Trabalhadores da Fleximol dizem que empresa podia ter sido salva
Insolvência da fábrica do concelho do Cartaxo atira uma centena de trabalhadores para o desemprego. Alguns funcionários acreditavam que era apenas mais um mau momento que seria ultrapassado, mas os credores não viram viabilidade na empresa.
João Carlos Rosa, 58 anos, é o funcionário número 3 da Fleximol. Entrou na empresa quando esta começou a laborar, há cerca de 40 anos, e atravessou diversos períodos de dificuldades. Achava que este era mais um que, à semelhança das outras vezes, também seria ultrapassado. Não esconde a tristeza com o encerramento da fábrica, situada em Vila Chã de Ourique, concelho do Cartaxo. “Fez-se muita coisa boa durante todos estes anos e agora ficamos sem nada. Havia condições para continuar. Houve alguma má gestão por parte da administração nos últimos anos”, lamenta.
Há cerca de uma década que a Fleximol se deparava com dificuldades, sobretudo nos últimos dois anos, mas a maioria dos trabalhadores acreditava na sua recuperação. “Os problemas intensificaram-se nos últimos dois anos fruto de algumas mexidas a nível de administração e houve alguma má gestão que levou a este desfecho”, diz João Paixim, 39 anos, que trabalhava há 22 anos na Fleximol. Como os seus colegas, soube na segunda-feira, 11 de Janeiro, do encerramento da empresa na sequência do processo de insolvência decretado a meio do ano passado pelo Juízo do Comércio do Tribunal de Santarém.
Os próximos meses vão ser complicados, prevê Luís Simões, 46 anos. Trabalhava na empresa há 20 anos e diz que neste momento existem poucas oportunidades de trabalho, mas vai procurar emprego na sua área. Não foi novidade quando soube do fecho da fábrica, embora tivesse esperança. “Esperava que o plano de reestruturação da empresa funcionasse, mas a fuga de clientes e outras situações contribuíram para isto. Agora é levantar a cabeça e seguir em frente”, refere.
A Fleximol fechou após 40 anos de actividade. Os credores não viram condições para a recuperação da empresa de suspensões para veículos ficando no desemprego uma centena de trabalhadores. A Câmara do Cartaxo promoveu, na quarta-feira, 13 de Janeiro, uma reunião com alguns trabalhadores e elementos do Instituto de Emprego e Formação Profissional, Segurança Social e o administrador da insolvência, com vista a “apoiar os trabalhadores em todos os procedimentos burocráticos necessários, quer ao apoio social, quer ao efectivo cumprimento de todos os seus direitos, no âmbito do direito de trabalho, que lhes devem ser assegurados”.
Um revés para economia do Cartaxo
O presidente da Câmara do Cartaxo, Pedro Magalhães Ribeiro, admitiu a O MIRANTE, momentos antes da reunião, que decorreu no Centro Cultural do Cartaxo, que o encerramento da Fleximol é um revés para a economia do concelho. “Era uma das maiores empresas do concelho, que empregava muitas pessoas da terra e por isso sempre acompánhamos a situação da empresa”, afirmou.
A empresa já tinha passado por um processo de lay-off há 10 anos quando se começaram a sentir dificuldades financeiras. A empresa fornecedora da Mitsubishi e Toyota, depois de um período em que tentou recuperar, voltou a dar preocupações em 2019 e a administração pediu a insolvência no dia 10 de Julho de 2020. A sentença a declarar a insolvência foi proferida a 14 de Julho. Na altura a Câmara do Cartaxo disse que o encerramento “teria repercussões na economia local” e nas famílias, que já sofrem com a pandemia.