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Lar da Misericórdia de Alhandra vive segundo surto  de Covid mas a instituição está bem entregue  
Provedor da Misericórdia, José Alves assegura que idosos têm acesso aos cuidados médicos necessários dentro da instituição

Lar da Misericórdia de Alhandra vive segundo surto  de Covid mas a instituição está bem entregue  

A Covid-19 voltou sete meses depois do primeiro surto e causou 24 mortes em duas semanas. A população da vila diz-se desesperada mas é dentro dos portões, onde agora funcionam dois lares em um, que se trabalha até ao limite. O provedor da instituição garante que os utentes têm acesso a todos os cuidados médicos.


Idosos a alimentar os pássaros que vão pousando no pátio do lar da Associação do Hospital Civil da Misericórdia de Alhandra são o pouco que resta da normalidade nesta instituição onde a Covid-19 entrou com estrondo pela segunda vez. “Esta não é a vida normal deles no lar. É a normalidade que conseguimos ter”, lamenta a O MIRANTE o provedor da instituição, José Alves, que também foi apanhado pelo vírus, mas já recuperou. Aos 24 óbitos causados pela Covid-19, 59 utentes e 16 funcionários infectados, somam-se as preocupações habituais com os que sofrem de demência ou outras patologias, mas que escaparam ao SARS-coV-2.
Do lado de fora, ninguém quer chegar perto dos portões com medo de ser contagiado. “Há pessoas que já chegaram ao ponto de dizer ‘corram com o lar daqui porque isto está a infectar a população toda’. Estão em desespero porque desconhecem a verdade e é só aquilo que se ouve na rua”, referiu à Lusa o presidente da União de Freguesias de Alhandra, São João dos Montes e Calhandriz, Mário Cantiga. Mas o desespero está do lado de dentro, onde o cansaço toma conta das funcionárias e profissionais de saúde, que “tudo têm feito para que nada falte aos utentes”, responde o provedor.
“As pessoas da vila em vez de criticar e duvidar deviam apoiar quem está cá dentro e também tem medo mas recusa-se a virar a cara e a abandonar os utentes”, vinca José Alves, garantindo que o perigo de contágio caminha de fora para dentro do lar e não ao contrário. Dentro daqueles portões é como se desde a chegada do vírus funcionassem dois lares distintos, completamente independentes um do outro: um lar limpo e um infectado.

Dois lares em um
Na ala de infectados os 52 idosos positivos à Covid-19 estão distribuídos por três espaços e recebem acompanhamento clínico diário formado por uma equipa de três médicos e 11 enfermeiros. “Estamos a trabalhar como se fossemos um hospital, onde desde a primeira hora nunca faltaram os cuidados dos profissionais de saúde”, observa José Alves. À data de fecho desta edição, sete dos 59 infectados estavam internados no Hospital Vila Franca de Xira.
As 24 mortes em pouco mais de 12 dias chocaram a vila de Alhandra e o país. “É um número que assusta”, lamenta José Alves. Um dos idosos que perdeu a vida para a Covid-19 ia celebrar 101 anos em Janeiro de 2021. Morreu após uma semana de internamento no Hospital Vila Franca de Xira, onde lutou contra o novo coronavírus e outras patologias das quais padecia há vários anos. “De todos estes utentes que perderam a vida nenhum foi abandonado e a nenhum faltou tratamento médico”, assegura o responsável da Misericórdia.

Segurança Social e Cruz Vermelha não faltaram à chamada
A instituição garante que agiu como devia desde a primeira hora e até agora não foi detectada uma falha ao plano de contingência. “Apenas algumas correcções têm sido sugeridas pela delegada de saúde que nos tem acompanhado, para melhorar”, garante José Alves. A Segurança Social foi contactada a 5 de Novembro, tendo a sua brigada de intervenção rápida chegado ao terreno 48 horas depois de ter sido activada. Por sua vez, esta entidade contactou a Cruz Vermelha Portuguesa para prestar auxílio à instituição a 6 de Novembro, pelas 17h00. Na manhã seguinte “sete agentes da acção directa e três auxiliares estavam já a trabalhar em Alhandra”, garante o presidente da Cruz Vermelha Portuguesa, Francisco George. Informação que o provedor corrobora a O MIRANTE, salientando que a presença desta brigada da Cruz Vermelha foi chamada para substituir os funcionários infectados e não a equipa médica que nunca deixou de estar ao serviço.
O presidente da junta, Mário Cantiga, diz que têm chegado diariamente à junta de freguesia telefonemas de familiares dos utentes deste lar que “não conseguem obter informação junto da direcção” da instituição “e que muitas vezes não sabem o que se passa”. Sobre estas queixas, o provedor reconhece a O MIRANTE que o contacto com as famílias não tem sido uma prioridade neste momento, em que apenas metade dos funcionários está ao serviço. “Pondo-me do lado das famílias, claro que compreendo as suas preocupações, mas é preciso compreender que estamos com limitações de pessoal”, afirma, acrescentando que neste lar 60 por cento dos idosos sofre de demência, não conseguindo comunicar sozinhos.
A pandemia vai certamente deixar marcas na vida destes idosos, pelo menos naqueles que estão lúcidos e conscientes do medo que este vírus que já ali entrou duas vezes, a primeira em Abril, lhes provocou. E dos abraços que lhes roubou. “Há esperança, mas isto ainda não vai acabar aqui. Quando nos livrarmos deste surto, preparar-nos-emos para o próximo esperando que nunca cá entre”, remata o provedor.

Lar da Misericórdia de Alhandra vive segundo surto  de Covid mas a instituição está bem entregue  

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