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O imaginativo vereador Dias, as actas com reportagens do exterior e a legalização do mau serviço

Voluptuário Serafim das Neves
Os nossos problemas com a internet lenta ou com falhas vão continuar, mas a partir de agora e até ao fim do confinamento passam a ser problemas autorizados pelo Estado, o que faz toda a diferença.
O decreto que regula o estado de emergência permite que as operadoras façam o que quiserem, mas agora de forma legal. E recebendo o mesmo ao fim do mês, claro. É simpático. E ainda há quem diga que o Governo não apoia as empresas. Ai não que não apoia! Pelo menos as de telecomunicações, apoia!
Mas a legalização das falhas no fornecimento de serviços também acaba por nos beneficiar. Como agora não vale a pena reclamar, as horas inúteis que passávamos ao telefone, a ligar e a desligar o rooter e a box, ao ritmo das ordens do pessoal do apoio técnico, vão poder ser aproveitadas para outras actividades. E vamos ter menos stress. Ganhamos qualidade de vida, digamos assim.
No meio disto tudo o pior problema é a possibilidade de deixarmos de poder ver as reuniões de câmara online através do youtube. Isso sim, é uma tragédia, logo agora que já nos estávamos a habituar a tão maravilhosos espectáculos.
Foi através do youtube, por exemplo, que descobri que a animação política da América chegou a Abrantes. Na última reunião do executivo municipal, um dos vereadores da maioria PS, Luís Dias, entusiasmou-se e disse que o homem que na semana anterior tinha entrado, sala dentro, de cajado em riste, para zurzir o presidente, tinha sido incentivado a dar aquele espectáculo pelo vereador do Bloco de Esquerda, Armindo Silveira.
O visado pela acusação ficou espantado por o outro o estar a confundir com Trump e a equiparar o edifício Pirâmide, onde decorreu a reunião, ao Capitólio, mas não havia razões para espanto. Toda a gente sabe que, quando se trata de política, cada um pinta as cores que quer e o vereador socialista/fantasista, aqui só para nós, devia estar a tentar engrandecer a sua terra, além de, provavelmente, estar a treinar para ser uma espécie de Nancy Pelosi autárquica.
Embalado artisticamente pela veia artística do socialista Dias, o vereador Rui Santos, do PSD, aproveitou para até convidar Armindo Silveira a imaginar e certificar uma cena passada fora da sala de reuniões, que vinha descrita na acta com todos os pormenores, mas o eleito do BE não teve asas para tamanho voo e acabou por não subscrever a história alegando que não a viu como se isso tivesse alguma importância. Enfim, ali por aqueles lados há espíritos que se elevam, como o do Dias e do Rui Santos e outros que nem levantam os pés do chão, como o do Silveira.
Mas mesmo sem a assinatura do Silveira de plúmbeo espírito a acta foi aprovada, abrindo-se uma nova técnica de fazer relatos de reuniões municipais em Abrantes. A partir de agora, as actas vão passar a incluir o que se passa dentro da sala, mas também fora da sala, tipo reportagens do exterior, como a passagem de um camião que faça tremer as paredes, o ladrar de um cão que interrompa algum discurso ou mesmo a descarga de um autoclismo de alguma casa-de-banho próxima que afecte o pensamento de algum dos intervenientes.
Saudações imaginativas
Manuel Serra d’Aire

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