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“Os jovens não podem ter medo de assumir o seu papel na sociedade”
Para André Salema a vila de Azambuja continua a ser um bom sítio para se viver, mas tem que se modernizar

“Os jovens não podem ter medo de assumir o seu papel na sociedade”

André Salema, 36 anos, presidente dos Bombeiros Voluntários de Azambuja

André Salema diz-se um homem de causas e que não baixa os braços com facilidade. Foi o presidente de uma associação de bombeiros mais novo do país. Aos 24 anos passou pelo momento mais doloroso da sua vida: perder na estrada o irmão que seguia em missão de socorro. Da dor nasceu uma nova luta, com a criação de um movimento cívico.

Ter que dizer a alguém que um ente querido morreu num acidente na Estrada Nacional 3 marcou-me muito. Essa estrada, onde também perdi o meu irmão, Pedro Salema, virou uma das minhas lutas com a constituição do Movimento Plataforma EN3. O meu irmão é e vai ser sempre o meu herói. Um bombeiro que morre na estrada ao serviço do país, a prestar socorro, não pode ser menos que herói. Também é por ele que sou, há nove anos, presidente dos Bombeiros de Azambuja.
Neste país nada avança com a celeridade com que devia. O Estado tem culpa, mas também é preciso responsabilizar os municípios. Na EN3 circulam em média 10 mil veículos pesados por dia e se as empresas continuam aqui a instalar-se é porque alguém o permite.
Sem me querer pôr em bicos de pés, defino-me como um homem de causas. Não baixo os braços com facilidade. Quando sei que sou capaz de contribuir para melhorar o bem comum não fico parado. Ficar atrás de um computador a criticar tudo e todos é um acto muito pouco legítimo. O comandante dos Bombeiros de Azambuja, Ricardo Correia, disse-me que se queremos as coisas bem feitas temos de ser nós a fazê-las. E esse passou a ser um dos lemas da minha vida.
Entrar para os bombeiros aos 14 anos foi uma das melhores decisões que tomei na vida. Não há melhor escola para fazer alguém crescer enquanto indivíduo. Fui o presidente de uma associação de bombeiros mais novo do país. Tinha 27 anos. Os jovens não podem ter medo de assumir o seu papel na sociedade, de tomar decisões e de pensar pela sua cabeça.
Os bombeiros deste país precisam de uma reorganização profunda. Há 400 associações de bombeiros a pensar de maneira diferente. Há nove anos que luto pela unificação dos dois corpos de bombeiros deste concelho. Os bombeiros comparativamente com outras forças de protecção civil têm sido colocados em segundo plano. Aos que asseguram 90 por cento do socorro em Portugal, falta valorização das carreiras e investimento em equipamentos e recursos humanos.
É urgente devolver Azambuja ao rio Tejo. A ligação que existia morreu com o tempo. Há obras como a do Esteiro que precisam de sair da gaveta rapidamente. Azambuja precisa de voltar a ser amada e de se ligar às restantes freguesias. Brincar na rua até o meu pai me ir buscar por uma orelha é das melhores memórias que guardo da infância em Azambuja. Esta vila continua a ser um bom sítio para se viver mas precisa de se modernizar.
Não me custa admitir quando me provam que estou errado. Não tenho visões clubísticas. A falsidade e a incompetência propositada tiram-me do sério. Não consigo conviver com pessoas assim.
A saída do Grupo Mello da gestão do Hospital Vila Franca de Xira preocupa-me muito. Não é que não acredite na gestão pública, mas defendo que os profissionais que estão nos sítios certos e a desempenhar um trabalho excepcional devem continuar.
O meu avô Salema ensinou-me a lutar por aquilo em que acredito. Era o maior aficcionado de Azambuja. Uma vez tentou pôr-me em frente a uma vaca brava mas nunca tive coração para isso.
Gosto do movimento tertuliano de Azambuja em dias de festa. A pandemia deixou-me uma enorme saudade de conviver. E pôs-me à prova... Não foi fácil adaptar-me a reuniões em plataformas digitais.
Desligo de tudo quando me agarro a um bom livro. Gosto do Sporting. Não gosto de ver futebol na televisão e deixei de ir ao estádio desde que assisti a um episódio de violência. Há objectivos que quero concretizar antes de chegar aos 40 anos. Acabar a licenciatura em Engenharia de Segurança e lançar o livro sobre a mesma área. Também me quero permitir sonhar mais alto a nível profissional.
Sou um homem de fé. Falo muitas vezes com Deus, sozinho e em silêncio na igreja, quando tenho de tomar decisões. Peço, mas também agradeço. Saber agradecer foi algo que aprendi nos Bombeiros de Azambuja.
Desde que a minha filha nasceu tornei-me um homem de família. Reconheço que o peso das responsabilidades profissionais me suga muito tempo, mas com o avançar da idade tenho vindo a dar mais importância à família.

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