Tenho assistido às sessões mediáticas de vacinação. Homens de camisa meio despida a mostrar barriguinhas avantajadas e troncos mais ou menos peludos e senhoras mais compostinhas e recatadas no momento de serem injectadas para a fotografia ou para a reportagem televisiva.
Por trás do cenário montado para a propaganda da vacinação, imagino dezenas e dezenas de outros médicos, enfermeiros e auxiliares a tratar de doentes “não Covid agora e Covid daqui a umas horas”, sem tempo para poses sob o olhar atento de políticos ou jornalistas, ou então de zaragatoa enfiada no nariz de oito em oito dias porque “os doentes não Covid agora e Covid daqui a umas horas”, vão infectando a torto e a direito, longe da famosa linha da frente.
Quem é que os políticos querem enganar ao dar prémios aos profissionais de saúde que estiveram nos centros Covid e varrendo para o esquecimento os que, todo o tempo, estiveram a tratar os doentes, antes deles serem transferidos para a linha da frente e numa altura em que ainda não se sabia que estavam infectados apesar de já o estarem?
Os responsáveis dos hospitais da região e os chefes de serviços, nomeadamente dos serviços de internamento, sabem do que estou a falar.
Guilherme Maria Franco