Solange Cardinaly é uma ilusionista à espera de poder voltar a encantar plateias
“Agora está tudo na internet mas antigamente ilusionistas não revelavam os seus truques”.
Nasceu e cresceu no circo, no seio de uma família de ilusionistas. Aos quatro anos já era assistente do pai. Aos sete apresentou em palco o seu primeiro número de magia. Agora, aos trinta, casada com um outro ilusionista, e com um filho de cinco anos que dá os primeiros passos na arte, aguarda a altura de poder voltar a maravilhar plateias.
O encontro com Solange Cardinaly aconteceu no parque do Bonito, no Entroncamento, cidade onde actualmente reside. O motivo foi a sua actividade como mágica e nada melhor para uma apresentação, do que uma demonstração ao vivo daquilo que pode ser um número de magia.
A certa altura da conversa, a pedido dela e longe da sua vista, foi escrito na calculadora do telemóvel um número com quatro dígitos. Escolhemos o 1989. A seguir ela pede para que lhe seja adicionado um número entre 50 e 100 e que o resultado seja multiplicado por outro número de dois dígitos à nossa escolha. No fim de todas as operações o visor do telemóvel indicava 12 510.
Solange Cardinaly mostra na máscara que tem colocada, uma série de números aleatórios e pede que lhe seja dito em voz alta o resultado. Com um movimento ela faz deslizar a máscara e, por magia, aparece o número indicado escrito no tecido.
Entre espanto e gargalhas perguntamos-lhe como fez. “O segredo é a alma da magia e o seu encanto”, respondeu, recusando-se a desvendar o truque, que diz ter criado com o marido, José Jiménez, durante o confinamento. E acrescenta que já existem várias versões dele a nível mundial.
Solange Cardinaly explica que existem várias técnicas para distrair as pessoas e conseguir fazer os truques sem que elas se apercebam. Se conseguirmos, acontece a “magia”, sublinha.
A aprendizagem da arte foi feita naturalmente ao longo da vida. Solange Cardinaly cresceu no meio circense. Viajava com os pais, que eram ilusionistas, numa caravana pelo país e iam actuando nos mais diversos palcos. Aos 4 anos de idade já era assistente nos truques de magia do pai. “A minha mãe, que também participava nos truques, ensinava-me as técnicas e eu aparecia no palco e saudava o público. Aprendi tudo sobre magia com o meu pai e o meu avô”.
Aos 7 anos teve o seu primeiro número de magia geral de palco. Fazia aparecer pombas e lenços do nada. O primeiro prémio internacional chegou quando tinha 10 anos e participou na primeira edição do “GOT Talent Portugal” com apenas 16 anos. O número profissional de manipulação de pombas valeu-lhe o caminho até à semifinal do programa. O número que apresenta hoje a nível mundial é o Quick Change que consiste em trocar de roupa várias vezes... sem nunca sair do mesmo sítio.
Refere que o palco mais famoso que pisou foi o da “Mercedes-Benz Arena em Xangai”, há cerca de um ano, no espectáculo “Double Show”. Partilhou o palco com a cantora internacional Taylor Swift, ao vivo, perante uma plateia de 17.500 pessoas.
“O meu filho Jason, de cinco anos, também já tem uma linha de truque só dele”
Um ilusionista não vê o trabalho de outro da mesma maneira que um espectador normal, como é óbvio. “Quando vejo um mágico a fazer magia vejo de maneira diferente porque sei os truques que está a usar. Vejo como ele faz. Aprecio o truque. O trabalho dele”, explica Solange Cardinaly. Sobre o seu trabalho explica que é exigente.
“Ser ilusionista requer um treino diário. A magia é uma aprendizagem constante. Nunca podemos fazer o mesmo truque. Tento chegar sempre ao final do dia e saber que criei algo. É frustrante quando isso não acontece”.
Na sua opinião quem hoje quiser ter uma actividade como ilusionista tem maior facilidade do que há alguns anos. “Na altura do meu pai, os mágicos eram mais reservados e não revelavam segredos entre eles. Hoje em dia com toda a informação que existe na internet a maior parte dos truques são explicados, o que estraga a arte da magia. Muitas pessoas já não são tão surpreendidas como antigamente”.
Foi a magia que a juntou ao marido que também é ilusionista. José Jiménez tem 46 anos e é espanhol. Fazia o mesmo número de magia que Solange Cardinaly quando se conheceram e apesar de terem seguido caminhos diferentes reencontraram-se num espectáculo. Têm um filho, Jason dos Santos, que com apenas 5 anos também já partilha a paixão pela magia. “Já tem uma linha de truque só dele e uma vestimenta de mágico. Já sabe fazer aparecer cartas e quer muito ser o meu assistente nos espectáculos”, conta Solange com orgulho.
Em tempos de pandemia os espectáculos foram todos cancelados. Infelizmente a Covid-19 não desaparece por artes mágicas e há que aguardar por outros tempos em que seja possível voltar a encantar grandes plateias.