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Viúva de idoso que morreu na GNR de Aveiras de Cima ainda chora por justiça  
Camila Martins não esquece o desespero de ver o marido, Eduardo Martins, algemado e deitado no chão do posto da GNR de Aveiras de Cima onde faleceu vítima de ataque cardíaco

Viúva de idoso que morreu na GNR de Aveiras de Cima ainda chora por justiça  

Eduardo Martins morreu no dia 12 de Janeiro de 2020, vítima de ataque cardíaco, no posto da GNR de Aveiras de Cima depois de ter sido detido porque não parou num sinal stop. Viúva conta pela primeira vez o que viu naquele dia e a mágoa que sente por ainda não ter sido feita justiça. Processos disciplinares aos guardas estão há quase um ano suspensos.

Foram horas de terror e desespero para Camila Martins, enquanto o seu marido esteve algemado e deitado no chão do posto da GNR de Aveiras de Cima, onde acabaria por falecer vítima de um ataque cardíaco. Foi no dia 12 de Janeiro de 2020. Quase um ano depois a viúva continua à espera de justiça. Os militares foram transferidos de posto, mas os processos disciplinares mantêm-se suspensos.
Na casa onde viveu mais de 50 anos de casamento Camila Martins conta a O MIRANTE que o marido, de 76 anos, esteve horas algemado atrás das costas, de casaco rasgado e roupa cheia de lama. “Gritava muito a dizer que lhe tinham batido e chamava nomes aos guardas”. Foi assim que a viúva o viu e ouviu pela última vez, através de um vidro, antes de cair inanimado no chão. “Quando parou de gritar achei que estava mais calmo, afinal estava a morrer e ninguém fazia nada”, lamenta a viúva sem conseguir esconder as lágrimas.
Aproveitou a saída de um militar para entrar na sala cujo acesso lhe tinha sido proibido. “Nem queria acreditar no que estava a ver”. Dois guardas ajoelhados a tentar reanimar Eduardo Martins. “Um deles veio dizer-me que estava a recuperar bem, mas já estava morto. Tinha morrido naquele posto aos pés dos guardas”. O corpo foi transportado para o hospital e mais tarde a autópsia confirmou a morte por causa natural.
Contactada por O MIRANTE, a GNR refere que os militares intervenientes foram transferidos para outro posto e que foram instaurados dois processos disciplinares que se encontram suspensos por decorrer processo-crime no Tribunal Judicial de Alenquer.
Para Camila Martins, a “justiça tem que ser feita” pela forma como trataram o seu marido que “não era homem violento” e só estava detido por desrespeito a um sinal de trânsito. Lembra a quantidade de vezes que pediu em vão que lhe tirassem as algemas, ou deixarem-na acalmá-lo, explicando aos guardas que Eduardo sofria do coração e já tinha feito dois cateterismos. “Nunca deixaram e isso não perdoo”, diz.

“Ao menos um pedido de desculpas”
Aos 78 anos e viúva, Camila Martins já pouco sai de casa, mas todas as vezes que passa junto ao posto da GNR de Aveiras de Cima lembra a noite de 12 de Janeiro de 2020. “Às vezes falo para os guardas com a revolta, às vezes só páro e choro, mas nunca nenhum me veio dar uma palavra. Ao menos um pedido de desculpas”, refere a viúva com uma fotografia sua e do marido nas mãos.
Quando naquele domingo Eduardo Martins decidiu sair de casa para beber um café e pôr a conversa em dia com os amigos num estabelecimento no centro da vila, a esposa, que geralmente o acompanhava, decidiu ficar em casa. “Vou ao café e não me demoro, disse-me”. Mas nunca mais voltou. Eram perto das 19h00 quando arrancou na motorizada e percorreu cerca de 50 metros em caminho de terra batida até ser mandado parar por dois militares da GNR porque alegadamente não tinha parado no sinal stop.
As vozes exaltadas, o barulho das portas do carro a bater chamaram a atenção de uma vizinha que relatou na altura que Eduardo Martins tinha sido “atirado ao chão, posto a rebolar, algemado” e metido dentro do carro da patrulha. A mesma vizinha que correu até à casa do casal e avisou Camila Martins do sucedido.

Viúva de idoso que morreu na GNR de Aveiras de Cima ainda chora por justiça  

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