“Pedro Ribeiro não tem competência para ser presidente de Câmara do Cartaxo”
Jorge Pisca é empresário, presidente do núcleo Nersant do Cartaxo e presidente da Junta de Freguesia de Pontével há dois mandatos. Sem papas na língua, crítica todos os presidentes que passaram pela Câmara do Cartaxo dizendo que foram responsáveis pelo estado lastimável das finanças do concelho, um dos cinco do país mais endividados. As suas maiores críticas vão para o actual presidente da câmara, Pedro Magalhães Ribeiro, a quem acusa de fazer baixa política e de não ter competência para exercer o cargo.
Quem são os culpados pela situação de ruptura financeira a que chegou o município do Cartaxo?
Não houve um único presidente da Câmara do Cartaxo que tenha feito uma boa gestão do município. Todos endividaram as contas da autarquia. Não houve ninguém com capacidade para fazer evoluir o concelho.
Quais foram os principais erros dos presidentes de Câmara do Cartaxo?
Durante o mandato de Renato Campos, ainda no século passado, houve bastante investimento no Cartaxo, numa altura em que estava tudo por fazer, mas as freguesias foram esquecidas. No tempo da presidência de José Conde Rodrigues começou a dar-se demasiado dinheiro às colectividades, quando não havia dinheiro para isso. O município, além de se ter endividado, ajudou demasiado as colectividades do concelho. Não podemos pedir dinheiro emprestado para dar às associações. Estas têm que ser auto-sustentáveis. Isto tudo somado vai dar uma dívida gigante.
E em relação à presidência de Paulo Caldas?
Paulo Caldas foi um presidente de câmara muito jovem e sonhador. Sonhou com a cidade do futuro, o aeroporto da Ota e as mais-valias que viriam para o concelho. Deveria ter tido alguém por perto que o travasse. Tem que se gerir tudo com os pés na terra, ainda mais um município, onde os dinheiros são públicos.
O actual presidente da Câmara do Cartaxo, Pedro Ribeiro, acusa-o de ter um discurso de ‘coitadinho’ para ganhar votos.
Essas afirmações são da política mais baixa que pode existir. Pedro Ribeiro é um político que nada fez na vida. Vive da política. Não tem competência para ser presidente de câmara. Se eu peço informações sobre a minha junta é para saber o que está previsto ser feito e porque tenho o dever de informar os meus fregueses. Quem não questiona são os cordeiros que estão sob a alçada dos lobos. Esse tipo de discurso é do século passado.
Os autarcas que não fazem uma boa gestão do município deveriam ser punidos criminalmente?
Criminalmente não, mas se não geriram bem os concelhos deveriam ser responsabilizados por essa má gestão. Se deixaram dívidas deveriam justificar como foi possível e porque deixaram aquelas dívidas. No entanto, se há um Tribunal de Contas que fiscaliza e também nunca levantou um dedo para criticar, quando deveria tê-lo feito, é porque o Estado deixa passar estas situações. E depois é o cidadão que paga.
Qual é o principal problema que levou à estagnação económica do concelho?
O principal problema é o facto de nenhum autarca ter apostado no desenvolvimento industrial, que traz riqueza e faz evoluir a economia do concelho. Quando a construção da auto-estrada do norte (A1) parou em Aveiras de Cima, nos anos 80 do século passado, deveríamos ter construído uma estrada de ligação da zona poente do concelho a Aveiras de Cima e instalar empresas porque o tráfego de pesados passava todo por ali. Foi o que Azambuja fez. As empresas instalaram-se junto aos terrenos onde passava a A1 e a indústria foi crescendo. Se a variante e o nó de acesso à A1 no Cartaxo, construídos em 2003, tivessem sido construídos 20 anos antes teria sido o Estado a pagar a obra e não o município, como veio a acontecer, o que ajudou ainda mais ao endividamento da autarquia.
Mais de metade
da população de Pontével não tem saneamento
Já fez diversas denúncias de descargas poluentes que vão directamente para a ribeira de Pontével. Porque é que isto acontece?
A freguesia de Pontével tem cerca de cinco mil habitantes, sendo a segunda maior do concelho. Sessenta por cento da população não tem saneamento básico e muitas vezes os resíduos das fossas vão directos para a ribeira de Pontével. Isto acontece porque ainda não houve o investimento previsto quando a Câmara do Cartaxo passou a concessão do abastecimento de água e saneamento no concelho para a Cartagua, em 2010.
O que levou a Cartagua a não avançar com os investimentos previstos?
A câmara municipal é que tem que dizer o rumo que a Cartagua tem que seguir. Se não o faz, a concessionária faz como quer. O saneamento básico está colocado em Casais Penedos desde 2018 e as pessoas não podem fazer a ligação porque a Cartagua construiu duas estações elevatórias mas uma não tem luz eléctrica. São preciosos dois anos para colocar luz eléctrica? São questões que deveriam ser respondidas.
Concorda que a Câmara do Cartaxo volte a assumir a gestão do sistema de água e saneamento do concelho?
Estou de acordo com tudo o que seja positivo para o município mas não acredito que o resgate avance, pois iria demorar anos a acontecer. Até lá termina a concessão, que é de 30 anos. Já passaram dez anos e ainda não se resolveu o problema entre a câmara e a Cartagua. Além disso, o município tem que indemnizar a concessionária em caso de resgate. Já estamos endividados por 30 anos, ainda nos vamos endividar mais?
“Não entendo qual é a utilidade real das comunidades intermunicipais”
Diz que tem as piores estradas do concelho, que já deveriam ter sido requalificadas há muito tempo.
A rede viária de todo o concelho está lastimável, em particular as estradas da freguesia de Pontével. Há 20 anos que solicitamos intervenções nas estradas, porque estão uma miséria, e até agora ainda não foram arranjadas. O centro da vila está degradado. No entanto, elogio o facto do executivo municipal ter aprovado a proibição da circulação de veículos pesados pelo centro de Pontével. Os camiões dão cabo do reboco das casas, destroem os beirados, deitam abaixo os postes de iluminação e danificam as estradas. Foram dois anos a lutar por isto e só falta colocar os sinais de trânsito.
O Cartaxo teria sido beneficiado se o passe social do comboio fosse alargado até ao concelho?
Lamento que o presidente Pedro Ribeiro não tenha lutado para que o passe social do comboio fosse alargado até ao Cartaxo. Quando foi a revisão do PDM a Junta de Pontével sugeriu que a linha urbana de Azambuja fosse estendida até à estação ferroviária do Setil ou Santana. Há muitas pessoas que vêm viver para Pontével porque é mais perto para apanharem o comboio em Azambuja e fica mais barato. Mas também seria muito próximo apanhar o comboio no Setil e talvez isso trouxesse benefícios para o concelho.
Qual é a sua opinião sobre as comunidades intermunicipais?
Não entendo qual é a utilidade real das comunidades intermunicipais uma vez que têm diversos municípios, os ricos e os pobres, e existem muitos interesses, em que as câmaras ricas ganham sempre. O dinheiro que é canalizado para as comunidades intermunicipais deveria ir para associações e IPSS. Para que é que as comunidades intermunicipais precisam de fiscalizar os municípios? Existem muitas estruturas que servem apenas para dar emprego às pessoas que nada sabem fazer e que pertencem à estrutura dos partidos.
“Nunca pensei ser presidente de junta”
Aos 57 anos Jorge Pisca mantém-se como presidente do núcleo da Nersant – Associação Empresarial da Região de Santarém – do Cartaxo e defende que deveria haver um maior incentivo para as empresas se instalarem no seu município. No segundo mandato à frente da Junta de Pontével ainda não decidiu se se recandidata e garante que nunca será candidato à presidência da Câmara do Cartaxo. “Sou um homem de desafios. Nunca pensei ser presidente de junta. Quando me convidaram achei que poderia ajudar a minha freguesia e por isso avancei”, diz, acrescentando nunca ter sido filiado em nenhum partido.
O empresário defende a importância de chamar empreendedores, convencê-los a investir no concelho e não deixar fugir as empresas que lá estão. Considera que falta um conjunto de pessoas que se unam para melhorar a situação difícil que o Cartaxo vive e não deixar nas mãos dos políticos todas as decisões para o concelho.