Variante ferroviária a Santarém descarrilou e Governo acena com obras menores
Projecto estruturante, falado há muitos anos, para desviar os comboios das instáveis encostas da cidade está fora das prioridades do Governo, que vai apostar numa nova linha de alta velocidade entre Lisboa e Porto. Ministro das Infraestruturas prometeu aos autarcas obras no troço da Linha do Norte que atravessa Santarém.
A construção de uma variante ferroviária a Santarém, há muito falada, ambicionada por autarcas e prometida pelo Governo, foi chutada para as calendas. Em alternativa, o ministro das Infraestruturas adoçou a boca da delegação de autarcas escalabitanos, com quem reuniu no final de Dezembro, acenando com a supressão ou melhorias nas passagens de nível de Vale de Santarém, Peso e Assacaias e também a remodelação da estação ferroviária que serve a cidade. Tudo por conta da empresa pública Infraestruturas de Portugal
Parece assim colocada uma pedra sobre um assunto que suscitou reacções indignadas de autarcas quando se soube que a variante ferroviária a Santarém e a modernização da Linha do Norte entre Vale de Santarém e Entroncamento tinham sido excluídas do Programa Nacional de Investimentos (PNI) 2030, onde tinha figurado numa versão preliminar.
Da indignação passou-se a um estado de aparente resignação e, na última reunião de câmara de Dezembro, o presidente do município, Ricardo Gonçalves (PSD), referiu que na base da exclusão desse projecto estruturante do PNI 2030 esteve um “parecer decisivo” do Conselho Superior de Obras Públicas. A grande aposta do Governo é na criação de uma nova linha de alta velocidade entre Lisboa e Porto - com traçado a Oeste da Serra dos Candeeiros, logo afastada de Santarém.
A delegação de autarcas de Santarém que reuniu com o ministro Pedro Nuno Santos, composta pelo presidente da câmara, pela vice-presidente Inês Barroso (PSD), pelo vereador Rui Barreiro (PS) e pelo presidente da assembleia municipal, Joaquim Neto (PS), trouxe intenções de investimento nalguns pontos problemáticos da linha, como as passagens de nível de Assacaias (que vai ser suprimida), do Vale de Santarém e do Peso - actualmente encerrada devido aos acidentes mortais que ali ocorreram e que também deve ser suprimida. “Interessa é não deixar cair estas intenções”, disse Ricardo Gonçalves.
Segundo o presidente da Câmara de Santarém, o ministro das Infraestruturas ficou de dar informações e explicações mais detalhadas em resposta às moções aprovadas pela Assembleia Municipal de Santarém. “É um ministro que nos ouve, que trabalha e que dá sempre respostas”, declarou Ricardo Gonçalves.
Bloco não deixa
morrer o assunto
Quem não se conforma é o Bloco de Esquerda que já manifestou a intenção de avançar com um projecto de resolução na Assembleia da República, para tentar não deixar morrer o assunto. O partido viu também serem aprovadas na Assembleia Municipal de Santarém, por unanimidade, em Setembro e Dezembro de 2020, duas moções onde se exige a realização da obra.
O Bloco de Esquerda de Santarém afirma ainda que os resultados da reunião com o ministro são “uma desilusão” e que a decisão do Governo fica muito aquém das expectativas da assembleia municipal e dos mais de mil subscritores da petição popular posta a circular, acrescentando que “a complacência dos vereadores e presidente de câmara, de PSD e PS, perante esta atitude do Governo é deveras enigmática”.