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“Uma junta de freguesia que não consiga negociar com a câmara está tramada”
Nelson Norte dispensa gravatas e políticas agressivas para ser notícia em jornais

“Uma junta de freguesia que não consiga negociar com a câmara está tramada”

Nelson Norte é presidente de Junta de Freguesia de Santo Estêvão, bastião do PSD no concelho de Benavente. Em entrevista a O MIRANTE diz que os novos moradores vindos de Lisboa foram uma lufada de ar fresco para a aldeia, que tem crescido em população mas perdido serviços. Critica a Águas do Ribatejo por bombardear a população com facturas exorbitantes em tempos de pandemia e defende que as juntas de freguesia deviam ter mais verbas e poder de decisão.

Santo Estêvão foge ao panorama de desertificação da maioria das aldeias do país, apresentando uma curva demográfica de sentido ascendente. O que atrai tanta gente?

Acredito que seja a ruralidade e a natureza, a segurança e qualidade de vida que oferecemos, aliadas à proximidade com Lisboa. Das 400 quintas que começaram a ser construídas e habitadas há cerca de 10 anos, hoje quase todas são de primeira habitação. As pessoas estão a vender as suas casas em Lisboa e a viver permanentemente na aldeia.

Fechados nas suas casas e afastados da restante comunidade?

Durante muito tempo foi assim, ninguém os via ou conhecia. Mas nos últimos anos essas famílias acabaram por se envolver nas colectividades por causa dos filhos.

E o que lucrou a freguesia com a vinda destes novos moradores?

Foi sempre positivo para a população a vinda destes novos moradores, a começar pelo emprego que deram e dão a muita gente, desde a construção das casas, a empregadas domésticas, jardineiros, electricistas, canalizadores, restauração e comércio local. Os moradores das quintinhas foram uma lufada de ar fresco para a aldeia de Santo Estêvão.

O que se ouve é que não deram emprego a ninguém e que nas suas casas só trabalham imigrantes.

Essa ideia é errada. Havia trabalho para muita gente, não havia era pessoas suficientes na nossa aldeia para trabalhar. Repare-se que o mesmo acontece com empresas como a Marinhave que precisam de recrutar pessoas vindas do estrangeiro.

A população cresce mas os serviços na aldeia diminuem. É disso exemplo o único balcão bancário ter sido fechado. Onde está, afinal, o desenvolvimento?

Durante muitos anos esse balcão vivia dos agricultores da aldeia, mas actualmente quase não tinha clientes, porque a agricultura está entregue a três ou quatro empresários. Fizeram-se várias tentativas, mas as pessoas preferem outros bancos e, quanto a isso, não há nada a fazer. Reconheço que para alguns fazia falta, mas não há forma de voltar atrás até porque o edifício já foi vendido.

O multibanco que está nesse edifício, único na aldeia, também vai desaparecer?

Vai mudar de sítio. Em conjunto com a Câmara de Benavente estamos a fazer obras na antiga sede da junta e é lá que o vamos colocar, à nossa responsabilidade.

E para o quartel dos bombeiros construído pela população ainda há esperança?

Houve sempre uma ideia de uma possível abertura, mas com bombeiros profissionais porque o voluntariado está condenado. Já estava na altura e foi por isso que fechou. Agora há a possibilidade de um sector de formação da Cruz Vermelha vir aqui instalar-se.

“Águas do Ribatejo não teve sensibilidade para perceber que não era a altura certa para fazer acertos”

Facturas da água com valores exorbitantes estão a levar alguns dos seus fregueses a avançar para a justiça contra a empresa Águas do Ribatejo. Têm-lhe chegado essas queixas?

Foram muitos os que nos vieram pedir ajuda e a junta, em nome dessas pessoas, solicitou vários pedidos de esclarecimento à empresa, mas até à data não obtivemos qualquer resposta. É de lamentar porque estamos a falar de pessoas com fracos recursos a ter facturas com valores que não conseguem pagar. Não se compreende como a Águas do Ribatejo não teve sensibilidade para perceber que não era a altura certa para fazer acertos.

A junta de freguesia também foi surpreendida?

Chegaram-nos contas de 600 euros a dois mil euros da rega de jardins. Valores que estão longe do que costumávamos pagar e a junta de freguesia não andou a fazer mais regas durante a pandemia. Pagámos mas reclamámos.

Na sua opinião o concelho ganhou ou perdeu com a adesão da Câmara de Benavente à Águas do Ribatejo?

Avaliando pela qualidade da água perdeu. E não tenho dúvidas que a população partilha da mesma opinião. Nesta freguesia bebia-se água da torneira, hoje em dia andamos todos a comprar água engarrafada. Há investimento feito por parte da empresa mas também passamos a pagar taxas muito superiores para que isso acontecesse.

“Uma junta não devia estar tão dependente de uma câmara municipal”

É raro ouvi-lo falar numa assembleia municipal e fazer frente ao presidente do município, Carlos Coutinho (CDU).

O meu trabalho é diário, não estou à espera de ir a uma assembleia municipal para fazer oposição. Além disso, a oposição que é praticada na Assembleia Municipal de Benavente é agressiva e tenta fazer política para sair nos jornais. Não traz nada de positivo para o concelho. A minha missão é outra: olhar pela população e melhorar a freguesia.

Do presidente Carlos Coutinho consegue o que quer para a freguesia?

Temos uma boa relação, mas bato o pé quando é para defender os interesses da freguesia. A requalificação do Largo da Praça é exemplo disso. No entanto defendo que uma junta não devia estar tão dependente de uma câmara municipal. A administração central é que devia colocar mais dinheiro nas juntas e deixá-las governar a sua freguesia, porque se houver uma que não consiga negociar com a câmara está tramada.

Desde que está à frente da junta (2013-2020) o orçamento cresceu de 140 mil euros para 300 mil, fruto dessas negociações?

Nesse caso deve-se ao facto de assumir mais trabalho e responsabilidade através da transferência de competências que andávamos a pedir à câmara municipal desde o primeiro mandato. Aqui não temos medo de trabalhar nem de contratar. De três funcionários passámos a treze. Em Janeiro vamos assumir a limpeza urbana.

Qual é a sua opinião sobre entregar esse tipo de serviços a empresas privadas, como acontece neste concelho?

Se fosse presidente da câmara nunca teria abdicado da gestão da limpeza urbana até porque os meios humanos contratados podem ser aproveitados para outras tarefas. Nesta freguesia temos saído muito prejudicados. Muitas vezes a junta tem de meter os seus trabalhadores a acompanhar esse serviço porque não fica bem feito.

“Não preciso de andar de gravata para ser respeitado”

Nelson Norte nasceu a 12 de Abril de 1981. Cresceu a brincar nas ruas de Santo Estêvão, numa altura em que as portas de casa estavam sempre abertas e as bicicletas descansavam encostadas aos muros. “A segurança era garantida e as pessoas conheciam-se todas”. Profissão só teve uma: mecânico numa oficina da aldeia. “E não preciso de andar de gravata para ser respeitado”, atira.
Desde muito novo ligado ao associativismo, nunca imaginou que isso lhe abrisse portas para a política. Até porque não era meio onde quisesse entrar. “Quando aceitei o convite do vereador Ricardo Oliveira (PSD) para ser candidato tinha dificuldade em imaginar-me nestas funções”, confessa, acrescentando que a dez meses do fim do segundo mandato ser presidente de junta mudou-lhe a vida e fazer algo para melhorar a freguesia tornou-se um vício.
Atirando-se a previsões afirma que não só vai cumprir como vai superar o programa eleitoral com o qual se comprometeu em 2017. E se assim for, diz, não tem problema algum em voltar a candidatar-se. Olhando para trás, não precisa de pensar muito para eleger o que de melhor fez pela freguesia: “O balcão sénior, sem dúvida. Prestamos serviço gratuito a 100 idosos e andamos perto dos mil atendimentos. Não há um dia em que as nossas carrinhas não se desloquem a Benavente ou Vila Franca de Xira para os acompanhar a consultas ou outros serviços”.

“Uma junta de freguesia que não consiga negociar com a câmara está tramada”

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