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Música Velha de Pernes fez 150 anos mas a data ficou por festejar 
Mário Gomes, Stany Gonçalves e Afonso Silveira falaram com O MIRANTE sobre o passado o presente e o futuro da Música Velha

Música Velha de Pernes fez 150 anos mas a data ficou por festejar 

A Sociedade Recreativa e Filarmónica Pernense Música Velha completou século e meio de vida em Dezembro de 2020. A data redonda não foi comemorada e as actividades previstas ficaram reféns da pandemia. Em 2021 os dirigentes da colectividade querem fazer o que não foi feito e celebrar os 150 +1.

A Sociedade Recreativa e Filarmónica Pernense (SRFP) Música Velha completou 150 anos a 25 de Dezembro. É a mais antiga do concelho de Santarém e uma das mais antigas do distrito em actividade. Em tantos anos de funcionamento nunca antes a colectividade se deparou com um ano tão desanimador como 2020, com muitas actividades previstas mas muito poucas realizadas. Ainda assim, os seus dirigentes não esmorecem e o mote para 2021 é “fazer o que ficou por fazer”.
É este o espírito de Stany Gonçalves, Mário Gomes e Afonso Silveira, três dirigentes da Música Velha com quem O MIRANTE conversou no final de tarde da última quarta-feira do ano 2020.
Mário começou como tesoureiro aos 18 anos, hoje, aos 70, é presidente da mesa da assembleia. Stany, de 45 anos, preside à sociedade desde 2015, cargo que já ocupou no início dos anos 2000, tendo também sido director em finais dos anos 90. Afonso, 39 anos, é presidente do conselho fiscal, e integra a SRFP desde 1999.
Apesar da diferença de idades têm em comum o facto de alguns dos seus ascendentes terem feito parte do núcleo de sócios que em 1947 adquiriu o terreno onde se construiu a Música Velha, no centro da vila de Pernes. Foram eles (o pai de Mário, o avô de Stany e muitos outros) que com as próprias mãos construíram o edifício, aos fins-de-semana e depois do dia de trabalho. Foi assim que conseguiram o espaço que se mantém até hoje, constituído por um bar, na cave do edifício, e um salão, com palco, no piso térreo. Antes frequentavam casas arrendadas à Santa Casa da Misericórdia de Pernes e, como dizem, “andavam sempre a saltitar”.

Estatutos de outros tempos
A diferença de idades leva também os dirigentes a encarar de forma distinta os estatutos de 1946 e ainda em vigor na Música Velha. Mário considera que está na altura de mudar os estatutos nos quais, além de mandatos anuais, se prevê que os sócios têm que ter pelo menos 21 anos, que as senhoras só podem entrar se acompanhadas por um elemento do sexo masculino ou que os chapéus têm que ser tirados à entrada da sede. Stany acha graça a estes estatutos que fazem parte da história da sociedade e não se incomoda que continuem a vigorar, pois “a lei geral prevalece e, por isso, não têm aplicação prática”.
Uma das propostas de alteração é a de eleições de dois em dois anos. Stany afirma que a SRFP é “uma casa difícil”, constituída por gente muito jovem, para quem um ano é uma eternidade. “Há sempre muito trabalho e tudo é feito pelos directores. O Bar do Sócio é gerido por eles, são eles que fazem o atendimento, as encomendas, a limpeza do espaço, tudo. Depois há as actividades que, na sua preparação, requerem muita entrega. Um ano não é por isso pouco tempo para um mandato na colectividade”, refere, acrescentando que muitos desistem antes de acabar o ano. Reconhece, no entanto, que na questão prática da gestão um ano é um período curto para um mandato.

Novas actividades pensadas para cativar os mais jovens
A banda filarmónica que inicialmente deu nome à Sociedade Recreativa e Filarmónica Pernense terminou por volta dos anos 50 do século XX, depois seguiu-se a trupe de jazz “Rouxinóis do Alviela”, que terminou na década de 60. Nos anos 60, 70 e 80 houve teatro na Música Velha. Entre 2000 e 2010 voltou a haver, com algumas peças encenadas pelo filho de Mário, João Gomes. Nenhuma dessas actividades está activa na Música Velha, mas surgiram outras, como o “Rock da Velha”, pensado para cativar os mais jovens. Começou pequenino em 1999 e foi crescendo. Por ali já passaram nomes como os Moonspell, Sacred Sin, Bizarra Locomotiva ou os escalabitanos Vulture.
Ainda como forma de cativar os jovens foi pensado um novo evento, o “Velha Sounds”, um festival de DJs. A associação tem também pilates e karaté e um encontro anual de sócios. Para assinalar o 150º aniversário estava prevista a actuação da Orquestra Santos Rosa e uma homenagem aos sócios mais antigos. “Até isso nos foi tirado. Este ano faleceram os seis primeiros. Ficou o meu tio-avô, o nonagenário João Duarte Félix Escabelado, neste momento sócio número um”, afirma Stany.
Parados desde Março, só em Outubro reabriram o Bar do Sócio, esporadicamente, aos sábados e domingos à tarde. Em todos estes meses a única actividade efectuada no salão foi uma recolha de sangue a 5 de Outubro, lembra Mário, pedindo desculpa por puxar a brasa à sua sardinha, pois é ele o presidente do Grupo de Dadores de Sangue de Pernes. “Este ano, se for possível, e para manter a data redonda assinalaremos os 150 anos mais um”, afirma confiante o presidente da direcção.

Casa nova à vista
Além das actividades que ficaram em suspenso no ano passado, os dirigentes da SRFP têm como objectivo para 2021 a concretização da compra do edifício contíguo à Música Velha. O objectivo é adquirir a propriedade sem hipotecar o futuro da associação. Vão, por isso, apelar aos sócios (cerca de meio milhar, mas apenas metade activos e pagantes de uma quota anual de seis euros) a donativos para a compra do imóvel que terá também o apoio monetário da Câmara de Santarém, da Junta de Freguesia de Pernes e da Misericórdia de Pernes (herdeira de todo o património da Música Velha, em caso de dissolução). Afonso Silveira realça que esta é também uma forma de aproximar e integrar os sócios e de aprofundar o seu sentimento de pertença a esta colectividade.

Um aniversário simbólico e um nome emblemático

Ninguém sabe qual a data oficial de formação da Sociedade Recreativa Filarmónica Pernense, contudo optou-se por assinalar o aniversário a 25 de Dezembro porque era nesse dia que, dizem “os da velha”, os directores traziam as sobras da consoada e abriam a porta a toda a gente. Era uma altura difícil, havia muita fome em Pernes, e este gesto era muito apreciado pela população. Com o passar dos anos instalou-se a tradição. Já o nome “Música Velha” sabe-se bem a origem. Surgiu “recentemente”, há cerca de 70 anos. Foi por volta de 1950 que, como explica Mário Gomes, vários músicos da SRFP saíram e criaram outra colectividade, a Sociedade Musical União Pernense, com os mesmos fins. “Como esta era mais antiga e a outra era nova começou-se a chamar ‘Música Velha’ a esta e ‘Música Nova’ à outra”. Antes destas colectividades existiu na vila a “Velha Guarda”, a Banda de Pernes que deu origem à Sociedade Filarmónica.

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