Jorge Dias em prisão preventiva desde as vésperas de Natal
Ex-construtor civil de Abrantes, que se considera lesado pela Câmara de Abrantes, ficou em prisão preventiva após ter agredido autarcas em plena reunião do executivo. Um episódio que culminou um longo historial de litígios e protestos.
O ex-construtor civil de Abrantes que responsabiliza a Câmara de Abrantes pela falência da sua empresa passou o Natal encarcerado no Estabelecimento Prisional de Leiria, em resultado do episódio de violência que protagonizou na reunião de câmara de Abrantes de 22 de Dezembro. Foi o culminar de um historial de litígio com muitos protestos, reclamações, processos judiciais e revolta acumulada por parte de Jorge Ferreira Dias, que continua a acusar a autarquia de lhe ter estragado a vida e de ter contribuído decisivamente para a ruína dos seus negócios.
O juiz de instrução decidiu aplicar a medida de coacção mais gravosa a Jorge Dias, a prisão preventiva, depois do empresário ter agredido o presidente da Câmara de Abrantes, Manuel Valamatos, assim como o vice-presidente, João Gomes, e de ter empurrado a funcionária do município Manuela Marques. Os três foram transportados ao Hospital de Abrantes com ferimentos ligeiros. Tiveram alta hospitalar pouco tempo depois. Tudo aconteceu na manhã de 22 de Dezembro, no edifício Pirâmide, onde decorria a habitual sessão camarária do executivo municipal.
O empresário entrou de rompante. A funcionária Manuela Marques tentou travá-lo mas Jorge Ferreira Dias empurrou-a com o braço. De cajado em punho colocou-se à frente do presidente ameaçando os presentes. “Vamos resolver isto a bem ou mal. Para a próxima trago uma granada em cada mão, fecho a porta, e morrem todos”, afirmou visivelmente perturbado. Derrubou mesas e danificou equipamento. A emissão online, a que O MIRANTE estava a assistir, foi interrompida e posteriormente suspensa.
No momento de maior confusão Jorge Dias atirou-se a Manuel Valamatos para o agredir com um cajado, mas o presidente conseguiu segurar o pau. No entanto, ficou ferido no lábio. O vice-presidente João Gomes magoou o cotovelo ao tentar impedir o confronto. Valamatos nunca perdeu a calma perante a exaltação do empresário. Foi apresentada queixa-crime contra Jorge Ferreira Dias. A Polícia de Segurança Pública foi chamada ao local e levou o agressor para a rua tendo ficado detido até ao dia seguinte, quando foi ouvido no Tribunal de Santarém.
O juiz de instrução criminal do Tribunal de Santarém decretou a medida de coacção de prisão preventiva, a mais gravosa, tendo sido encaminhado para o Estabelecimento Prisional de Leiria onde fica a aguardar os desenvolvimentos do processo.
Contactado por O MIRANTE, Manuel Valamatos preferiu não tecer comentários. Admite, no entanto, tomar medidas de segurança, para que situações destas não voltem a acontecer.
Empresário mantém
litígio com Câmara de Abrantes há vários anos
O empresário mantém um litígio com a Câmara de Abrantes há vários anos. Conforme O MIRANTE noticiou na edição de 17 de Outubro de 2013, Jorge Dias interpôs no Tribunal Administrativo de Leiria uma acção na qual era ré a Câmara de Abrantes e em que reclamava o pagamento de 6 milhões e 693 mil euros. A acção foi enquadrada no âmbito de um pedido de indemnização por danos morais. O empresário imputou responsabilidades da falência da sua empresa de construção à Câmara de Abrantes devido a várias questões. Há cerca de um ano o Tribunal Administrativo de Leiria absolveu a Câmara de Abrantes no processo.
Um terreno na origem da discórdia
Jorge Dias tem recebido muito apoio popular como aconteceu em 11 de Junho de 2019 junto aos paços do concelho de Abrantes quando se deslocou mais uma vez a uma reunião de câmara para reclamar aquilo a que diz ter direito. O antigo construtor civil mantém um litígio com a autarquia há vários anos que tem na origem a titularidade sobre uma parcela de terreno.
No início dessa reunião de câmara, o presidente Manuel Valamatos (PS), leu um comunicado onde desmentiu algumas declarações de Jorge Ferreira Dias numa reportagem televisiva transmitida nessa altura. O autarca negou que a Câmara de Abrantes soubesse que o terreno na origem da disputa judicial não era de uma empresa de venda de automóveis com a qual a autarquia estabeleceu uma permuta de terrenos. O presidente disse também que o município nunca instaurou nenhum processo pedindo a insolvência de Jorge Ferreira Dias nem de qualquer empresa sua.
“Em 2006, aquando da aquisição do terreno em causa pela Câmara de Abrantes, a empresa reunia todos os documentos legalmente exigíveis para se efectivar o negócio e a escritura do mesmo. Posteriormente, a Construções Jorge Ferreira Dias manifestou que também era proprietária do mesmo terreno apresentando a escritura do mesmo. O município limitou-se a pedir ao tribunal que identificasse a propriedade do terreno que lhe tinha sido transmitido pela empresa em causa”, afirmou o autarca.
Valamatos explicou que a Câmara de Abrantes admite não viu ser-lhe reconhecida a propriedade do terreno mas adiantou que o tribunal nunca esclareceu de quem era o terreno, o que justificou o recurso em tribunal. “Dos dois recursos efectuados, a primeira decisão manteve-se, estando o terreno actualmente na massa insolvente da Construções Jorge Ferreira Dias”, disse, acrescentando que nunca a Câmara de Abrantes foi condenada a qualquer pagamento ao empresário Jorge Ferreira Dias, nem este foi condenado a pagar nada ao município. Jorge Ferreira Dias disse que o autarca não estava a falar a verdade e que tinha documentos que provavam o que estava a dizer.