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O pessoal da saúde que fugiu com o rabinho ao vírus  e o fantasma da ponte

Desinfectante Serafim das Neves

A animação está de volta aqui ao nosso cantinho. Depois das tiradas épicas sobre um novo aeroporto em Tancos, chegam as declarações sobre a nova ponte sobre o Tejo no distrito de Santarém. O Presidente de Abrantes está radiante porque um passarinho lhe disse que a ponte vai ser no seu concelho. O de Constância está eufórico porque viu nas estrelas que a ponte vai ser feita no seu. O da Chamusca, uiva de dor porque a nova ponte não vai ser feita no seu.
Todos sabem que, tal como aconteceu há dez, vinte, trinta anos... não vai haver ponte nenhuma, mas alinham na brincadeira porque sem animação deste género, a política nem é política nem é nada. Abençoados autarcas, deputados e governantes que tanta música nos dão para animar a vida. O que faríamos sem eles, principalmente nós, que todas as semanas temos que dar algum colorido aos nossos e-mails do outro mundo.
Quando, nos primeiros tempos da pandemia, vi os meus vizinhos à janela a aplaudir os profissionais do Serviço Nacional de Saúde, não fui na onda. Afinal, ao longo dos anos eu só os ouvia dizer mal do atendimento no centro de saúde e nos hospitais e achei aquela passagem, da quase agressão ao aplauso entusiástico, manifestamente exagerada.
Agora, depois de saber que o absentismo no Serviço Nacional de Saúde aumentou 64% nos primeiros seis meses da pandemia, em relação ao mesmo período do ano passado, venho penitenciar-me e aplaudir com entusiasmo todos os que contribuíram para aquele aumento. É sempre reconfortante saber que, mesmo em circunstâncias difíceis, há quem mantenha viva a chama de não querer fazer nada, pela qual somos tão elogiados lá fora, em países como a Holanda, por exemplo.
Os funcionários que são mestres em saber aproveitar até ao tutano, todas as faltas, dispensas, pontes e baldas que a lei lhes permite e que, através de um aturado estudo do calendário no início de cada ano, conseguem ter mais dias de descanso do que de ida ao local de trabalho, já eram merecedores da minha admiração e inveja. Mas ao conseguirem aumentar daquela maneira, a correnteza de faltas sem perda de retribuição, em plena pandemia, são mais do que heróis e deveriam ser recompensados. No mínimo com mais uns dias de férias.
Quando, à medida que o vírus atacava, eu ouvia notícias de cancelamentos de consultas, cirurgias e exames, para mandar reforços para a frente de batalha, imaginava sempre os médicos, enfermeiras e auxiliares que trabalhavam naqueles serviços, a envergarem aqueles fatos da guerra química e a avançarem para tendas de campanha cheias de infectados, guardadas por presidentes de câmara de viseira tipo polícia de choque e coletes da protecção civil, mas afinal eles estavam em casa. De prevenção, mas em casa, embora prontos para saltarem do sofá a qualquer momento e avançarem para a guerra em menos de um fósforo. E esperar, como sabes, é bem mais duro que batalhar. Ó se é??!!
Saudações baldísticas
Manuel Serra d’Aire

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