A fé é universal mas a palavra de Deus é difícil de entender numa língua estranha
Para trabalhar na agricultura chegam ao Ribatejo muitos asiáticos com religiões diversas
O Dia Mundial da Religião foi assinalado a 21 de Janeiro e O MIRANTE foi descobrir algumas igrejas para além da católica. Em Vila Chã de Ourique, Cartaxo, visitou uma originária da Austrália. Em Minde, Alcanena, falou com um padre indiano que chegou a celebrar uma missa em siro-malabar na Azinhaga, concelho da Golegã.
Nos últimos anos têm chegado ao Ribatejo, cada vez mais estrangeiros, a maioria dos quais asiáticos, para trabalhar nos campos. Foi este o motivo que trouxe Aby Thomas, natural do Kerala, no extremo sudoeste da Índia, até Santarém, onde acabou por fundar a empresa Aby Thomas - Prestação de Serviços Agrícolas, que fornece mão-de-obra para a agricultura.
Para além das necessidades materiais, os cerca de trezentos trabalhadores inscritos na empresa de Aby Thomas têm necessidades espirituais, para as quais não encontram resposta na região onde predominam as igrejas cristãs, nomeadamente a católica e algumas evangélicas.
Muitos são naturais do Paquistão, do Bangladesh e de outros países da Ásia Meridional e, entre eles, há hindus, sikhs, muçulmanos e católicos.
Os hindus e os sikhs têm que se deslocar a Lisboa, onde fica o local de culto mais próximo de Santarém, o templo Radha Krishna, na Alameda Mahatma Gandhi, no Lumiar. Para os muçulmanos há, segundo Aby, um local de culto no Vale de Santarém, ou, em alternativa, podem deslocar-se ao Bairro Icesa, em Vialonga, Vila Franca de Xira.
Já os católicos, como Aby e boa parte dos seus empregados, são presença mais ou menos assídua nas missas da capital ribatejana. Aníbal Vieira, vigário da Diocese de Santarém, confirma a O MIRANTE que nas eucaristias da Sé e da igreja de Marvila há frequentemente indianos. Uns individualmente, outros, em menor número, em família.
Também Pedro Marques, pároco no Pombalinho e Azinhaga, nota a presença frequente de indianos católicos nas suas missas. Mas embora a fé seja universal a palavra de Deus pode ser difícil de entender por quem não conhece a língua. Esse foi o ponto de partida para a organização de uma missa em siro-malabar na Azinhaga, em Novembro de 2019.
Um padre indiano em Minde
Apesar de ter a noção de que existem cada vez mais cidadãos indianos, paquistaneses e bengalis em Portugal, o padre Joseph Sebastian, indiano, a residir em Minde, e responsável pelo acto litúrgico de Novembro de 2019 na Azinhaga, afirma a O MIRANTE que tem pouco contacto com eles.
Esse encontro não se repetiu na região “porque os emigrantes não se organizaram nesse sentido”, refere o pároco, acrescentando que se trata de pessoas que “passam cá uma temporada a trabalhar e por vezes mudam de local de residência durante essa temporada, acabando por não se fixar”.
Outro dos motivos, aponta, prende-se com o género. Joseph confessa que a fé se cultiva e manifesta mais entre as mulheres e que, maioritariamente, os grupos de imigrantes são constituídos por homens.
Joseph Sebastian é natural da região do Kerala. Veio para Portugal há mais de 20 anos e pertence à Congregação do Verbo Divino (ver caixa). Chegou como aluno seminarista. Aprendeu a língua e concluiu o curso de teologia na Universidade Católica.
Esteve oito anos em Tortosendo (Covilhã) e quatro anos em Nisa, antes de chegar a Minde, onde permanece como pároco há sete anos. Em breve deve mudar para outra região. Segundo as normas da sua congregação a permanência num local raramente ultrapassa os seis a sete anos. Não o incomoda, é uma forma de ir conhecendo o país onde tem o desejo de permanecer.
Congregação do Verbo Divino
Fundada pelo padre Arnaldo Janssen, em 1875, na Holanda, a Congregação do Verbo Divino, uma comunidade religiosa e missionária de leigos e clérigos provenientes de diversos países e culturas, com o objectivo de dar testemunho da universalidade da Igreja e da fraternidade, conta actualmente com mais de seis mil membros, sendo uma das maiores congregações masculinas.
A maior parte do grupo é constituída por indonésios (1.502), logo seguidos pelos indianos (822) e filipinos (526). Em 2019 residiam em Portugal perto de meia centena de padres da Congregação do Verbo Divino, segundo dados do Anuário Católico, espalhados pelas localidades onde a congregação está presente, como Minde e Fátima, na região, ou Lisboa, Covilhã (Tortosendo), Guimarães, Aveiro, Nisa e Almodôvar.