foram mandados de férias em Junho e desde essa altura estão sem receber ordenado e sem informações sobre o seu futuro, já que a empresa recebeu ordem do tribunal para encerrar. Os trabalhadores estão a recorrer à ACT e ao Tribunal de Trabalho, depois de os patrões terem “desaparecido” do Carreiro da Areia.


Desde meados de Junho que trabalhadores da empresa Fabrióleo estão sem receber o salário e sem saber o que será do seu futuro laboral. A administração da empresa de reciclagem de óleos de Carreiro da Areia, concelho de Torres Novas, recebeu ordem do Tribunal Central Administrativo Sul, a meio desse mês, para encerrar a fábrica e desde então a administração mandou alguns trabalhadores gozarem férias, sem qualquer justificação, referindo apenas que se fosse preciso voltarem ao trabalho os chamariam.
A administração da empresa até agora nada disse e dezenas de trabalhadores estão já numa situação financeira complicada. A empresa ainda não rescindiu contratos nem passou quaisquer documentos que permitam aos trabalhadores acederem aos subsídios de desemprego na Segurança Social. Alguns trabalhadores são chamados de vez em quando para duas ou três horas de trabalho, mas nada com regularidade. Isto porque, apesar da decisão do tribunal, a empresa continua a laborar, segundo garantem os residentes de Carreiro da Areia e aldeias vizinhas.
A fábrica receberá agora os camiões provenientes da empresa satélite da Fabrióleo, em Vendas Novas, a Extraoils – Oils 4 the Future, cuja administração é encabeçada pelos filhos de António Gameiro, Ana e Pedro Gameiro. O MIRANTE contactou a administração da Fabrióleo, mas foi Pedro Gameiro que disse não ser verdade o que dizem os trabalhadores, sem querer adiantar mais esclarecimentos.
Segundo o presidente da Câmara de Torres Novas, Pedro Ferreira, a empresa terá colocado um novo recurso para que a empresa não encerre. O autarca diz estar informado de que tanto o IAPMEI (Agência para a Competitividade e Inovação) como a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) sabem que existem movimentações suspeitas na empresa.

“Trabalhadores dizem-se abandonados
Os donos da Fabrióleo, António Gameiro e Isabel Gameiro, residiam na aldeia, mas desde Junho não são vistos por lá. “Fecharam o café a Tasca da Deolinda que tinham por baixo da casa e foram embora daqui. Tem sido um corrupio naquela casa porque os trabalhadores batem à porta para falar com eles e não estão lá”, diz Célia Ferreira, proprietária de um café em Carreiro da Areia.
O sogro de Célia Ferreira é um dos trabalhadores que foi mandado para casa e que já faz contas à vida, tal como dezenas de outros trabalhadores. Ao todo ninguém sabe quantos estarão nestas condições, uma vez que a empresa vai chamando alguns sempre que chegam camiões da fábrica de Vendas Novas. Os maus cheiros e a poluição na ribeira da Boa Água, afluente do rio Almonda, continuam a ser uma constante por aquelas bandas. Apenas o cheiro mudou. “Antes era um cheiro que se percebia ser de ácidos, agora cheira mesmo a podre”, relata Célia Ferreira.
Vasyl Shevelyq, ucraniano de 62 anos, mora mesmo ao lado da fábrica onde trabalha há nove anos a limpar os tanques. O salário de 800 euros, mais o subsídio de alimentação, fazia um total de quase mil euros que levava mensalmente para casa. Vive sozinho numa casa térrea e neste momento sobrevive do que conseguiu juntar para pagar as despesas fixas da casa e comer. Mas pouco falta até essas poupanças esgotarem.
“Estou com muito receio. Fomos abandonados. Mandaram-me de férias, dia 22 de Junho foi o meu último dia de trabalho, disseram que me chamavam se fosse preciso voltar a trabalhar. Mas, desde essa altura, nunca mais vi ninguém. Já lá fui bater à porta, ninguém estava. Desapareceram daqui. Nem dizem que a fábrica vai fechar, nem nos passam a carta para termos o subsídio de desemprego e a indemnização”, relata o trabalhador ucraniano.
Vasyl Shevelyq mostra à reportagem de O MIRANTE uma pasta onde guarda os papéis que a Autoridade para as Condições de Trabalho (ACT) solicitou e que irá entregar também no Tribunal do Trabalho. Por causa da pandemia os serviços do ACT estão mais demorados e pelo telefone ninguém atende. “Isto é de levar à loucura”, diz em tom de desespero.
Recorde-se que a Fabrióleo tem sido alvo de contestação por ser considerada uma fonte poluidora, nomeadamente da ribeira da Boa Água. Depois de considerar “improcedente” uma providência cautelar interposta pela empresa contra a decisão do IAPMEI que, em 2018, mandara encerrar a empresa, a decisão final chegou em Junho deste ano por parte do Tribunal Central Administrativo Sul.

Câmara vai notificar empresa para demolir pavilhões sem licença

A Câmara Municipal de Torres Novas prepara-se para notificar a empresa Fabrióleo para demolir os pavilhões construídos em terrenos onde o Plano Director Municipal (PDM) não permitia a edificação. Indicação que os administradores da empresa não acataram e há anos construíram aquilo que seria o parque de estacionamento e as oficinas dos camiões.
A única forma de conseguir o licenciamento dessas infra-estruturas era através da Declaração de Interesse Público Municipal (DIM), por parte da Câmara e Assembleia Municipal de Torres Novas, que não aprovaram essa proposta. A notificação da câmara vai obrigar à demolição dos pavilhões ali existentes. Caso isso não aconteça, num prazo estipulado, a autarquia pode demolir coercivamente os edifícios existentes, imputando os custos à empresa.

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